Educação

Por Redação Galileu

A empresa de brinquedos Mattel foi criticada por “marketing furtivo” depois de distribuir bonecas Barbie e Ken gratuitamente para 700 escolas do Reino Unido como parte de um programa para ensinar “empatia” às crianças da educação primária.

Segundo a Mattel, o projeto "Barbie School of Friendship" (“Escola da Amizade da Barbie”) se baseia em pesquisas em neurociência, mas especialistas questionam tais estudos e se dizem preocupados com os potenciais efeitos negativos das bonecas em termos de estereótipos de gênero, questionando se empresas deveriam poder implantar seus produtos livremente nas escolas.

Escolas da Barbie

As Barbies foram entregues de graça aos alunos para realizar exercícios de dramatização, potencialmente podendo ser usadas por mais de 150 mil estudantes, segundo informou a Mattel ao jornalista investigativo Hristio Boytchev, que publicou um artigo sobre o assunto em 20 de julho no The British Medical Journal (The BMJ).

Cada escola inscrita no programa recebeu um pacote com 12 bonecas Barbie e Ken, planos de aula para atividades de dramatização, um guia para professores, orientações sobre crianças com necessidades educacionais especiais e deficiências, flashcards, certificados, adesivos para alunos, um cartaz, um folheto sobre uma competição, informações para dar aos pais e imagens adicionais de bonecas para serem recortadas.

A Mattel forneceu os materiais didáticos a Boytchev, que detalhou que todos são marcados com o logotipo da empresa, da Barbie e da Super (empresa de marketing envolvida na criação e promoção do programa). Os logos estão inclusive em um pôster de sala de aula e folhetos para os alunos mostrando fotos de bonecas.

Alguns dos folhetos dizem: “Entre no concurso 'Escola de Amizade da Barbie' para ter a chance de ganhar um Pacote de Brinquedos da Barbie no valor de £100 !!”. Além disso, as instruções falam para as crianças “desenharem um amigo/Barbie/Ken” expressando um sentimento de sua escolha para enviar a Super para uma chance de vencer a competição.

A Mattel foi criticada por "marketing furtivo" ao entregar Barbies gratuitas para ensino em escolas primárias no Reino Unido — Foto: Elena Mishlanova/Unsplash
A Mattel foi criticada por "marketing furtivo" ao entregar Barbies gratuitas para ensino em escolas primárias no Reino Unido — Foto: Elena Mishlanova/Unsplash

Especialistas preocupados

Philippa Perry, psicoterapeuta e autora de livros sobre parentalidade e educação, alertou que o projeto a deixa desconfiada de que possa ser explorador diante das crianças. “Sinto uma leve repulsa por isso”, disse ela.

May van Schalkwyk, registradora especializada em saúde pública na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, concorda que o programa é alarmante. Ela observa que “entidades comerciais como a Mattel não são especialistas em saúde ou educação infantil", mas sim "especialistas em vender produtos para maximizar lucros”.

Segundo van Schalkwyk, os materiais da empresa são fortemente marcados. “Por que as crianças deveriam ser expostas a esse tipo de marketing furtivo?”, questiona a especialista, acrescentando que, quando comparada a outros brinquedos, a exposição a uma boneca Barbie pode ter efeitos negativos, como moldar a percepção das meninas sobre suas opções de carreira ou sua internalização do ideal de magreza, com efeitos de logo prazo amplamente desconhecidos.

O que diz a Mattel

A companhia alega que a pesquisa que patrocinou mostrou que brincar com Barbies oferece “grandes benefícios”, a exemplo do desenvolvimento de habilidades sociais como a empatia. O estudo registrado em artigo em 2020 fez parte de uma colaboração de cinco anos entre a Mattel e a Universidade de Cardiff e revelou maior atividade cerebral em crianças quando brincavam com bonecas da empresa do que quando jogavam em tablets eletrônicos.

Uma reanálise patrocinada pela Mattel do mesmo grupo experimental concluiu em 2022 que as crianças que brincavam com bonecas usavam mais “linguagem de estado interno” para descrever sentimentos e pensamentos.

Franziska Korb, psicóloga da Universidade de Tecnologia de Dresden, na Alemanha, disse ao The BMJ que a ideia do estudo era boa e seus métodos apropriados. Mas ela apontou que, embora os pesquisadores tenham encontrado diferenças significativas entre as brincadeiras de boneca e tablet, essas diferenças desapareciam quando as crianças brincavam com um adulto. Portanto, segundo ela, isso não basta para fazer declarações sobre efeitos comportamentais ou de desenvolvimento a longo prazo.

A autora sênior de ambos os estudos, Sarah Gerson, professora sênior da Universidade de Cardiff, concorda que a maior atividade cerebral encontrada está relacionada ao jogo individual e não social — uma limitação expressa nos artigos, mas não nos materiais da Mattel para as escolas.

Segundo a cientista, os exercícios em sala de aula não são baseados diretamente na pesquisa. Ela admite que achou o programa interessante, mas teve algumas ressalvas: “Eu acho que é complicado, com certeza”, disse ela, acrescentando que havia “ambiguidade moral” sobre isso.

Contraditoriamente, Aaron Lipman, diretor fundador da Super, defende que a ciência foi importante para o projeto nas escolas. “Não queríamos que os professores pensassem que se tratava de um empreendimento comercial para vender mais Barbies”, conta. Segundo ele, os materiais "não continham mensagens de vendas" e as crianças não foram solicitadas a fazer nada além de aprender com o conteúdo educacional.

Opinião de professora

A professora Lisa Georgeson, da Escola Primária Lord Blyton em Tyne and Wear, que participou do programa, diz que a oferta de bonecas gratuitas e materiais foi positiva dada a atual falta de financiamento nas escolas.

Um assistente de ensino realizou sessões de meia hora uma vez por semana durante sete semanas, trabalhando com cerca de oito meninos e meninas, de acordo com Georgeson. Ela disse que as crianças gostaram das sessões, que as ajudaram a se envolver em discussões positivas sobre amizade, habilidades sociais, empatia, estereótipos, deficiências e bondade.

“Estamos em uma área relativamente carente socialmente, e muitos de nossos filhos não têm a oportunidade de se envolver em atividades de fala e audição sobre assuntos como esses”, argumentou a professora.

O Departamento de Educação do Reino Unido não respondeu o The BMJ se estava ciente da campanha da Mattel e se avaliou os materiais. “Cada escola tem autonomia sobre os materiais que usa, desde que sejam factuais e adequados à idade”, disse um porta-voz. “No próximo ano, o financiamento escolar estará em seu nível mais alto da história – em termos reais”, acrescentou.

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