Durante visitas a 11 cavernas diferentes na Isla Grande, a ilha principal do arquipélago de Porto Rico, pesquisadores coletaram 61 pigmentos em arte pictográfica. Entre diversos desenhos, havia um leão, que pode ter sido feito há 500 anos por um africano escravizado levado pelos espanhóis.
Os achados foram divulgados no último dia 17 de outubro em comunicado e apresentados no dia seguinte na reunião GSA Connects 2023, da Sociedade Geológica da América, ocorrida em Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores refinaram a datação das artes rupestres a fim de identificar a data do pigmento nas pinturas. Pesquisas anteriores datavam essa arte com base nas idades de artefatos próximos nas cavernas, mas essas não podiam refletir com precisão o momento real da criação das obras.
Nas cavernas de Porto Rico, existem três tipos de arte: petroglifos (entalhados na rocha), piroglifos (desenhados a partir dos restos queimados de objetos) e pictogramas ou desenhos de cavernas. O geofísico Angel Acosta-Colon, da Universidade de Porto Rico (UPR), explica que os desenhos pictográficos são feitos em material orgânico preto, perfeito para datação por radiocarbono.
Segundo Acosta-Colon, os pictogramas são recursos limitados: se tocados, as gerações futuras os verão alterados. Como a coleta destrói uma pequena área da arte, ele explica que são coletadas amostras de 1 a 2 mg das marcações pretas.
As amostras da pesquisa foram enviadas para o Centro de Estudos de Isótopos Aplicados (CEIA) da Universidade da Geórgia, nos EUA, para uma datação por carbono-14. Os primeiros pictogramas de formas abstratas e geométricas foram datados de 700 a 400 a.C., coincidindo com a Era Arcaica.
"Isso é muito importante para nós, porque quando a Invasão Europeia chegou a Porto Rico, eles colocaram em um documento que nossa população pré-colonial estava lá por apenas 400 a 500 anos", afirma Acosta-Colon. "Portanto, isso prova que estávamos aqui [milhares] de anos antes da Invasão Europeia, e isso está documentado na ciência, não na arqueologia de contexto."
Além disso, o estudo revelou desenhos com formas simples de corpos humanos feitos entre 200 e 400 d.C. "Temos lacunas de tempo e isso é interessante porque não sabemos o que aconteceu", diz o geofísico, acrescentando que essas lacunas podem ser preenchidas com mais coletas ao redor da ilha.
Havia ainda desenhos mais detalhados de seres humanos e animais que foram criados entre 700 e 800 d.C. Tais obras continuaram sendo feitas até a colonização europeia (por volta de 1500 d.C.) e incluem imagens de cavalos, navios e outros bichos.
Uma dessas obras é a imagem de um leão. "Mas em Porto Rico não temos leões", observa Acosta-Colon. Ele e seu colega, o arqueólogo Reniel Rodríguez, supõem que o felino só pode ter sido visto por africanos escravizados levados por espanhóis à ilha no Caribe.
Essa hipótese, apesar de controversa, tem vários indícios. "A idade da arte é por volta de 1500", diz Acosta-Colon. "Temos dados para corroborar o que, eu acredito, seja uma das primeiras artes de escravizados em cavernas de Porto Rico."
O geofísico acrescenta que entender quando esses pictogramas foram criados ajuda a explicar a história do povo porto-riquenho. "Normalmente, recebemos a versão da história europeia de Porto Rico, mas essa é uma evidência direta de que a história em Porto Rico não começou com a Invasão Europeia, começou muito, muito antes", ele diz.