A velocidade da comunicação humana, feita entre regiões de nosso cérebro por meio de neurônios, é desenvolvida desde da infância ao longo da adolescência até a meia-idade, contudo ainda não se sabia como o avanço da idade afetava a velocidade neuronal. Um estudo recente publicado no Nature Neuroscience feito por pesquisadores da Mayo Clinic, dos Estados Unidos com especialistas holandeses pode responder essa questão.
A pesquisa mediu a latência de resposta em 74 indivíduos, que tinham entre 4 e 51 anos. A medição se deu por meio de pares de eletrodos que, a partir de um breve pulso elétrico, mediram o tempo que o sinal demorou para alcançar partes distintas do cérebro. A velocidade de transmissão cerebral é medida em milissegundos, uma unidade de tempo igual a um milésimo de segundo.
Para o experimento, os pesquisadores utilizaram de medidas intracranianas feitas em uma pequena população de pacientes que tinham eletrodos implantados para o monitoramento de epilepsia no Centro Médico Universitário de Utrecht, na Holanda. Não houve um método estatístico para a escolha de voluntários.
Durante a coleta de dados, observou-se que existem atrasos de resposta nas regiões conectadas do cérebro e que eles aumentam ao longo da infância e até o começo da idade adulta, havendo uma estabilização por volta dos 30 a 40 anos.
Com as medições feitas, foi possível descobrir que a velocidade de transmissão continua a aumentar até o começo da vida adulta. “O conectoma humano amadurece durante o desenvolvimento e envelhecimento, e pode ser afetado pelas doenças. Todos esses processos podem afetar a velocidade do fluxo de informações no cérebro”, comenta a Dra. Dora Hermes, engenheira biomédica da Mayo Clinic e autora sênior do estudo, em comunicado.
Os dados indicam que as velocidades de transmissão em adultos foram cerca de duas vezes mais rápidas em comparação com aquelas encontradas na infância e que, em pessoas com 30 a 40 anos, foi maior do que a encontrada em adolescentes.
Isso porque, ao medir a velocidade neuronal de viagem de um sinal entre as regiões frontal e parietal do cérebro de uma criança e de um adulto, houve diferenças. O tempo caiu pela metade no mais velho, na criança, o trajeto demorou 45 milissegundos, enquanto no adulto de 38 anos, a mesma medida foi tirada em 20 milissegundos. Para nível de comparação, um piscar de olhos leva entre 100 a 400 milissegundos.
No momento, os cientistas trabalham para caracterizar a conectividade orientada por estímulo elétrico no cérebro humano, com a próxima etapa sendo voltada a entender melhor a maneira como as velocidades de transmissão mudam com as doenças neurológicas. Existe uma colaboração entre os pesquisadores, neurocirurgiões pediátricos e neurologistas para entender como as doenças mudam as velocidades de transmissão em comparação com o que estaria considerado dentro da faixa normal para determinado grupo etário.
Os desdobramentos deste estudo são importantes para o melhor entendimento do desenvolvimento do cérebro. Isso pode ajudar os médicos a oferecerem terapias para tratar ansiedade, depressão e transtorno bipolar, uma vez que essas doenças podem aparecer no final da adolescência e no começo da vida a adulta.
“A compreensão fundamental da trajetória de desenvolvimento dos circuitos cerebrais pode ajudar a identificar períodos sensíveis de desenvolvimento nos quais os médicos poderiam oferecer terapias aos seus pacientes", afirma a Dra. Dora Hermes, autora sênior da pesquisa.