Saúde

Por Redação Galileu

Pesquisadores dos Estados Unidos, incluindo membros da escola de medicina Weill Cornell Medicine, recrutaram seis pacientes que sofreram traumatismos cerebrais moderados ou graves após acidentes. Em cinco deles, uma nova terapia com implantes demonstrou ser bastante promissora, segundo estudo publicado em 4 de dezembro na revista Nature Medicine.

Uma das pacientes foi Gina Arata, que em 2001 estava no último semestre da faculdade, planejando ingressar no direito, quando sofreu uma lesão cerebral traumática em um acidente de carro. O ocorrido comprometeu sua capacidade de concentração, o que a fez ter dificuldades em seu emprego de triagem de correspondências.

"Eu não conseguia me lembrar de nada", relatou em comunicado Arata, que mora em Modesto, na Califórnia, com a família. Foram os pais dela, inclusive, que ficaram sabendo de uma pesquisa cerebral em andamento na escola de medicina da Universidade de Stanford e entraram em contato.

Em 2018, após ser aceita no estudo, Arata passou por um implante cerebral de um dispositivo que foi calibrado cuidadosamente por médicos para estimular as redes que a lesão do acidente de carro havia suprimido em seu cérebro.

A paciente notou a diferença em sua memória logo após a cirurgia: ela conseguiu citar várias frutas e legumes quando lhe pediram para listar esses tipos de produtos de um supermercado. Em seguida, um pesquisador desligou o dispositivo implantado no cérebro da paciente, e ela não conseguiu nomear mais nenhum alimento.

Arata diz que, antes da cirurgía, seu pé esquerdo falhava, fazendo-a tropeçar em coisas o tempo todo. Ela também se envolvia muito em acidentes de carro; mas, depois do procedimento, não recebeu nem sequer uma multa de trânsito.

"Não tropeço mais. Consigo lembrar quanto dinheiro tenho na minha conta bancária", diz ela. "Não conseguia ler; mas, depois do implante, comprei um livro, 'Where the Crawdads Sing' ('Um Lugar Bem Longe Daqui', 2018), e amei e pude me lembrar dele".

Novo tratamento

Como parte da pesquisa, os médicos recrutaram cinco participantes que tinham deficiências cognitivas duradouras há mais de dois anos após lesões cerebrais traumáticas moderadas a graves. Eles tinham entre 22 e 60 anos, com lesões ocorridas de três a 18 anos antes do estudo.

O dispositivo de estimulação foi colocado em uma área cerebral exata que variava de pessoa para pessoa. Para identificar onde cada dispositivo seria implantado e o nível de estimulação necessário, os pesquisadores criaram um modelo virtual de cada cérebro.

Guiado por esses modelos, Jaimie Henderson, professor de neurocirurgia e coautor sênior do estudo, implantou cirurgicamente os dispositivos nos cinco participantes. "É importante direcionar a área com precisão", disse ele. "Se você estiver mesmo a alguns milímetros fora do alvo, estará fora da zona eficaz".

Imagem estrutural de ressonância magnética do cérebro de todos os 5 indivíduos tratados com implantes — Foto: Nicolau D. Schiff et al
Imagem estrutural de ressonância magnética do cérebro de todos os 5 indivíduos tratados com implantes — Foto: Nicolau D. Schiff et al

A estimulação elétrica foi focada no núcleo lateral central e suas conexões, dado que a região regula muitos aspectos da consciência. "O núcleo lateral central é otimizado para conduzir as coisas de maneira abrangente, mas sua vulnerabilidade é que, se você tem uma lesão multifocal, ela tende a levar um golpe maior, porque um golpe pode vir de quase qualquer lugar no cérebro", explica Nicholas Schiff, professor da Weill Cornell Medicine e coautor sênior do estudo.

Após uma fase de titulação de duas semanas para otimizar a estimulação, os participantes do estudo passaram 90 dias com o dispositivo ligado durante 12 horas diárias. O progresso dos pacientes então foi medido por um exame de velocidade de processamento mental, chamado teste de trilha, que envolve desenhar linhas conectando uma confusão de letras e números.

No final do período de tratamento de 90 dias, os participantes melhoraram suas velocidades no teste, em média, em 32%, superando em muito os 10% que os pesquisadores haviam almejado.

Mas as melhorias foram muito além dos números: atingiram as vidas cotidianas dos pacientes, que voltaram a ler, assistir a programas de TV, jogar videogames ou concluir uma tarefa de casa. Sentiam-se também menos fatigados e conseguiam passar o dia sem tirar uma soneca.

A terapia foi tão eficaz que os pesquisadores tiveram dificuldades para concluir a última fase do estudo, na qual metade dos participantes seria selecionada aleatoriamente para desligar seus dispositivos. Dois dos pacientes recusaram, não querendo correr esse risco. Dos três que aceitaram, um foi sorteado para desligar de fato o aparelho. Após três semanas sem estimulação, esse participante teve um desempenho 34% mais lento no teste de trilha.

O ensaio clínico é o primeiro a visar o núcleo lateral central em pacientes com lesões cerebrais traumáticas moderadas a graves, oferecendo esperança para muitas pessoas. "Este é um momento de pioneirismo", disse Schiff. "Nosso objetivo agora é tentar dar os passos sistemáticos para tornar isso uma terapia. Isso é o suficiente para nos motivar a fazer todo o esforço".

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