Saúde

Por Sofia Barbosa Boucas, para o The Conversation

Você acha que sonha acordado com frequência? Você costuma estar letárgico e tende a se desengajar facilmente ao realizar uma tarefa? Você pode ter a síndrome do desengajamento cognitivo, ou SDC.

A SDC foi descrita pela primeira vez por psicólogos nas décadas de 1960 e 1970, quando perceberam que algumas pessoas exibem esses traços de forma mais persistente do que outras. Mas por que isso é considerado uma síndrome em vez de apenas uma característica peculiar da personalidade?

A distinção está no efeito. Para as pessoas com SDC, seu comportamento interfere significativamente em suas vidas diárias, desempenho acadêmico e interações sociais.

Enquanto todos sonham acordados ocasionalmente, aqueles com SDC acham difícil manter o foco em tarefas por longos períodos. Não se trata apenas de falta de atenção ou preguiça, a SDC é um padrão persistente que pode atrapalhar a capacidade de uma pessoa de ter sucesso em várias áreas da vida. Diferentemente do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que inclui hiperatividade e impulsividade, a SDC é caracterizada pelo seu “ritmo cognitivo lento” – um nome anterior para a condição.

A condição não é reconhecida como um “transtorno de atenção” distinto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a classificação padrão de transtornos mentais usada por profissionais nos EUA. No entanto, o crescente corpo de pesquisas sugere que merece mais atenção e deve ser vista separadamente do TDAH.

Uma forma de distinguir os dois é que, se uma pessoa tem TDAH, ela é capaz de se concentrar em algo, mas provavelmente se distrairá e mudará seu foco para outra coisa. Se uma pessoa tem CDS, ela é incapaz de se concentrar em primeiro lugar.

Como identificamos a SDC?

O diagnóstico é complicado porque não existem critérios oficiais. No entanto, alguns psicólogos usam uma combinação de questionários e observações comportamentais para avaliar sintomas como devaneios frequentes, confusão mental e lentidão no processamento.

Pais e professores costumam relatar esse comportamento em crianças que parecem “desligadas” ou que demoram mais para responder a perguntas e completar tarefas.

A lentidão no processamento significa que as pessoas demoram mais para absorver informações, entendê-las e responder. Por exemplo, na escola, um aluno com lentidão no processamento pode demorar mais para responder a uma pergunta ou completar uma tarefa porque precisa de mais tempo para entender o material e pensar na resposta. Isso não se deve à falta de inteligência ou esforço – o cérebro deles simplesmente processa informações em um ritmo mais lento.

O suporte e o tratamento para a SDC ainda estão em evolução. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é comumente usada para ajudar as pessoas a desenvolver melhores maneiras de lidar com a situação e melhorar o foco.

Alguns pesquisadores estão explorando o uso de medicamentos estimulantes, semelhantes aos usados para o TDAH, mas as evidências ainda são inconclusivas.

Mudanças no estilo de vida, como ter uma rotina de sono mais estável e incorporar exercícios regulares, também são recomendadas para ajudar a gerenciar os sintomas.

Falta de conscientização

Uma das maiores dificuldades é a falta de conscientização. Muitas pessoas, incluindo alguns profissionais de saúde, podem descartar a SDC como mera preguiça ou falta de esforço. Esse estigma pode impedir que as pessoas busquem ajuda e recebam o suporte de que precisam.

Apesar da falta de reconhecimento oficial, estima-se que a SDC possa afetar uma parte significativa da população. Estudos sugerem que pode ser tão comum quanto o TDAH, que afeta cerca de 5% a 7% das crianças. Isso indica que um número substancial de pessoas pode estar lutando com os sintomas da SDC sem nem mesmo saber.

Entender a SDC é crucial porque pode ajudar os afetados a obter o suporte de que precisam. Ao reconhecer que o comportamento de CDS não são apenas peculiaridades – ou uma tentativa de mostrar que você é descolado demais para se importar – mas potenciais indicadores de um problema mais amplo, podemos apoiar melhor as pessoas na gestão de seus sintomas e na melhoria da qualidade de vida.

*Sofia Barbosa Boucas é Professora de Psicologia na Universidade de Brunel, em Londres, na Inglaterra. Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.

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