Sociedade

Por Beatriz Herminio, com edição de Guilherme Eler

Em um espaço improvisado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um grupo de cerca de 20 pessoas, entre professores, estudantes e voluntários, trabalha na recuperação de fotografias encharcadas e sujas de lama.

O projeto Resgate de Memórias é uma criação do Núcleo de Antropologia Visual (Navisual), e está ajudando a salvar lembranças danificadas nas enchentes que atingiram o estado gaúcho no primeiro semestre de 2024. O desastre afetou 2,3 milhões de pessoas e causou 179 mortes, segundo o balanço da Defesa Civil do RS divulgado no início de de julho.

“Nossa equipe vibra a cada salvamento. É muito emocionante, em meio a tantas perdas, termos achados”, afirma Fabiene Gama, professora adjunta do Departamento de Antropologia da UFRGS e coordenadora do Navisual.

Cada foto passa por um processo de documentação, lavagem, secagem, armazenamento e, se necessário, restauração digital. Em uma corrida contra o tempo, o projeto ainda foca nas primeiras etapas, que são essenciais para interromper a deterioração em curso.

Foi nesse processo que surgiu um caso que emocionou a equipe: a descoberta de uma foto quase intacta escondida entre fotos grudadas em um álbum familiar. Ele pertencia a uma moradora do bairro de Vila Farrapos, em Porto Alegre. "Enviamos o vídeo para a Bárbara [dona do registro], que ficou muito emocionada ao rever a fotografia e descobrir seu estado”, afirma Gama. "Estamos lidando com materiais sensíveis, muito pessoais, que as pessoas consideram seu bem mais precioso."

O vídeo do momento em que a foto é encontrada após a remoção dos plásticos foi publicado no Instagram do projeto. Assista abaixo.

Inicialmente, o projeto funcionava em um abrigo, e a própria equipe resgatou os álbuns e orientou voluntários de limpeza a não jogar fotografias no lixo. Conforme a demanda aumentou, o intuito passou a ser atender as pessoas em suas casas -- mas isso também se tornou inviável. Com mais de mil pedidos de ajuda, a equipe prioriza o atendimento àqueles que não têm espaço em casa para lavar as fotos.

Além disso, ela capacita voluntários e oferece orientações online para que as famílias possam realizar os primeiros cuidados por conta própria. “Algumas pessoas conseguiram realizar as primeiras lavagens, outras ainda não conseguiram sequer voltar para casa", conta Gama.

Ao manusear fotografias, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) é essencial — Foto: Cristina Lima
Ao manusear fotografias, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) é essencial — Foto: Cristina Lima

Como salvar fotografias sujas e molhadas

“O tempo para o salvamento depende de uma série de fatores, tais como tamanho do dano, tipo do material e técnica de impressão”, diz Gama. Ela explica que o tempo que os materiais ficaram imersos em água e o contato com a lama interfere no trabalho. Mas é possível minimizar os dados seguindo algumas orientações. Veja abaixo.

1. Se previna

Em primeiro lugar, é recomendado usar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para manusear os materiais, como luvas, óculos, galocha e máscara, o que evita qualquer tipo de contaminação.

2. Faça imagens do material

Também é importante fotografar as imagens. Assim, caso a limpeza provoque algum dano às fotos, ainda é possível recuperá-las com técnicas digitais. Para isso, a fotografia deve ser feita sob luz natural, como aquela vinda da janela. A câmera deve estar posicionada paralelamente à imagem, e as bordas da foto devem estar alinhadas com as bordas do enquadramento. É recomendável não usar o zoom digital, especialmente ao fotografar com o celular.

3. Separação das fotos

O primeiro passo para recuperar fotografias danificadas consiste em separá-las. Se estiverem em um álbum, podem ser retiradas com um estilete, verificando se estão presas ao plástico. Caso estejam soltas, o plástico pode ser cortado para liberar a foto; se estiverem coladas, é melhor mantê-las no álbum para a lavagem.

4. Lavagem

A lavagem do material evita a sua deterioração. As fotos coloridas devem ser priorizadas em detrimento daquelas em preto e branco, pois desgastam mais rápido.

Para limpar fotos sujas, recomenda-se mergulhá-las em uma bacia com água limpa e fria. Se necessário, é possível transferi-las entre duas bacias, mas deve-se evitar tocar ou esfregar suas superfícies. Fotos grudadas podem ser mais facilmente separadas quando submersas em água.

5. Secagem

Já a secagem deve ser feita à sombra, pendurando as fotos em um varal em local ventilado ou colocando-os sobre papel absorvente, por pelo menos 72 horas. Desumidificadores e ventiladores podem ser bons aliados, desde que nunca apontados na direção das fotos. Para fotografias secas, mas que ficaram onduladas, recomenda-se prensá-las com livros e objetos pesados. Em caso de problemas como perda de qualidade, em qualquer etapa, é aconselhável interromper o procedimento.

Se, mesmo após limpas e secas, as fotos ainda apresentarem danos visíveis, é possível recuperá-las através de técnicas de edição digital. Nesses casos, o melhor a fazer é procurar alguém treinado em softwares de edição.

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