A poucos dias da estreia nos Jogos, cada modalidade tem seu próprio ritmo. “É a fase do polimento”, explica o médico Claudio Gil Araújo, doutor em Fisiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Em geral, os treinadores aumentam a intensidade, mas reduzem o volume”. Há atletas que disputam uma única prova, como a maratona. A melhor colocação foi o bronze de Vanderlei Cordeiro de Lima em Atenas 2004.
Outros participam de torneios de seis jogos. Um bom exemplo é o futebol. A seleção masculina ganhou dois ouros (Rio 2016 e Tóquio 2020), três pratas (Los Angeles 1984, Seul 1988 e Londres 2012) e dois bronzes (Atlanta 1996 e Pequim 2008) e a feminina, duas pratas (Atenas 2004 e Pequim 2008).
Dessa vez, só as mulheres se classificaram. “Olimpíada é o campeonato que reúne os melhores de cada país. Mesmo assim, o brasileiro só torce pela medalha de ouro. É como se a prata e o bronze não tivessem valor”, lamenta o psicólogo João Ricardo Cozac, doutor pela Escola de Educação Física e Esporte da USP. Em Tóquio 2020, a boxeadora Bia Ferreira, de 31 anos, chegou a pedir desculpas ao Brasil após perder para a irlandesa Kellie Harrington e ficar com a prata na categoria peso leve. “Paris será ainda melhor. Dessa vez, teremos público. Não vejo a hora de subir ao ringue. Estou contando as horas”, ela se empolga.
Há um atleta que nunca ganhou uma medalha olímpica sequer. Mesmo assim, é considerado um dos melhores de todos os tempos. Os números de Oscar Schmidt, 66 anos, impressionam. Com 2,05m de altura, participou de cinco Olimpíadas: Moscou 1980, Los Angeles 1984, Seul 1988, Barcelona 1992 e Atlanta 1996. E foi “cestinha” em três delas. Embora o porto-riquenho Teófilo Cruz (1942-2005) e o australiano Andrew Gaze, 58, também tenham participado de cinco edições, nenhum deles marcou tantos pontos: 1.093. “Sabe qual é o inimigo número um do atleta olímpico? O excesso de confiança! Quando ele fica confiante demais, comete erros”, adverte.
Sua maior conquista vestindo o uniforme da seleção brasileira foi o ouro no Pan de Indianápolis 1987 quando, ao lado de Marcel, Israel, Gerson e Guerrinha, venceu o “dream team” dos EUA, de virada, por 120 a 115. “Adoro o apelido de ‘Mão Santa’. Mas, se pudesse, escolheria outro: ‘Mão Treinada’. O impossível só vira realidade se você estiver bem preparado quando a oportunidade aparecer. Por isso, eu digo sempre: posso não ter sido o melhor em quadra, mas pode ter certeza de que eu treinei bastante para ser”. Que comecem os Jogos.
Lista proibida?
Para ganhar medalhas e quebrar recordes, alguns atletas recorrem a substâncias proibidas. A lista da Agência Mundial Antidoping (WADA, em inglês) abrange mais de 400 delas. Para ser considerada proibida, uma droga precisa atender a dois de três critérios: fazer mal à saúde, promover aumento de desempenho ou ser contrária ao espírito esportivo.
O primeiro caso documentado de doping em uma Olimpíada ocorreu em St. Louis 1904, quando o maratonista americano Thomas Hicks misturou estricnina e conhaque, e o mais famoso ocorreu em Seul 1988, quando o velocista canadense Ben Johnson, ouro nos 100m rasos, foi pego por uso de esteroides anabolizantes.
Já em 2023, Thiago Braz, ouro na Rio 2016 e bronze em Tóquio 2020 no salto com vara, foi suspenso provisoriamente, após um teste detectar a ostarina. O brasileiro só poderia voltar a competir em novembro, após Paris 2024. Seu advogado, porém, entrou com um recurso, alegando “contaminação cruzada” – quando uma substância, proibida, contamina outra, permitida. Em junho, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) liberou o atleta para tentar uma vaga olímpica no Troféu Brasil de Atletismo. Até o fechamento desta edição, sua ida a Paris 2024 não havia sido confirmada.
“O atleta que se dopa abre mão de fazer a coisa certa por entender que precisa vencer a qualquer custo. Jamais terá o mérito de ser considerado um superatleta”, afirma Adriana Taboza, presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD). Das tecnologias usadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) na detecção de substâncias proibidas, Taboza destaca o “passaporte biológico”. “Não precisa demonstrar a substância no corpo do atleta. Basta comprovar os efeitos que ela provoca”, explica. As punições variam desde advertência até o banimento.