O tabagismo em jovens do sexo masculino no início da adolescência pode ter impactos duradouros. Mais tarde, quando alguns desses rapazes se tornam pais, eles podem passar genes prejudiciais aos filhos, segundo sugere um estudo publicado hoje (31) na revista Clinical Epigenetics.
A pesquisa foi realizada por especialistas da Universidade de Southampton, na Inglaterra, e da Universidade de Bergen, na Noruega. A análise é a primeira no mundo a revelar o mecanismo biológico por trás do impacto do tabagismo precoce dos pais sobre os filhos.
A transmissão dos genes, de acordo com a pesquisa, pode aumentar a probabilidade dos futuros filhos dos jovens fumantes desenvolverem asma, obesidade e baixa função pulmonar.
Para chegarem nessa conclusão, os pesquisadores investigaram os perfis epigenéticos de 875 pessoas, com idades entre 7 e 50 anos, e os comportamentos de seus pais em relação ao fumo.
Nos filhos de homens que fumaram antes dos 15 anos, a equipe encontrou mudanças epigenéticas em 19 locais mapeados em 14 genes. Essas mudanças que afetam a forma como o DNA é empacotado nas células (metilação) regulam a expressão genética e estão associadas à asma, à obesidade e ao chiado no peito.
Em seguida, os cientistas compararam os perfis de pais que fumavam antes de terem filhos com os perfis de outros dois grupos: um de fumantes e outro de filhos de mães que haviam fumado antes da concepção.
“Curiosamente, descobrimos que 16 dos 19 marcadores associados ao tabagismo na adolescência dos pais não tinham sido anteriormente associados ao tabagismo materno ou pessoal”, conta Gerd Toril Mørkve Knudsen, da Universidade de Bergen e coautor principal do estudo, em comunicado. “Isso sugere que estes novos biomarcadores de metilação podem ser exclusivos de crianças cujos pais foram expostos ao fumo no início da puberdade”.
Nessas crianças de pais que fumaram no começo da adolescência, as mudanças nos marcadores epigenéticos também foram muito mais pronunciadas do que naquelas cujos pais começaram a fumar em qualquer momento antes da concepção, conforme observa Negusse Kitaba, outro coautor da pesquisa.
"A puberdade precoce pode representar uma janela crítica de mudanças fisiológicas nos meninos”, explica Kitaba. “É quando as células-tronco estão sendo estabelecidas e produzirão espermatozoides para o resto de suas vidas."
Apesar das conclusões importantes, John Holloway, pesquisador da Universidade de Southampton que também contribuiu com o estudo, afirma que as evidências da pesquisa vêm sobretudo de pessoas cujos pais fumaram em sua adolescência nas décadas de 1960 e 1970, quando fumar tabaco era muito mais comum do que usar vapes.
Segundo conta Holloway, alguns estudos em animais sugerem que a nicotina pode ser a substância presente no cigarro que provoca alterações epigenéticas na descendência. Ele afirma ser “profundamente preocupante que os adolescentes de hoje, especialmente os meninos, estejam sendo expostos a níveis muito elevados de nicotina através do uso de vapes”.
“Não podemos ter certeza de que o uso de vapes terá efeitos semelhantes ao longo das gerações, mas não devemos esperar algumas gerações para provar o impacto que o uso desses itens na adolescência pode ter. Precisamos agir agora”, alerta o pesquisador.