Cientistas sequenciaram DNA a partir de ossos não marcados e fragmentados deixados no século 19 em um cemitério, revelando os restos históricos dos sobrinhos-netos de George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos.
Junto das ossadas dos sobrinhos, reconhecidos como Samuel Walter Washington e George Steptoe Washington Jr., estavam ainda os resquícios da mãe de ambos, Lucy Payne Washington. A descoberta foi registrada em 28 de março na revista Cell Press.
Uma equipe do Laboratório de Identificação de DNA das Forças Armadas (AFMES-AFDIL) propôs identificar restos de sepulturas não marcadas no cemitério de Harewood, em Charles Town, no estado norte-americano de Virgínia Ocidental.
Os pesquisadores realizaram uma série de testes genéticos nos restos junto a análises do material genético de um descendente vivo, Samuel Walter Washington (S.W. W. na árvore genealógica abaixo). Mais precisamente, a equipe avaliou o DNA do cromossomo Y para avaliar relacionamentos paternos e o sequenciamento do DNA mitocondrial para investigar relacionamentos maternos.
![Árvore genealógica de Samuel Walter Washington (estrela azul) limitada aos ancestrais relevantes para os relacionamentos discutidos no estudo — Foto: Courtney Cavagnino](https://s2-galileu.glbimg.com/5VsfijEMb1XO4ZFkIixxVJhlx-o=/0x0:590x382/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/N/i/sO9fD1QmSb16Cebc2A7g/gr3.jpg)
Além disso, os cientistas usaram um método recém-desenvolvido para analisar dados de sequenciamento de próxima geração (NGS), incluindo cerca de 95 mil polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) (uma forma muito comum de variação genética em sequências de DNA).
Isso revelou um grau de parentesco mais próximo do que o esperado entre os três indivíduos enterrados e o descendente vivo de George Washington. Tal relação se deve, segundo os pesquisadores, a casamentos entre primos cruzados na árvore genealógica da família Washington.
Agora os cientistas esperam aplicar as técnicas para identificar os restos mortais de combatentes perdidos ao redor do mundo em conflitos passados, remontando à Segunda Guerra Mundial. "A capacidade de testar amostras históricas como os restos do cemitério de Harewood nos permite avaliar e melhorar as metodologias aplicadas às nossas amostras de casos que têm qualidade similar aos restos históricos, e muitas vezes até mais degradadas", diz a primeira autora do estudo, Courtney Cavagnino, do AFMES-AFDIL, em comunicado.
Conforme explica Charla Marshall, Diretora Adjunta das Operações de DNA do Departamento de Defesa dos EUA, um dos métodos mais comuns usados por cientistas no estudo forense é a análise de repetição de sequências curtas (STR). Mas esta é impossível de ser usada com restos degradados, especialmente aqueles preservados com técnicas de embalsamamento pós-guerra envolvendo formaldeído.
Já técnicas como a abordada no novo estudo poderão expandir o grupo de doadores de amostras de referência familiar viáveis para parentes de 3º e 4º graus. Isso poderá aumentar o número de identificações assistidas por DNA, "especialmente daqueles de conflitos passados como a Segunda Guerra Mundial, Coreia, Guerra Fria e Sudeste Asiático/Vietnã", cita a especialista.