Uma rotina de sono equilibrada é crucial para manter uma boa saúde física e mental. Enquanto dormimos, nosso corpo realiza diversas funções importantes, como regeneração celular, liberação de hormônios e fortalecimento do sistema imunológico, inclusive em relação a vacinas.
Os autores do estudo, divulgado na revista Current Biology nesta segunda-feira (13), compilaram uma série de evidências que ligam a quantidade de sono obtida nos dias que antecedem a imunização à resposta de anticorpos em adultos saudáveis. Os resultados mostram que indivíduos que dormem menos de seis horas por noite têm uma resposta de anticorpos mais baixa.
Segundo a equipe, liderada por pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), na França, as análises não estão ligadas somente à imunização contra apenas um vírus específico. Os benefícios de dormir bem valem para vacinação contra influenza, Covid-19 e até mesmo hepatite.
Avaliando o sono
As primeiras pesquisas iniciaram em 2002, quando cientistas constataram que a restrição do sono diminuía a resposta de anticorpos à vacinação contra influenza, baixando para cerca de metade os níveis de anticorpos observados 10 dias após a inoculação. Com o início da pandemia de Covid-19, em 2020, o grupo reavivou o interesse pela pesquisa e começou novamente a reunir dados para a meta-análise.
Após vasculharem a literatura e analisarem os resultados de sete estudos de vacinas para infecções virais, os pesquisadores compararam pessoas que dormiam uma quantidade normal (entre sete e nove horas por noite) com aquelas que com sono insuficiente (menos de seis horas). A comparação também foi realizada com dados conhecidos sobre a resposta de anticorpos à vacina Pfizer-BioNTech para a Covid-19.
Para aqueles com sono insuficiente nos dias que antecederam a vacinação, caiu a produção de anticorpos nos dois meses seguintes. “O sono insuficiente é um fator comportamental que pode ser corrigido antes da vacinação, e pode não apenas fortalecer, mas também estender a resposta à vacina”, disse Eve Van Cauter, professora de medicina e autora sênior da meta-análise, em comunicado.
Os pesquisadores destacam que a associação foi observada apenas em estudos que avaliaram objetivamente a duração do sono usando rastreadores de atividade como relógios, estudos do sono em laboratório ou relatos dos próprios voluntários.
Variações
Quando analisado pelo recorte de gênero, o resultado foi significativo entre homens, mas o efeito da duração do sono na produção de anticorpos foi muito mais variável nas mulheres. Essa diferença, segundo os cientistas, se dá provavelmente à flutuação dos níveis de hormônios sexuais no sexo feminino.
“Nas mulheres, a imunidade é influenciada pelo estado do ciclo menstrual, pelo uso de contraceptivos, e pela menopausa e pós-menopausa, mas, infelizmente, nenhum dos estudos que resumimos tinha dados sobre os níveis de hormônios sexuais”, avalia Karine Spiegel, pesquisadora da Inserm e principal autora do estudo, em nota.
O efeito negativo do sono insuficiente nos níveis de anticorpos também foi maior para adultos de 18 a 60 anos de idade em comparação com pessoas acima dos 65 anos. Isso porque os idosos tendem a dormir menos, em geral.
Cauter pontua que, apesar da resposta à imunização variar de acordo com cada pessoa, saber de um comportamento que é possível modificar para potencializar o benefício das vacinas oferece uma autonomia que, provavelmente, melhorará a resposta imunológica.
“A ligação entre o sono e a eficácia da vacina pode ser uma grande preocupação para pessoas com horários de trabalho irregulares, especialmente para trabalhadores em turnos que normalmente têm duração reduzida do sono”, comenta a médica. “Isso é algo que as pessoas devem considerar planejar, para garantir que estejam dormindo o suficiente na semana anterior e na posterior às vacinas”.
Por mais que os resultados sejam satisfatórios, ainda há outros pontos que precisam ser explorados para definir, por exemplo, quantos dias de sono curto afetam a resposta de anticorpos. Além de mais evidências a partir da análise de hormônios sexuais em mulheres.
"As vacinas são uma ferramenta importante para prevenir e reduzir os impactos de doenças infecciosas, e acreditamos que você pode implementar uma simples mudança de comportamento – dormir o suficiente – para obter um benefício imediato. É barato e não há efeito adverso.” finaliza Eve.