Saúde

Por Redação Galileu

Remédios usados no tratamento da obesidade e sobrepeso, como o Ozempic e o Wegovy – que chega ao mercado brasileiro em agosto deste ano – possuem fortes náuseas como um dos principais efeitos colaterais. Um novo estudo, publicado na revista Nature esta semana, porém, argumenta que esses medicamentos ativam grupos de neurônios diferentes no cérebro: parte deles é responsável pelo enjoo, e outra parte, independente, pela sociedade. Ainda que ambos os circuitos cerebrais tenham a função de reduzir o apetite, a descoberta pode levar à criação de remédios que dão a sensação de saciedade sem enjoar.

Remédios como Ozempic e Wegovy imitam um hormônio que controla a produção de um peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1), responsável por controlar a quantidade de açúcar no sangue, e que age no cérebro para diminuir a fome. Não se sabia ao certo aonde os medicamentos exerciam seus efeitos, mas áreas do cérebro como o hipotálamo, que regula a sede e a fome, e o rombencéfalo, que transmite impulsos nervosos para o estômago, possuem células portadoras de receptores GLP-1, aos quais os medicamentos se ligam.

Os pesquisadores descobriram que existe um circuito cerebral (uma rede de células nervosas) separado para causar náuseas, que também desencadeia aversão à comida, e outro grupo de neurônios que auxilia a induzir a sensação de estar satisfeito, prevenindo o consumo excessivo de comida. O grupo argumenta que a informação poderá auxiliar no desenvolvimento de medicamentos que não atinjam o circuito da aversão, diminuindo os efeitos colaterais.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores mataram neurônios com receptores GLP-1 nessas regiões específicas do cérebro de camundongos com um vírus geneticamente modificado. Eles, então, deram às cobaias um remédio que imita o GLP-1, a semaglutida ou exenatida, que também tem efeitos de perda de peso.

Foi observado que camundongos que não tinham neurônios GLP-1 no rombencéfalo continuaram a comer normalmente, o que demonstrou que a eficácia dos medicamentos naquela área. Por outro lado, os medicamentos ainda funcionaram após a eliminação dos neurônios GLP-1 no hipotálamo. “Ficamos chocados com isso. A conclusão é que o rombencéfalo é realmente o principal local de ação dos medicamentos”, disse Amber Alhadeff, neurocientista do Monell Chemical Senses Center nos Estados Unidos, em entrevista a revista Nature.

Depois de descobrir onde os medicamentos atuam, os cientistas focaram sua pesquisa em regiões específicas do rombencéfalo: o núcleo do trato solitário (NTS), que recebe informações dos intestinos e outros órgãos, e a área postrema (AP), que, em seres humanos, ajuda a induzir o vômito.

Quando os pesquisadores ativaram os neurônios da área postrema, os animais tiveram náusea e aversão alimentar, o que resultou em uma diminuição na quantidade de comida consumida. Em comparação, a ativação dos neurônios do núcleo do trato solitário (NTS) levou os camundongos a comerem menos, mas sem demonstrar sinais de náusea.

Esses resultados sugerem que a diminuição do apetite e a indução de náusea são efeitos distintos causados pelos medicamentos.

Agora, as pesquisas devem ser direcionadas a encontrar uma maneira de ativar apenas os neurônios receptores GLP-1 do NTS ou todos os outros neurônios receptores GLP-1, evitando apenas aqueles no AP. Com isso, seria possível bloquear o efeito das náuseas sem excluir a sensação de saciedade que os remédios garantem.

Mais recente Próxima Estudo diz que é possível diagnosticar autismo a partir de micróbios do intestino
Mais de Galileu

Dados de pesquisadores brasileiros mostram que o patógeno passou por alterações que o tornaram mais agressivo, contribuindo para o ressurgimento da doença no Brasil entre 2023 e 2024

Casos da febre do oropouche crescem quase 200 vezes em relação à última década

Em testes feitos em laboratório, o material se mostrou promissor. No entanto, são necessários mais estudos, que analisem como esses curativos interagem com órgãos humanos

Band-aid cardíaco impresso em 3D pode reparar tecidos do coração

Em águas turbulentas, onde peixes solitários necessitam de mais esforço para nadar, os cardumes se protegem e podem fazer com que animais poupem energia

Nadar em cardumes pode fazer peixes economizarem energia

Supostos restos mortais do compositor alemão serviram como base a estudos anatômicos que ajudaram a produzir a reconstrução facial, chefiada por brasileiro. Confira o resultado

Recriado em 3D o rosto de Bach, compositor morto no século 18

Aves são primordiais na dispersão e distribuição de sementes, e seus hábitos alimentares podem mudar ecossistema. É o que notou uma nova pesquisa, que contou com participação brasileira

Dieta de pássaros é um indicador da conservação de florestas, diz estudo

O Estádio Ullevaal, na Noruega, utiliza um sistema de painéis fotovoltaicos vertical, que aumenta o potencial de geração de energia pelo Sol em 20 a 30%

Maior telhado solar do mundo é instalado na cobertura de estádio de futebol

Usando técnicas mais modernas, uma dupla de arqueólogas voltou a investigar a curiosa múmia egípcia, descoberta 90 anos atrás. Veja aqui o que eles descobriram

Investigada múmia da "mulher que grita", que pode ter agonizado há 3500 anos

Descoberto por acidente, o material absorve mais luz do que tintas pretas comuns, e pode ter aplicações na astronomia, óptica e energia solar

Criado novo material ultrapreto que absorve quase 99% da luz

Desde que foi liberada para participar dos Jogos Olímpicos 2024, boxeadora Imane Khelif é alvo de alegações sobre sua identidade. Situação ganhou novos contornos após vitória nesta quinta-feira (1)

O que é intersexo? Caso de boxeadora em Paris 2024 gera onda de desinformação

É possível ativar áreas do cérebro relacionadas ao prazer encontrando soluções para problemas difíceis, por exemplo. Entenda por que pensar pode ser prazeroso na coluna de Daniel Barros para a GALILEU

Pensar é gostoso – pelo fim do preconceito contra o prazer intelectual