Biologia

Por Edward Narayan* | The Conversation

O mundo vivenciou, em julho, o mês mais quente da história desde o início dos registros. E é preciso frisar que o calor extremo não é apenas um desafio para os humanos – também traz sofrimento aos nossos amados animais de estimação.

A pesquisa da qual participei investigou como as alterações climáticas afetam o bem-estar dos animais, incluindo os de estimação. Meus colegas e eu usamos um conceito conhecido como “modelo dos cinco domínios”. Trata-se de uma estrutura baseada na ciência para examinar o bem-estar de um animal, a partir das premissas principais: nutrição, ambiente, saúde física, comportamento e estado mental.

O modelo avalia as respostas fisiológicas e comportamentais completas dos animais a fatores de estresse ambiental. Embora os efeitos das mudanças climáticas já tenham sido estudados anteriormente, o nosso levantamento é o primeiro a aplicar o modelo especificamente ao bem-estar dos animais.

Examinamos a literatura acadêmica e descobrimos que cães, gatos, peixes, aves e outros foram prejudicados em todas as alterações do clima nos cinco domínios de bem-estar. Isso ocorreu com os tipos selvagens e domesticados, entre os quais, os de estimação.

Então, vamos dar uma olhada sobre como as várias espécies de animais de estimação se saem em um mundo em aquecimento, e como podemos ajudá-los.

Peixes

Os peixes são “ectotérmicos” – isto é, usam fontes externas de calor para regular a temperatura do corpo. Assim, os peixes de estimação são vulneráveis a alterações na temperatura da água de um aquário doméstico. Em períodos de calor intenso ou extremo eles podem sofrer danos físicos. Por exemplo, aumentar a taxa metabólica – o que significa que eles precisam de mais oxigênio para respirar - ou causar alterações, como crescimento mais lento e a alimentação reduzida.

Controlar rigorosamente a temperatura da água é fundamental para quem tem aquário em casa — Foto: Pexels
Controlar rigorosamente a temperatura da água é fundamental para quem tem aquário em casa — Foto: Pexels

De acordo com as normas de piscicultura, a água em um aquário de interior deve ser mantida entre 20°C e 25°C (a menos que você esteja criando peixes tropicais). Dependendo do orçamento e do tamanho do aquário, pode-se usar um dispositivo para controlar a temperatura da água.

De qualquer forma, é importante monitorar regularmente a situação térmica da água e não deixar que o aquário fique perto de uma janela onde esteja exposto à luz solar direta para não esquentá-lo.

Deixar o aquário sem vigilância durante dias ou semanas no verão pode ser perigoso devido ao forte aquecimento natural da água. Ao sair de férias, considere chamar alguém para cuidar do seu aquário.

Pássaros

O estresse térmico pode alterar a fisiologia das aves. Por exemplo: numa pesquisa sobre uma população selvagem de pequenos pisco-de-peito-ruivo australianos - da família dos turdídeos, eles não se encontram no Brasil, mas um dos “parentes” mais próximos aqui é o sabiá - foi evidenciado que, durante uma onda forte de calor, as aves perderam massa corporal, abandonaram seus ninhos e algumas morreram. O alto grau de calor também pode causar comportamento anormal em aves de estimação, como arrancar penas, quando um pássaro bica repetidamente as penas de outro até que caiam.

Em clima quente, é preciso estar constantemente checando se a gaiola do pássaro está limpa e abastecida com comida e água. Se a ave estiver em uma gaiola ou aviário ao ar livre, certifique-se de que esteja na sombra. E um banho leve apropriado para pássaros ajudará seu amigo de penas a refrescar-se.

Cães

Cães e gatos podem sofrer em dias quentes. Especialmente, se forem mais velhos ou com sobrepeso, se tiverem pelo espesso e se tiverem focinhos curtos e/ou faces planas (o que restringe o fluxo de ar e dificulta o resfriamento).

O estresse provocado pelo calor pode causar hipertermia canina. Isso significa que a temperatura corporal do cão fica perigosamente quente.

Tutores destes animais domésticos devem ficar atentos aos primeiros sinais de estresse térmico, como respiração ofegante excessiva e movimentos erráticos. Estes sintomas podem aumentar rapidamente, levando a insolação e possível morte.

Mais de 80% dos donos de cães relatam exercitar seus cães com menos vigor, ou por períodos mais curtos, durante o tempo quente. Isso pode ajudar a evitar doenças relacionadas ao calor. Mas não se deve reduzir muito os níveis de atividade, pois isso pode levar a outros problemas de saúde. Basta programar os passeios de forma a evitar o pico de calor do dia.

Evite deixar cães sozinhos em veículos porque eles podem superaquecer facilmente. Na verdade, é melhor deixar o cachorro dentro de casa em um dia quente, desde que ele tenha um local fresco para descansar e bastante água – talvez até com cubos de gelo. E os cães adoram refrescar-se em uma piscina infantil ou sob um aspersor – aquelas peças que jorram gotinhas de água do alto para baixo, muito usadas na agricultura.

Se você levar seu cachorro para passear em um dia quente, leve também um recipiente com água fresca para ele. E não se esqueça de aplicar uma quantidade moderada de protetor solar para animais de estimação na pele rosada exposta de seus cães, como pontas das orelhas e nariz.

Gatos

Como outros animais, os gatos podem sobreaquecer em climas quentes. Os sintomas incluem respiração ofegante, infestação de pulgas e pulso acelerado. Como acontece com outros animais, se há suspeita de que o gato está sofrendo de insolação, deve-se procurar um veterinário imediatamente.

É provável que a mudança climática e o calor ajudem na disseminação de parasitas e doenças, incluindo as transmitidas por carrapatos, infestações por pulgas e dirofilariose (verme do coração). Isso coloca cães e gatos em risco.

Observe atentamente os primeiros sinais de hipertermia em gatos e cães — Foto: Pexels
Observe atentamente os primeiros sinais de hipertermia em gatos e cães — Foto: Pexels

Em tempos aquecidos, o conselho para os donos de gatos é semelhante ao dos donos de cães: assegure-se de que eles têm muita sombra e água à disposição, sempre. E ponha protetor solar nas pontas das orelhas e no nariz, especialmente se o gato for branco.

Se possível, mantenha o felino dentro de casa durante a parte mais quente do dia. Certifique-se de que pelo menos um cômodo esteja fresco e ventilado. E em uma onda de calor, escolha brincar com seu gato de manhã cedo ou à noite, quando a temperatura estiver resfriada.

Uma mão humana amiga

Embora os humanos tenham a capacidade de entender e se preparar para as mudanças climáticas, os animais de estimação precisarão de ajuda para lidar com as alterações. Isso inclui não apenas os animais de estimação listados acima, mas também outros, como répteis, porquinhos-da-índia e coelhos. À medida que ondas de calor e outros eventos climáticos extremos se tornam mais comuns, cabe a nós manter nossos animais de estimação seguros.

*Edward Narayan é professor de ciência animal na Universidade de Queensland, na Austrália. Este artigo foi publicado originalmente no portal The Conversation.

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