Estudo conduzido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que a prática regular de exercícios resistidos, como musculação ou treinamento funcional, pode ser tão benéfica para o controle glicêmico quanto a de atividades aeróbicas, a exemplo da corrida ou da natação. Os resultados da investigação foram divulgados no International Journal of Molecular Sciences.
“Nos últimos anos, os benefícios da atividade física para o organismo como um todo têm sido associados à liberação de moléculas chamadas miocinas na corrente sanguínea. E a maioria dos estudos utiliza exercícios aeróbios como referência”, contextualiza Gabriela Alves Bronczek, primeira autora do trabalho, conduzido durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Funcional e Molecular da Unicamp.
“Como já é sabido que diferentes modalidades ativam vias distintas, levando à liberação de moléculas específicas, pensamos que talvez o treino resistido, mais relacionado à musculação, poderia apresentar efeito diferente ou liberar moléculas diferentes. Daí a ideia de investigar sua ação sobre as células beta pancreáticas, que são responsáveis por secretar insulina.”
Para isso, durante o estudo, que contou com apoio da FAPESP, células beta de ratos foram tratadas com o soro sanguíneo de animais da mesma espécie que praticaram treinamento de força, que consistia em subir uma escada de aproximadamente um metro de altura com carga acoplada à cauda.
Foram oito escaladas por seção, variando entre 50%, 75%, 90% e 100% de carga máxima, cinco dias por semana durante dez semanas. Em seguida, as células foram submetidas, in vitro, a um coquetel de citocinas pró-inflamatórias para induzir uma condição semelhante à da diabetes tipo 1. Resultado: o tratamento preveniu tanto a disfunção quanto a morte celular.
Depois de dez semanas de treinamento resistido, os roedores apresentaram melhora na tolerância à glicose e redução da glicemia. Em uma avaliação da morfologia do pâncreas, observou-se aumento na massa de células beta. Isso comprovou que o exercício de força faz com que as células se tornem mais eficientes em secretar insulina em resposta ao estímulo de glicose.
“Isso nos leva a acreditar que moléculas liberadas durante o exercício resistido podem melhorar o funcionamento da célula beta e proporcionar todos esses benefícios”, diz Bronczek.
Estudo anterior do grupo, publicado em 2021 na revista Scientific Reports, já havia avaliado o efeito do exercício resistido em células beta de animais saudáveis e observado os mesmos efeitos.
Próximos passos
“Diante da pandemia de obesidade no mundo e da piora nos hábitos alimentares da grande maioria da população, a prática de atividade física é extremamente importante”, comenta Antonio Carlos Boschiero, professor titular da Unicamp e orientador de Bronczek. “Entender os benefícios do exercício resistido abre ainda mais portas, já que ele pode ser feito, por exemplo, a partir de uma cadeira de rodas.”
Para seguir na linha de estudo, Bronczek pretende focar seus estudos de pós-doutorado na análise do soro sanguíneo dos animais. O objetivo é identificar uma ou mais moléculas que possam ser realmente as responsáveis por mediar todos os efeitos benéficos observados.
“Se conseguirmos chegar a esse ponto, pode ser um primeiro passo na busca de um potencial alvo terapêutico”, acredita Bronczek. “Essa molécula poderia ser sintetizada ou isolada e utilizada em pacientes com diabetes tipo 1.”
Outro desdobramento importante seria a recomendação mais embasada de exercícios resistidos como forma de contribuir para a manutenção glicêmica de pacientes diabéticos. “Isso porque passaremos a entender melhor como esse tipo de atividade funciona, sua fisiologia e como ela impacta na homeostase glicêmica.”