Dormir não ajuda na eliminação de toxinas do cérebro, sugere estudo

Descoberta levanta dúvidas sobre a ligação entre a falta de sono e o desenvolvimento de doenças como o Alzheimer

Por Redação Galileu


Sono pode não ter o efeito que se pensava na eliminação de toxinas do cérebro Pexels/Andrea Piacquadio

A teoria de que o cérebro elimina toxinas durante o sono pode estar errada, de acordo com novo estudo. Pesquisadores descobriram que a limpeza de fluidos cerebrais de camundongos é reduzida durante o sono e na anestesia, contrariando a crença popular.

“Parecia uma ideia digna de um Prêmio Nobel”, disse Nick Franks, professor de biofísica e anestesia no Imperial College London e co-líder do estudo, ao jornal The Guardian. Ele e seus colegas criaram uma outra hipótese científica ao efeito restaurador de uma boa noite de sono, publicada nesta segunda-feira (13) na revista Nature Neuroscience.

“Se você está privado de sono, inúmeras coisas dão errado — você não lembra as coisas claramente, a coordenação motora é ruim”, acrescentou ele. “A ideia de que seu cérebro está fazendo essa limpeza básica durante o sono simplesmente parece fazer sentido.”

Os cientistas usaram corantes fluorescentes para estudar o cérebro dos camundongos. Isso permitiu observar a velocidade com que o corante se deslocava das cavidades cheias de fluido, conhecidas como ventrículos, para outras áreas do cérebro, possibilitando a medição direta da taxa de eliminação do corante do cérebro.

A eliminação do corante foi significativamente reduzida em cerca de 30% durante o sono e 50% quando estavam sob anestesia, em comparação com os camundongos que ficaram acordados.

“O campo tem estado tão focado na ideia de limpeza como uma das principais razões pelas quais dormimos, e ficamos, é claro, muito surpresos ao observar o oposto em nossos resultados”, contou o especialista.

Essa descoberta levanta dúvidas sobre a ligação entre a falta de sono e o desenvolvimento de doenças como o Alzheimer. “Porque essa ideia teve tanto impacto, provavelmente aumentou a ansiedade das pessoas de que se não dormirem estarão mais propensas a desenvolver demência."

A pesquisa sugere que o sono pode não ser tão crucial para a eliminação de toxinas quanto se pensava anteriormente, mas não se pode negar que o sono é importante. A próxima etapa do estudo será aplicar os resultados em humanos, porque dormir é uma necessidade fundamental compartilhada por todos os mamíferos.

“O outro lado de nosso estudo é que mostramos que a limpeza do cérebro é altamente eficiente durante o estado de vigília. Em geral, estar acordado, ativo e exercitando pode limpar o cérebro de toxinas de forma mais eficiente”, afirmou Bill Wisden, diretor interino do Instituto de Pesquisa de Demência do Reino Unido no Imperial College London e co-autor da pesquisa.

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