Sociedade

Por Redação Galileu

Um relatório publicado na terça-feira (26) na revista científicaThe Lancet analisa como a desigualdade de gênero têm impactos negativos na forma como as mulheres lidam com a prevenção, o cuidado e o tratamento do câncer ao redor do mundo.

Chamado Women, power, and cancer: A Lancet Commission, o artigo reuniu uma equipe multidisciplinar global, incluindo acadêmicos com experiência em estudos de gênero, direitos humanos, direito, economia, ciências sociais, epidemiologia, prevenção e tratamento do câncer. Os especialistas analisaram como as mulheres no planeta todo vivenciam o câncer, e, a partir disso, fazem recomendações a governos e à sociedade civil sobre novas políticas de saúde.

"Em todo o mundo, a saúde da mulher geralmente se concentra na saúde reprodutiva e materna, alinhada com definições antifeministas estreitas do valor e dos papéis da mulher na sociedade. Mas o câncer permanece totalmente subrepresentado", afirma em nota a oncologista Ophira Ginsburg, consultora sênior de pesquisa clínica do Centro para Saúde Global do Instituto do Câncer nos Estados Unidos e copresidente do grupo que encabeçou a análise da Lancet.

Um artigo que acompanha o novo relatório se baseou nos dados de mortalidade do câncer registrados pelo Globocan 2020, da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer. Com esse levantamento do grupo atrelado à Organização Mundial de Saúde (OMS), a publicação da Lancet estimou que 5,3 milhões de adultos com menos de 70 anos morreram devido a essa doença em 2020 – sendo que 2,3 milhões dessas mortes foram de mulheres.

A pesquisa ainda sugere que 1,5 milhão de mortes prematuras por câncer em mulheres poderiam ser evitadas a cada ano por meio da eliminação de exposições aos principais fatores de risco ou pela detecção e diagnóstico precoces. Além disso, outras 800 mil vidas poderiam ser salvas anualmente se todas as mulheres tivessem acesso a um tratamento ideal para a condição.

"Embora os homens corram um risco maior para a maioria dos tipos de câncer que se desenvolvem em ambos os sexos, as mulheres têm aproximadamente a mesma carga de todos os cânceres combinados, com 48% dos casos de câncer e 44% das mortes pela doença em todo o mundo ocorrendo em mulheres", destaca a médica Verna Vanderpuye, consultora sênior do Hospital Universitário Korle Bu, de Gana, e copresidente da comissão da Lancet.

Desigualdades que impactam a saúde

Segundo o relatório, as mulheres costumam ter menos acesso à educação e a empregos, e, em relação aos homens, têm menos probabilidade de ter recursos financeiros que possam ajudar em tratamentos do câncer. Para se ter uma ideia, um estudo realizado em oito países asiáticos revelou que quase três quartos das mulheres com a doença relataram grandes despesas no ano seguinte ao diagnóstico, com 30% ou mais do rendimento anual da renda familiar investida no tratamento.

"As normas de gênero levam as mulheres a priorizar as necessidades de suas famílias em detrimento de sua própria saúde, o que às vezes leva ao adiamento da busca por atendimento médico", observa Nirmala Bhoo-Pathy, coautora do relatório e professora de epidemiologia da Universidade da Malásia.

Desigualdade de gênero impacta cuidados com o câncer entre mulheres — Foto: National Cancer Institute via Unplash
Desigualdade de gênero impacta cuidados com o câncer entre mulheres — Foto: National Cancer Institute via Unplash

Outro ponto analisado no artigo é o sexismo nos sistemas de saúde, que pode levar as mulheres a receber cuidados de qualidade inferior. O relatório aponta que diversas pesquisas já descobriram, por exemplo, que as mulheres com câncer têm maior probabilidade de relatar alívio inadequado da dor e correm maior risco de subtratamento dessa sensação desagradável em comparação com os homens.

Inclusive, segundo a nova análise global, os preconceitos de gênero podem ser intensificados quando a paciente com câncer também pertence a um grupo étnico ou indígena marginalizado, ou faz parte de uma minoria social em relação à sua identidade de gênero ou orientação sexual. Isso foi demonstrado por um estudo recente dos Estados Unidos: ele descobriu que mulheres negras e LGBTQIAP+ relatavam sofrer maior estigma interseccional do que qualquer outro grupo. Essa desaprovação social foi associada a um risco 2,4 vezes maior de atrasos na procura de cuidados de câncer da mama em comparação com mulheres brancas heterossexuais e cis.

As desigualdades de gênero também afetam na representatividade feminina em organizações relacionadas ao câncer – especialmente na Ásia, África e Europa. Ademais, dos 184 membros da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) classificados como hospitais, centros de tratamento ou institutos de pesquisa, só 16% são liderados por mulheres.

Medidas a serem tomadas

A partir desses dados, o relatório da Lancet argumenta que sexo e gênero devem ser contemplados em todas as políticas e diretrizes relacionadas ao câncer, tornando-as sensíveis às necessidades e às aspirações de todas as mulheres – sejam elas pacientes, prestadoras de cuidados ou pesquisadoras.

Os membros da comissão global defendem que novas estratégias devem ser implementadas para aumentar a conscientização do público feminino em torno dos fatores de risco e sintomas da doença. Além disso, é necessário aumentar o acesso equitativo à detecção precoce e ao diagnóstico dessa condição de saúde.

Quanto aos esforços para uma representação igualitária de mulheres em cargos de liderança na força de trabalho contra o câncer, os especialistas ressaltam a importância do acesso justo à liderança, aos recursos de pesquisa sobre a doença e a oportunidades de financiamento para as mulheres.

"As desigualdades de gênero afetam significativamente as experiências das mulheres com o câncer. Para resolver isso, precisamos que o câncer seja visto como uma questão prioritária na saúde da mulher e pedimos a introdução imediata de uma abordagem feminista da doença", conclui Ophira Ginsburg.

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