Em nota, o Ibama ressalta que "a exposição de espécimes silvestres como pets em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira. centímetros de altura, grande capacidade de socialização e estilo de vida tranquilo, vira e mexe, o animal faz sucesso nas redes sociais.
Com tamanho apelo popular à espécie, não é de se estranhar que um influenciador digital tenha ganhado visibilidade divulgando vídeos de uma capivara “de estimação”. Filó, como é conhecida na internet, estrelava dezenas de cenas passeando, dormindo e tomando banho de rio ao lado de Agenor Tupinambá, que já soma 2,2 milhões de seguidores no Instagram e 1,9 milhão no TikTok.
Um animal com o jeitinho brasileiro
A capivara é um animal de ocorrência natural da fauna tropical da América Latina, sendo encontrada desde o Panamá até a Argentina. Tida como o maior roedor do mundo, é catalogada em duas espécies: Hydrochoerus hydrochaeris e Hydrochoerus isthmius. O seu habitat tem como característica mais importante a existência de cursos d’água permanentes. No Brasil, há grandes populações no Pantanal, na ilha de Marajó e nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
Na capital paulista, por exemplo, mais de 100 capivaras residem nas marginais Tietê e Pinheiros, principais vias de transporte de pessoas e carga do perímetro urbano. Essas capivaras paulistanas, inclusive, levam nomes — como Wolverine, Ricardão e Beiçola — que foram dados pela ONG Projeto Centro de Apoio e Proteção Animal (CAPA), que promove visitas periódicas para cuidar dos animais.
Divididas em grupos que variam de 10 a 40 membros, são lideradas por um único macho e ocupam espaços entre 2 e 200 hectares. Alimentam-se juntas, basicamente de grama, pastando preferencialmente ao entardecer ou amanhecer.
Exercendo poucas atividades durante as horas mais quentes do dia e se locomovendo lentamente, essas espécies são bastante calmas e mansas. Por conta disso, são reconhecidas como sociáveis e têm um carisma que lhes rende brincadeiras e “memes”.
Não à toa, em março deste ano, quando o cantor Lil Nas X veio cantar no Lollapalooza e tweetou sobre um encontro com uma família de capivaras na beira do rio Pinheiros, em São Paulo (SP), a publicação viralizou. A postagem, comparando o tamanho dos animais a “hamsters gigantes” recebeu quase meio milhão de curtidas e foi respondida por fãs, marcas e, até, políticos brasileiros.
Direitos animais
Carismática, Filó começou a gerar visibilidade a Tupinambá em suas redes sociais. Conforme ia crescendo nas plataformas digitais, mais atenção também recebia das autoridades governamentais.
Mesmo que, nos registros em vídeo, Filó aparente um temperamento tranquilo, como aquele tipicamente associado à espécie, ou ainda pareça ser “domesticada”, ela é um animal selvagem. Por isso, faz parte da fauna silvestre e é protegida por direitos, não podendo ser criada ou mantida em cativeiro.
Essas práticas são criminosas e previstas pelas leis ambientais. Justamente por isso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está investigando o influenciador, multado em mais de R$ 17 mil e denunciado por suspeita de abuso, maus-tratos e exploração animal não apenas com Filó, mas também com outras espécies em sua fazenda.
A notificação ao influencer foi embasada no Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). O documento destaca que é proibido “explorar ou fazer uso comercial de imagem de animal silvestre mantido irregularmente em cativeiro”.
No seu último desdobramento, a Justiça Federal determinou a devolução de Filó a Tupinambá no domingo (30/4), sendo obrigatória a apresentação periódica das condições de saúde do animal e o livre acesso dos órgãos ambientais para fiscalização. Até então, a capivara estava sob a custódia temporária do Ibama enquanto as investigações corriam.
O caso tomou proporção nacional e um grupo de apoiadores do influenciador chegou a fazer uma manifestação em frente à sede do Ibama em Manaus, exigindo a soltura imediata do animal. Uma deputada estadual, Joana D'Arc (União Brasil), chegou a invadir o local para tentar soltar a capivara à força, mas foi contida por seguranças.
Em nota, o analista ambiental do Ibama Roberto Cabral afirma que a discussão não se limita a Filó. “Trata-se de outra capivara, que teria morrido; de duas preguiças, sendo que uma delas morreu; de duas jiboias; de uma paca; de uma arara; dois papagaios; uma coruja; uma aranha”, comenta, fazendo referência a outros animais mostrados por Tupinambá em seus vídeos.
Em nota, o Ibama ressalta que "a exposição de espécimes silvestres como pets em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira."