Mover o corpo para se comunicar de forma não verbal com outros indivíduos é algo que nós, humanos, fazemos com frequência. Mas essa não é uma capacidade exclusiva nossa. Ela já foi vista, de diferentes maneiras, em outros animais – como chimpanzés, bonobos, corvos e peixes. Agora, pesquisadores detectaram esse fenômeno entre pássaros chapim-japoneses (Parus minor), conforme consta em artigo publicado nesta segunda-feira (25) na revista Current Biology.
Embora várias espécies utilizem o corpo para a comunicação, isso não ocorre da mesma forma em todos os casos. Corvos e peixes, por exemplo, conseguem apontar para objetos ou outras coisas de interesse. Esses são gestos dêiticos, considerados mais simples. Já os gestos simbólicos são mais complicados, pois requerem habilidades cognitivas complexas.
Quando um ser humano abre a mão e a direciona para algum local (como uma porta) indicando que alguém pode passar primeiro, essa pessoa está realizando um gesto simbólico. Pesquisadores da Universidade de Tóquio identificaram algo similar na espécie Parus minor: esses pequenos pássaros movem as asas para transmitir uma mensagem de “depois de você”, como se estivessem dando licença a seus parceiros.
![Pássaro da espécie Parus minor faz gesto com as asas para que parceiro entre antes no ninho. — Foto: Suzuki and Sugita, 2024/Current Biology](https://s2-galileu.glbimg.com/rv_-D1BT3arp4EazRgH3deng_Go=/0x0:300x169/600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/u/h/h9QlXbSnyYB5vkKbiirQ/400235322-2-.gif)
“Por 17 anos, eu estive envolvido no estudo dessas aves fascinantes. Não apenas elas utilizam chamados específicos para comunicar significados particulares, mas também combinam diferentes chamados em frases empregando regras sintáticas”, comenta o pesquisador Toshitaka Suzuki. “Essas vocalizações diversas me levaram a iniciar a investigação sobre o potencial uso de gestos físicos”, diz ele, em nota.
Para esse trabalho, os cientistas analisaram o comportamento de 16 chapim-japoneses (oito pares) criando filhotes em ninhos – cujas entradas são pequenas e ficam localizadas em cavidades de árvores. No total, foram avaliadas detalhadamente 320 visitas aos ninhos.
“Nós observamos que chapim-japoneses tremulam as asas exclusivamente na presença de um parceiro. E, diante desse comportamento, o parceiro quase sempre entrava no ninho primeiro”, relata Suzuki. Na maioria das vezes, o gesto foi feito por fêmeas, indicando que o macho teria prioridade — independentemente de quem chegou primeiro. Nos casos em que a fêmea não batia as asas, ela geralmente passava na frente.
Tal gesto foi classificado como simbólico pelos pesquisadores porque ele só ocorreu na presença de um parceiro, não foi feito após a entrada dele no ninho e serviu para estimular a passagem sem que houvesse contato físico. Além disso, eles concluíram que o gesto era direcionado ao parceiro, e não ao ninho, sugerindo que o gesto não serviria para apontar a posição de algo e, portanto, não seria dêitico.
“Existe uma hipótese de que andar em duas pernas permitiu aos humanos manter uma postura ereta, liberando as mãos para uma maior mobilidade, o que contribuiu para a evolução dos gestos”, diz Suzuki. “De maneira similar, quando pássaros se empoleiram em galhos, suas asas ficam livres. Acreditamos que isso facilite o desenvolvimento da comunicação gestual”, explica o pesquisador.