Você saberia distinguir piadas escritas pelo ChatGPT daquelas assinadas por pessoas de carne e osso? A resposta é: muito provavelmente, não. Foi nisso que se baseou uma pesquisa feita na Universidade do Sul da Califórnia e publicada na revista científica PLOS ONE. Os participantes do estudo avaliaram a graça das piadas sem conhecer seu autor. Quase 70% dos voluntários acharam a inteligência artificial generativa mais engraçada que os humanos. Que ironia, não?
"Como o ChatGPT não consegue sentir emoções, mas conta piadas novas melhor do que o ser humano médio, esses estudos comprovam que não é necessário sentir as emoções de uma boa piada para saber qual é realmente boa", afirmou Drew Gorenz, doutorando em psicologia social na Faculdade de Letras, Artes e Ciências da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, em comunicado.
Para o primeiro estudo, com 105 participantes, os cientistas pensaram três tarefas. A primeira delas envolveu criar frases engraçadas para acrônimos. É algo mais ou menos como quando você escreve o nome de alguém na vertical e, com cada letra, lista uma característica da pessoa. "JOÃO", por exemplo poderia ser "J = Jovem", "O = original", "A = amoroso", O = organizado", e por aí vai.
A segunda envolvia preencher espaços em branco de frases pré-determinadas com respostas engraçadas. Um dos exemplos usados nessa atividade foi escreva "uma conquista notável que você provavelmente não listaria em seu currículo".
Por fim, o grupo pediu que os participantes criassem uma piada baseada em sarcasmo a partir de uma história fictícia. Uma delas envolveu imaginar um cenário em que sua amiga te pede para avaliar o quão bem ela canta. Após ouvir uma cantoria de doer os ouvidos, você precisa comparar isso a alguma outra experiência, em forma de piada, dizendo "para ser honesto, ouvir isso foi como...".
Todas as tarefas foram feitas tanto por humanos quanto pelo ChatGPT 3.5. Apenas 5% dos participantes classificaram ambos como igualmente engraçados, sendo que pouco mais de 25% riram mais das piadas criadas por pessoas.
Já um segundo estudo propôs comparar o conteúdo gerado pelo ChatGPT ao trabalho de humoristas profissionais. Isso foi feito por meio da criação de manchetes ao estilo do jornal norte-americano The Onion, especializado na criação de notícias falsas em forma de sátira. Ao avaliar as manchetes, os participantes acharam o ChatGPT tão engraçado quanto o The Onion.
Segundo Gorenz, a ideia para o estudo surgiu, em partes, devido à preocupação de profissionais do entretenimento com os modelos de linguagem de aprendizado profundo (LLMs), a exemplo do ChatGPT, na produção de conteúdos. Eles temem que a IA represente uma ameaça a suas profissões, à arte e à criatividade humana.
"As implicações são mais positivas para as pessoas que simplesmente querem colher os benefícios de elevar suas comunicações cotidianas com uma dose de humor", escreveram os pesquisadores no artigo. "Mas, para os escritores profissionais de comédia, nossos resultados sugerem que os LLMs podem representar uma séria ameaça ao emprego."