Saúde

Por Por Tainá Rodrigues, com edição de Isabela Moreira

Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, o Brasil teve 85.486 óbitos confirmados de hepatites virais entre o período de 2000 a 2022. A hepatite viral é uma infecção que lesiona as células do fígado, comprometendo suas funções. Atualmente, a doença pode surgir a partir de diferentes vírus hepatotrópicos, denominados A, B, C, D e E.

Nacionalmente, as hepatites mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. O vírus da hepatite D é mais frequente na região norte do país e o E, fora dele, na África e na Ásia. O avanço da infecção no fígado pode levar a quadros graves da doença, principalmente os tipos B, C e D, resultando em fibrose, cirrose e até mesmo câncer.

A vacinação contra hepatite A e B existe, mas não para os outros tipos, já que todas as variações da doença são causadas por diferentes vírus. No caso da hepatite A e B, foi possível identificar a proteína que protege o vírus e, assim, produzir o antígeno.

“Por exemplo, o Sars-CoV-2 é um vírus que tem uma taxa de mutação muito grande, por isso que toda hora você tem que fazer uma vacina diferente para conseguir proteger [as pessoas] contra as cepas que estão circulantes. E a hepatite C é um vírus que apresenta uma variabilidade ainda maior que o Covid”, explica o médico João Renato Rebello Pinho, patologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein para a GALILEU.

Abaixo, explicamos os tipos de hepatite mais a fundo. Confira:

Hepatite A (HAV)

O vírus da hepatite A é transmitido por via fecal-oral, ou seja, pelo contato das fezes com a boca. Regiões com baixo saneamento básico e com alimentos e água contaminados, estão mais suscetíveis à transmissão dessa doença. Outro meio de contaminação é a prática sexual anal, por meio do contato oral-anal.

“Quando você tem inundações, em que águas de esgoto se misturam por todo ambiente, a hepatite A é uma preocupação frequente. Então é uma preocupação de que a gente possa ter muitos casos de hepatite A na região do Rio Grande do Sul, não só de hepatite, como de leptospirose que é um outro quadro parecido com hepatite”, afirma Pinho.

De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas são gastrointestinais, como diarreia, vômito, dor abdominal, enjoo, constipação, e podem aparecer de 15 a 50 dias após a contaminação. Também pode ocorrer a presença de urina escura e olhos amarelados (icterícia). O diagnóstico é realizado por exame de sangue.

A melhor forma de prevenir a doença é manter a higiene básica, como lavar as mãos e cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, além de ferver a água para lavá-los. A vacinação para prevenção da hepatite A existe e, atualmente, faz parte do calendário de imunização infantil.

A vacina contra hepatite A é relativamente recente e, com isso, pessoas mais velhas podem não ter tomado. “Certamente, pessoas com mais de 30 anos de idade não tomaram a vacina pelo Programa Nacional de Imunização (PIN). Isso é uma preocupação inclusive na na região do Rio Grande do Sul de que essas pessoas começassem a tomar essa vacina específica, porque ela pode prevenir uma infecção”, diz Pinho.

De acordo com o médico, é comum que as pessoas peguem hepatite A durante a infância. Ter essa infecção precocemente na vida pode fazer com que as pessoas tenham sintomatologias leves e, quando os indivíduos são infectados mais tardiamente, pode ser que tenham quadros mais graves da doença.

Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente mostram que, entre 2000 e 2022, as regiões Norte e Nordeste reuniram, juntas, 55,2% dos casos confirmados de hepatite A. Em 2021, a maior frequência de óbitos foi de pessoas com mais de 60 anos.

A doença compromete as funções do fígado — Foto: VSRao/Pixabay
A doença compromete as funções do fígado — Foto: VSRao/Pixabay

Hepatite B (HBV)

Na hepatite B pode ocorrer a transmissão vertical, que consiste no contágio da mãe para o filho durante a gestação ou através do parto. Além disso, a contaminação pode ocorrer pela via sexual, através da secreção vaginal e pelo esperma. Existe uma probabilidade grande dessa doença evoluir para a hepatite crônica, especialmente se a pessoa for infectada nos primeiros anos de vida.

“Até um ano de vida, [as pessoas] têm uma chance de quase 90% de se tornarem portadores crônicos do vírus da hepatite B. E essa frequência de evolução para hepatite crônica vai diminuindo com a idade das pessoas. Quando as pessoas se infectam com a hepatite B já acima dos 18 anos, a probabilidade de evoluir para uma hepatite crônica passa para 10%.”

Entretanto, a mortalidade em relação à hepatite B é muito grande, já que pode evoluir para uma hepatite crônica e, se não tratada, se torna cada vez mais grave. Podendo se tornar uma cirrose ou até mesmo para um câncer de fígado, também denominado carcinoma hepatocelular.

