Pessoas com Alzheimer geralmente apresentam dois sinais no cérebro típicos dessa doença: placas de proteína beta-amiloide e emaranhados de proteína tau. Em pesquisa recente, cientistas notaram que pode haver uma relação entre a quantidade dessas primeiras e o nível de exposição de um indivíduo à poluição do trânsito.
Além disso, com base no endereço residencial dos indivíduos, foi possível estimar o nível de exposição de cada um à poluição do trânsito – mais especificamente, ao material particulado fino (MP2.5). O nível médio de exposição a essas partículas foi de 1,32 µg/m3 (micrograma por metro cúbico) um ano antes da morte dos pacientes e de 1,35 µg/m3 três anos antes dos óbitos.
Os resultados demonstram que havia uma maior probabilidade de encontrar mais placas beta-amiloide no cérebro das pessoas que tiveram maior exposição ao MP2.5 um e três anos antes da morte. Indivíduos com maior exposição nos três anos anteriores ao óbito, por exemplo, tinham 87% mais chances de ter níveis mais elevados de placas.
“Descobriu-se que a exposição ao material particulado fino está associada ao Alzheimer, e supõe-se que ela cause inflamação e estresse oxidativo no cérebro, contribuindo para a neuropatologia”, escrevem os autores no artigo.
Vale destacar também que a relação entre poluição e Alzheimer apresentada no estudo não é de causa e consequência, mas de associação. “São necessárias mais pesquisas para investigar os mecanismos por trás dessa ligação”, ressalta Anke Huels, uma das autoras do trabalho, em comunicado.
Os pesquisadores investigaram ainda se haveria alguma interferência da APOE e4, principal variação genética ligada ao Alzheimer. Eles concluíram, contudo, que a associação mais forte entre a poluição do ar e os sinais da doença neurodegenerativa se deu em pessoas sem essa variação genética.
“Isso sugere que fatores ambientais, como a poluição do ar, podem contribuir para o Alzheimer em pacientes nos quais a doença não pode ser explicada pela genética”, afirma a pesquisadora Huels.