Séries

Por Beatriz Herminio, com edição de Luiza Monteiro

O Brasil é um dos países de maior homogeneidade linguística do mundo – cerca de 98% da população fala português. Ao mesmo tempo, estamos também entre os lugares de maior diversidade linguística. Por aqui, são faladas mais de 250 línguas (sem contar os vários dialetos), segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Mas muitos não conhecem essa pluralidade do país. Daí porque a série documental Línguas da Nossa Língua, que estreia nesta terça-feira (14) na HBO Max e no canal HBO, busca explorar essa riqueza.

Em quatro episódios, que serão lançados semanalmente, a produção conta com participação de nomes como o cantor Caetano Veloso, a etnolinguista Yeda Pessoa de Castro e a escritora Nélida Piñon. A direção é de Estevão Ciavatta.

A série traz falantes de 11 línguas e de diferentes “falares”, como o caipira e o “carioquês”. “O documentário parte de uma pergunta muito objetiva, que é ‘o que nos distingue como nação?’, já que todo povo normalmente leva o nome da sua língua, e nós não temos essa característica; inclusive, falamos uma língua de fora”, explica Ciavatta, em entrevista a GALILEU.

A produção também aborda a variedade de sotaques e vocabulários nas diferentes regiões do país por meio de viagens e entrevistas com falantes nativos e especialistas — além de questões mais atuais, como a inclusão da linguagem neutra. “A língua é viva e está em constante mudança, sempre agregando palavras e maneiras de falar”, diz Adriana Cechetti, diretora de produção de conteúdos não roteirizados. “Acho que isso é muito rico na série e, se a gente fizesse uma segunda temporada daqui alguns anos, certamente até lá descobriríamos outras linguagens.”

Caetano Veloso e Yeda Pessoa de Castro em cena do documentário — Foto: Divulgação
Caetano Veloso e Yeda Pessoa de Castro em cena do documentário — Foto: Divulgação

Com base no documentário, separamos curiosidades sobre algumas das línguas e dialetos que compõem a cultura brasileira.

1. É galego ou português?

A expressão “Língua Portuguesa” surgiu em 1430, quando o reino de Portugal já existia havia três séculos. Durante a Idade Média, falava-se “galego-português”, mas, com o tempo, o galego e o português se desenvolveram como línguas distintas – apesar de apresentarem muitas semelhanças.

Resultado da evolução do latim introduzido no noroeste da Península Ibérica pelos romanos, o galego faz parte da família das línguas românicas. Com a queda do Império Romano no século 5, porém, diversos dialetos se formaram. O galego tornou-se uma língua distinta do latim a partir do século 8.

O uso formal e literário do galego teve uma queda com o fim da Idade Média e foi inexistente durante os séculos 16, 17 e 18, conhecidos como “séculos escuros” para o idioma. Até que, no século 18, ressurgiu o interesse pela língua e a busca por oficializá-la.

Atualmente, é o idioma oficial da região autônoma da Galícia, na Espanha. Segundo a Junta da Galícia, dos 2,8 milhões de habitantes da região, cerca de 2 milhões afirmam usar o galego habitualmente. O idioma também é conhecido como “português arcaico”.

Ele é utilizado na educação, na literatura, na mídia e na administração pública do território espanhol. Mas também há comunidades adeptas do galego em outras partes da Espanha e na América Latina.

2. A África aqui

Trazidas para o Brasil há quase 500 anos, as línguas africanas influenciaram muito o português e se misturaram a elas na criação de novos dialetos. Um deles é a língua da Tabatinga, ainda usada na comunidade do Quilombo Carrapatos da Tabatinga, em Bom Despacho (MG).

O dialeto tem origem banta – com influência das línguas africanas Quimbundo e Umbundo – e surgiu a partir da convivência de escravizados africanos de diferentes etnias trazidos para o Brasil.

Outro exemplo é o pajubá, muito usado pela comunidade LGTQIA+ brasileira. Esse dialeto tem influência da língua Iorubá — originária da região da África onde se encontram Nigéria, Benin e Togo e da qual derivam palavras como “axé” e “acarajé” — e do português. Mas também incorpora elementos de francês, inglês e línguas indígenas.

3. Riqueza indígena

A língua mais falada ao longo da costa atlântica na época da colonização do território pelos portugueses era o Tupinambá, que chegou a ser usado por colonos e missionários e a ser reconhecido como língua geral nessa época. Hoje, é uma língua morta – apesar de ter doado diversas palavras ao vocabulário brasileiro, especialmente nomes de espécies da fauna e da flora.

Mas outros idiomas falados pelos povos originários seguem vivos. No tronco da língua Tupi, está a família de línguas tupi-guarani, da qual faz parte o Guarani. Originário do sul da América do Sul, é falado na Argentina e no Brasil, bem como no Paraguai e na Bolívia, países onde é considerado um idioma oficial. Na Argentina, é oficializado no município de Corrientes; e no Brasil, na cidade de Tacuru (MS).

Além do Tupi, o outro grande tronco de línguas indígenas do Brasil é o Macro-Jê, do qual a língua patxohã faz parte. O significado de “patxohã” é “linguagem do guerreiro pataxó”, um povo que habita historicamente o sul da Bahia. Por muito tempo considerada extinta, a língua patxohã passa por um movimento de retomada desde 1998. A intenção é manter viva a cultura pataxó e o direito desse povo sobre suas terras.

Outras línguas indígenas retratadas no documentário são Baniwa e Tukano. Falada por comunidades na Colômbia e no Brasil, a língua Baniwa está presente nas regiões do Alto Rio Negro, no Amazonas, e nas regiões próximas do território colombiano.

Nessa mesma área também vivem comunidades indígenas falantes da língua Tukano, que faz parte da família Tukano Oriental e é tradicionalmente falada por um grupo de etnias que vivem ao longo do rio Uapés, além de regiões na Colômbia e na Venezuela.

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