Na maioria dos casos, a doença não apresenta sintomas. Muitas vezes, o diagnóstico é feito bastante tempo após a infecção e sinais relacionados a outras doenças do fígado, como vômito, febre, dor abdominal, olhos amarelados, costumam aparecer em fases avançadas do adoecimento.

Existe uma vacina como meio de prevenção e o diagnóstico pode ser realizado por meio de um teste rápido. Entre 2000 a 2020, tiveram 276.646 casos de hepatite B confirmados no Brasil, concentrando na região Sudeste 34,2% de diagnósticos.

“As outras hepatites, A, B, C e D têm risco de evoluir para as formas crônicas e para câncer de fígado. Então é importante dizer que para hepatite B a gente dispõe de uma vacina que não é só para infecção, mas que evita que as pessoas venham a desenvolver posteriormente um câncer de fígado”, alerta João Pinho.

Entre as hepatites virais, a hepatite B é a segunda maior causa de óbitos. No período de 2000 a 2021, foram registrados 18.363 óbitos relacionados a essa doença no Brasil. Desses casos, 52,8% tiveram a hepatite B como causa básica e, 49,5%, na região Sudeste.

Hepatite C (HCV)

O principal meio de transmissão da hepatite C é por meio de contato com sangue contaminado, bem como do compartilhamento de seringas, agulhas e reutilização de equipamentos médicos sem esterilização. O contágio também pode ocorrer via sexual sem uso de preservativo e, principalmente, se o indivíduo tiver mais de um parceiro.

O médico ressalta que a transmissão por transfusão de sangue era mais comum nos anos 80 e que, atualmente, esse contágio não é frequente. Além disso, a realização de testes específicos para descobrir se o paciente tem a doença para posterior tratamento diminui a propagação da hepatite.

A hepatite C tem um caráter silencioso e é raro apresentar sintomas, evoluindo de forma sorrateira. Geralmente, as pessoas descobrem que são portadoras da infecção na sua fase crônica e, cerca de 80% delas, não têm manifestação da doença.

“Para aqueles que são mais velhos, não custa nada fazer um teste de detecção dos anticorpos anti-HCV pelo menos alguma vez na vida, para ter certeza que você não tem essa infecção e, se tiver algum comportamento de risco, como vários parceiros sexuais, também é recomendado fazer esses testes”, ressalta Pinho.

Não há vacina para prevenção desta forma da doença, mas existem tratamentos bem eficazes com uma taxa de cura de mais de 95%, de acordo com o Ministério da Saúde. O procedimento é feito com antivirais de ação direta (DAA) e é realizado por 8 ou 12 semanas.

De 2000 a 2021, 65.061 óbitos foram associados com a hepatite C, que é a maior causa de morte entre as hepatites virais. No mesmo período, o Sudeste concentrava 58,3% dos diagnósticos dessa doença no período.

Hepatite D (HDV ou Delta)

A hepatite D somente acomete pessoas que já tenham hepatite B, inclusive as formas de transmissão são iguais. O contágio pode ocorrer via sexual, sem preservativos, e da mãe infectada para o filho durante a gestação no parto.

Assim como na hepatite B, a doença não apresenta muitos sintomas. O diagnóstico pode ser feito por meio de testes específicos para detectar anticorpos anti-HDV, mas não existe vacina para prevenção. Esta categoria da doença também pode evoluir para casos crônicos, cirrose e câncer de fígado.

“É importante dizer que a hepatite delta só acontece em pessoas que sejam portadoras do vírus de hepatite B. Ou seja, se você vacinar a população amazônica ou qualquer população contra a hepatite B, você vai estar protegendo ela também contra a hepatite D”, reitera o patologista.

Entre 2000 e 2022, a doença se concentrou principalmente no norte do Brasil, com 73,1% de casos registrados na região. “Ela é principalmente frequente na região Amazônica. Temos populações ribeirinhas com uma frequência muito grande da hepatite delta.”

Segundo o médico, essa infecção existe na região amazônica há muito tempo. A hipótese é que pode ter sido disseminada pela via sexual, por hábitos comuns dos povos regionais ou até mesmo por alguém ter se arranhado com alguma planta.

Hepatite E (HEV)

A principal forma de transmissão da hepatite E é por via fecal-oral, com alimentos contaminados e em locais com baixo saneamento básico. Esta variante da doença raramente causa infecções crônicas e sua frequência é maior em países asiáticos e africanos.

Os sintomas incluem febre, dores musculares e fadiga. O método de prevenção é manter bons hábitos de higiene e ferver água para lavar os alimentos, além de cozinhá-los antes do consumo.

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