Um Só Planeta

Por Redação Galileu

Durante a Revolução Industrial, em meados do século 18 e final do século 19, obras impressionistas de Claude Monet e Joseph Mallord William Turner retratavam paisagens embaçadas e nebulosas. Segundo um novo estudo, a visão desfocada dos artistas não era fruto da imaginação deles ou mero estilo, mas um retrato da poluição do ar.

A pesquisa foi publicada em 31 de janeiro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Os autores são Anna Lea Albright, da Universidade Sorbonne, na França, e Peter Huybers, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

A dupla examinou aproximadamente 100 obras de arte dos dois pintores impressionistas. De acordo com os pesquisadores, o que entusiastas da arte consideram um “estilo de pintura” de Monet e Turner era, na verdade, os artistas "capturando mudanças no ambiente óptico" associadas a uma diminuição na qualidade do ar, enquanto fábricas de queima de carvão começaram a surgir nas cidades europeias.

Os cientistas se concentraram nos níveis locais de emissão de dióxido de enxofre em Londres e Paris nos períodos dA Revolução Industrial, assim como nas formas como a poluição pode interagir com a luz, aumentando a intensidade ou "brancura" de uma imagem.

"A poluição do ar absorve e espalha a luz, fazendo com que os objetos à distância pareçam mais nebulosos", explicou Albright, ao site Live Science, por e-mail. "Ao espalhar a luz de fundo de todos os comprimentos de onda na linha de visão, a presença da poluição do ar dá às imagens uma tonalidade mais branca.”

As cenas nebulosas e esbranquecidas foram avaliadas em algumas das pinturas mais renomadas dos artistas, incluindo As casas do parlamento, pôr do sol, de Monet (1903) e Chuva, Vapor e Velocidade - O Grande Caminho de Ferro do Oeste, de Turner (1844).

Esquema mostra que Monet pode ter retratado poluição do ar nas pinturas de sua série de obras 'Casas do Parlamento'  — Foto: Albright et.al
Esquema mostra que Monet pode ter retratado poluição do ar nas pinturas de sua série de obras 'Casas do Parlamento' — Foto: Albright et.al

Em seguida, os cientistas compararam a poluição do ar em Paris e Londres na época aos níveis vistos em megacidades modernas, como Pequim, Nova Deli e Cidade do México.

Impressionismo industrial?

Segundo contextualiza Albright, Turner pintou antes de Monet, cuja obra se deu na Segunda Revolução Industrial, em Londres e Paris. “Costuma-se dizer que Turner nasceu na era da vela e morreu na era do vapor e do carvão – sua vida abrange um período de mudanças ambientais sem precedentes”, afirma.

O pintor britânico morava em Londres, onde na primeira Revolução Industrial esses grandes aumentos na poluição do ar se concentraram, segundo a cientista. Não por acaso, a cidade era conhecida como Big Smoke, o que significa “grande fumaça” em inglês.

Ao analisar as obras das carreiras dos pintores, Albright, notou que os contornos de suas pinturas se tornaram mais nebulosos e que a paleta parecia mais branca. O padrão, segundo ela, parecia menos figurativo e mais impressionista.

“O impressionismo é frequentemente contrastado com o realismo, mas nossos resultados destacam que as obras impressionistas de Turner e Monet também captam uma certa realidade”, contrapõe o coautor do estudo, Peter Huybers, ao Live Science." Especificamente, Turner e Monet parecem ter mostrado de forma realista como a luz solar se filtra através da poluição e das nuvens.”

Os cientistas encontraram uma taxa de correlação de 61% entre poluição e contraste nas pinturas. Embora o estudo tenha centrado em Turner e Monet, os pesquisadores também examinaram outros pintores do século 19, incluindo seis obras de James Abbott McNeill Whistler, sete de Gustave Caillebotte, quatro de Camille Pissarro e uma de Berthe Morisot. Eles dizem ter detectado a mesma tendência de retratar o ar poluído.

Ao site Hyperallergic, Huybers explicou que é comum pensar na poluição como algo totalmente negativo — o que não era o caso antigamente. “Acho que também houve uma glorificação da indústria que estava ocorrendo e essa noção de que essa coloração e essas estruturas de plumas eram uma espécie de celebração, ou dignas de criar admiração e inspiração”, diz.

Um Só Planeta — Foto: Um Só Planeta
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