Saúde

Por Arthur Almeida, com supervisão de Larissa Beani

Causado pela proliferação anormal de células plasmáticas na medula óssea, o mieloma múltiplo é um tipo de câncer de sangue raro que afeta, sobretudo, idosos com mais de 70 anos. Segundo o Painel Oncologia Brasil, o país apresenta uma média de 2.600 novos casos da doença por ano.

O quadro é caracterizado pela ocorrência de hipercalcemia, problemas renais, anemia e danos ósseos. Esses sintomas são facilmente associados a outras condições, o que dificulta o diagnóstico da patologia, atrasa o início dos tratamentos e aumenta a sua taxa de mortalidade — é o que aponta um novo estudo sobre o assunto.

O relatório “Mieloma múltiplo na América Latina” reúne dados sobre o cenário da doença na região e as percepções de especialistas sobre os problemas identificados. A produção foi feita pela equipe da revista The Economist Impact, em parceria com a farmacêutica Janssen.

Entre as lacunas no combate à doença apontadas pelos pesquisadores estão a falta de conhecimento sobre este tipo de câncer, os diagnósticos tardios e a desigualdade social no acesso a tratamentos médicos especializados. Problemas esses que, segundo o grupo, podem ser resolvidos por meio de políticas públicas.

“Sem mudanças nesse panorama, a tendência é de piora para os próximos 20 anos. Enquanto a incidência do mieloma deve crescer em 1,7 vezes, a mortalidade deve aumentar em 1,8 vezes, na comparação com as taxas atuais”, destacou Marcio Zanetti, colaborador do estudo, durante o lançamento do relatório.

Efeito em cadeia

O levantamento documental e bibliográfico realizado pelos autores do relatório indicou que, apesar do avanço dos casos de mieloma múltiplo, os países latinoamericanos apresentam um acervo limitado de registros sobre a doença. Isso tanto por parte do público geral quanto pela área da saúde.

Profissionais sobrecarregados, pouco financiamento e desestímulo à pesquisa em detrimento das práticas clínicas fazem com que o repertório se mantenha pequeno. Nesse sentido, o conhecimento no assunto não avança, limitando as descobertas por novos tratamentos e tecnologias de diagnóstico.

Como consequência disso, muitas vezes, os sintomas inicialmente apresentados pelos pacientes não são vistos como indícios do câncer raro. Somado a isso, ainda há a demora para se realizar exames que atestem a patologia, que podem chegar ao período de quase seis meses.

Dessa forma, quando as pessoas finalmente chegam a um hematologista (especialista em doenças no sangue), os seus quadros estão, por vezes, mais graves, com, por exemplo, fraturas, complicações neurológicas, anemia severa ou falha renal. Essas condições exigem hospitalizações, cirurgias e medicamentos complexos.

Um estudo brasileiro de 2021 citado pelo relatório demonstra que, no país, 51% dos pacientes da rede pública foram diagnosticados já no estágio III da doença, em comparação a 28% no estágio II e 21% no estágio I. O levantamento revela ainda que, no setor privado, o diagnóstico é mais rápido.

Os dados mostram que, com a infraestrutura particular, a identificação ocorre, majoritariamente, no estágio II (38%), seguido do estágio I (34%) e restando apenas 28% dos casos no estágio III. Esses efeitos da desigualdade social na superação desses quadros patológicos são outro ponto levantado pelos especialistas.

Há 40 anos, o único tratamento era a quimioterapia convencional, que trazia resultados ruins para a maioria dos pacientes. Mas, nas últimas duas décadas, surgiram novos tratamentos que melhoram drasticamente a saúde dos pacientes. O transplante autólogo de células tronco, os imunomoduladores, os inibidores de proteassoma e os anticorpos monoclonais são apenas alguns dos exemplos.

Produção anormal de células de mieloma — Foto: Wikimedia Commons
Produção anormal de células de mieloma — Foto: Wikimedia Commons

“Hoje, nós temos uma porcentagem de pacientes portadores da doença que apresentam baixos riscos de morte e que podem ser pensados como quadros de mieloma funcional. Para isso, o início do tratamento, em que se faz a combinação de medicamentos, é imprescindível”, relata o professor Angelo Maiolino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Esse cenário pode ser muito promissor, mas, em termos práticos, não é algo que atenda a todos os pacientes. "Terapias intensivas, transplantes e técnicas especializadas avançadas são muito caras e exigem muita burocracia. Portanto, são pouco oferecidas pelos sistemas de saúde coletiva”, explica Zanetti.

Caminhos para o enfrentamento

Além de apontar as problemáticas encontradas, o relatório sintetiza cinco caminhos para mitigar os desfalques no enfrentamento do mieloma na América Latina. São esses: a melhor notificação da doença; o estímulo à educação dos sintomas e tratamentos da patologia; a diminuição das desigualdades dos setores público e privado; o apoio à inovação; e facilitar a criação e desenvolvimento de associações civis voltadas à conscientização de enfermidades pelo público.

Dessa forma, os especialistas acreditam que será possível encerrar o efeito em cadeia que leva ao atraso nos diagnósticos e, consequentemente, dos tratamentos. A expectativa é que a mudança também altere as previsões negativas para o futuro do Brasil e da América Latina como um todo.

“Esses desafios não devem ser vistos como impeditivos para o enfrentamento da doença. O estudo aponta para caminhos associados à adoção de políticas públicas e procedimentos mais eficazes. A ideia central é indicar questões que, quando solucionadas, permitirão uma oferta equitativa de tratamentos que já têm apresentado bons resultados”, conclui Zanetti.

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