Saúde

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Se há alguns anos se acreditava que a introdução precoce de alimentos considerados alergênicos era um fator de risco, agora pesquisas vêm mostrando que, pelo contrário, a medida ajudaria a afastar o problema. Entre os principais ingredientes por trás de reações alérgicas estão o leite de vaca, o ovo, a soja, o trigo, as castanhas e nozes, os peixes e os frutos do mar. O amendoim também ocupa lugar de destaque e foi o escolhido para um estudo, publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine.

O trabalho mostrou que o consumo desse alimento já nos primeiros meses de vida está relacionado a uma maior tolerância e ajudaria a prevenir reações alérgicas a ele em longo prazo. Para chegar a essa conclusão, os estudiosos avaliaram dados de 508 participantes, acompanhados desde bebês. Eles foram divididos em grupos, sendo que um recebeu amendoim bem antes do primeiro aniversário e o outro não consumiu o alimento nesse período.

Após 12 anos, constatou-se uma frequência menor de alergia entre aqueles que experimentaram o amendoim precocemente. Para os que tiveram o contato postergado, observou-se uma maior prevalência da condição. “Outros trabalhos também apontam essa relação, inclusive algumas novas diretrizes recomendam a introdução de alimentos com potencial alergênico já entre 4 e 6 meses”, comenta o pediatra e alergista Victor Nudelman, do Hospital Israelita Albert Einstein. A exceção seria o leite de vaca integral, que só deve ser oferecido após 1 ano de idade.

No Brasil, no entanto, a recomendação é a de aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e só depois começar a introdução alimentar. Por isso, nada de oferecer alimentos ao seu bebê por conta própria — é fundamental buscar a orientação do pediatra que acompanha a criança antes de qualquer atitude.

Até porque há muita confusão em torno das alergias alimentares, que muitas vezes são confundidas com intolerância. “A alergia é uma resposta diferenciada do sistema imunológico frente a proteínas presentes em alguns alimentos”, explica o médico.

Quem é geneticamente predisposto reconhece alguns componentes proteicos como corpos estranhos, o que acarreta a produção de uma série de mediadores inflamatórios responsáveis por reações exacerbadas. Os principais mecanismos imunológicos incluem imunoglobulinas específicas do tipo E (IgE), que disparam sintomas como inchaços nos olhos e na boca, além de vômitos e diarreia, entre outros.

“Já as intolerâncias alimentares podem ter relação com problemas na digestão de açúcares, como é o caso da intolerância à lactose”, diz Nudelman. Quando o organismo produz pouca enzima lactase – a responsável pela digestão desse açúcar do leite – surgem distúrbios gastrointestinais como distensão abdominal, flatulência e diarreia. Nessas situações não há, portanto, reações que envolvam o sistema imune e elas são menos frequentes em bebês.

Apesar dos poucos dados estatísticos nacionais sobre a prevalência das alergias alimentares, a percepção é de que houve um aumento dos casos nas últimas décadas. Entre as hipóteses que explicariam esse crescimento, destaca-se a influência do ambiente – dieta, sedentarismo, entre outros hábitos de vida, além da mudança climática e da urbanização. “Alguns desses fatores podem ter impacto até na genética, o que se define como epigenética, e passar de geração em geração”, aponta o pediatra.

Para o diagnóstico certeiro, existe o chamado teste de provocação, em que os alimentos são oferecidos e se avaliam as reações. “Deve ser realizado em ambiente com recursos de atendimento de urgência e com supervisão do alergologista”, avisa o médico do Einstein.

Com a confirmação, o tratamento inclui a retirada dos ingredientes alergênicos, que deve ser feita com orientação do alergologista e de nutricionista especializado. “Assim se evitam prejuízos ao crescimento e desenvolvimento da criança”, assegura Victor Nudelman.

Texto publicado originalmente pela Agência Einstein.

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