Pesquisadores identificaram e contaram nanoplásticos em água engarrafada. Eles descobriram que, em média, um litro continha cerca de 240 mil desses fragmentos de plástico detectáveis — 10 a 100 vezes mais do que estimativas anteriores.
O estudo foi publicado na segunda-feira(8) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Os testes foram feitos com três marcas populares de água engarrafada vendidas nos Estados Unidos, analisando partículas plásticas de apenas 100 nanômetros de tamanho.
Microplásticos vs Nanoplásticos
Os nanoplásticos são partículas poliméricas com dimensões de 1000 nanômetros ou menos (ou abaixo de 1 micrômetro, a milésima parte de um milímetro). Eles são tão pequenos que podem passar pelos intestinos e pulmões diretamente para a corrente sanguínea e viajar para órgãos como coração e cérebro.
Já os microplásticos, que já foram encontrados em diversos locais, até mesmo durante cirurgias cardíacas e na placenta humana, são fragmentos com tamanhos de 1 micrômetro até 5 milímetros.
Em 2018, um estudo detectou uma média de 325 partículas de microplásticos em água engarrafada; pesquisas posteriores multiplicaram esse número muitas vezes. Mas os cientistas suspeitavam que havia ainda mais plástico do que eles haviam detectado.
![Ilustração de garrafa com pedaços de plástico microscópicos — Foto: Naixin Qian](https://s2-galileu.glbimg.com/xBc2QbZ59CAUyAB86MJXTePOfxY=/0x0:768x752/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/p/G/x0RAeISAix28SgiwqQ4Q/nanoplastic-image-768x752.jpg)
Presença de PET e poliamida
Como as estimativas não englobavam os nanoplásticos, os autores do novo estudo resolveram ir atrás disso. Eles utilizaram uma técnica chamada microscopia de espalhamento Raman estimulado, inventada por Wei Min, coautor da pesquisa e biofísico do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, em Nova York.
A técnica envolve sondar amostras com dois lasers simultâneos ajustados para fazer ressoar moléculas específicas. Mirando sete plásticos comuns, os pesquisadores criaram um algoritmo orientado por dados para interpretar os resultados. "É uma coisa detectar, mas outra saber o que você está detectando", disse Min, em comunicado.
Assim, eles encontraram nas amostras de água engarrafada de 110 mil a 370 mil fragmentos de plástico em cada litro, 90% dos quais eram nanoplásticos; o restante eram microplásticos.
![Uma pequena partícula de plástico poliestireno obtida por uma nova técnica microscópica. Tem cerca de 200 nanômetros de diâmetro, ou 200 bilionésimos de metro — Foto: Naixin Qian](https://s2-galileu.glbimg.com/CAw-815eZJZ1s1ixbRA7mkMPPJg=/0x0:768x755/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/H/j/uj9ejxTdSsKNYHbCwaAA/nano-image2-768x755.jpg)
Um dos materiais comuns era o polietileno tereftalato (PET), do qual muitas garrafas de água são feitas. No entanto, a quantidade de PET foi superada pela de poliamida, um tipo de nylon. Segundo Min, este plástico vem, por ironia, provavelmente de filtros plásticos usados para supostamente purificar a água antes de ser engarrafada.
Outros plásticos comuns detectados foram poliestireno, policloreto de polivinila e polimetil metacrilato, todos usados em vários processos industriais.
Mas, os sete tipos de plástico procurados representam apenas cerca de 10% de todas as nanopartículas encontradas nas amostras — e os cientistas não têm ideia do que são as restantes.
Se todas as partículas desconhecidas forem nanoplásticos, isso significa que poderiam chegar a dezenas de milhões por litro. Mas poderiam ser quase qualquer coisa, "indicando a composição complicada de partículas dentro da amostra de água aparentemente simples", de acordo com a pesquisa.
A equipe planeja estudar a água da torneira, que também já contém microplásticos, embora muito menos do que a água engarrafada. Eles também querem identificar partículas em amostras de neve e estão colaborando com especialistas em saúde ambiental para medir nanoplásticos em vários tecidos humanos, examinando seus efeitos no corpo humano.