Uma equipe internacional de pesquisadores concluiu que material genético neandertal pode determinar nossa fisionomia. "Descobrimos que o DNA herdado dos neandertais influencia o formato de nossos rostos. Isso pode ter sido útil para nossos ancestrais, pois foi transmitido por milhares de gerações até esta", comenta, em nota, o coautor Kaustubh Adhikari, da University College London (UCL).
Publicado no periódico Communications Biology em 8 de maio, o artigo analisou dados de mais de 6 mil voluntários em toda a América Latina, com ascendência europeia, nativo-americana e africana. As informações utilizadas fazem parte do Consórcio para a Análise da Diversidade e Evolução da América Latina (Candela), liderado pela UCL, que reuniu participantes do Brasil, Colômbia, Chile, México e Peru.
Os autores, então, compararam as informações genéticas com as fotografias dos rostos dos voluntários. O objetivo era entender como diferentes traços faciais estavam associados à presença de diferentes marcadores genéticos. Nas imagens, os pesquisadores observaram as distâncias entre pontos nos rostos, como a ponta do nariz ou a borda dos lábios.
Isso possibilitou a descoberta de que muitas pessoas com ascendência nativo-americana apresentam influência genética neandertal no gene ATF3, que , de acordo com o estudo, contribui para o aumento da altura nasal. Além da amostragem americana, os pesquisadores utilizaram outras três populações para replicar os dados: uma coorte chinesa, outra europeia e uma africana. Dessas, a chinesa também apresentou herança neandertal no gene ATF3.
O gene que leva a um nariz mais comprido pode ter sobrevivido graças à seleção natural. Isso porque, os autores sugerem que existe uma vantagem por trás desse material genético. "Há muito se especula que a forma de nossos narizes é determinada pela seleção natural; já que nossos narizes podem nos ajudar a regular a temperatura e a umidade do ar que respiramos, diferentes formas de narizes podem ser mais adequados para os diferentes climas em que nossos ancestrais viveram”, comenta o primeiro autor Qing Li, da Universidade de Fudan, na China.
Para os autores, o gene ATF3 pode ter sido herdado dos neandertais com intuito de ajudar os humanos a se adaptarem a climas mais frios, como quando nossos ancestrais se mudaram da África e se espalharam por outras partes do mundo.
Este é o segundo estudo feito pela equipe a relacionar o DNA de hominídeos extintos com o formato do nosso rosto. Em 2021, os pesquisadores publicaram um artigo sobre como o material genético de denisovanos pode contribuir para a forma dos lábios.