Um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Biologia Marinha do Havaí analisou um grupo de tubarões-martelo-recortados (Sphyrna lewini) para entender como os corpos desses animais reagem a atingir certas profundidades. A importância desse estudo é de que, ao contrário do peixe atum, os tubarões são conhecidos como animais de “sangue-frio”, ou seja, eles não conseguem regular a própria temperatura corporal sozinhos.
O equipamento atrelado aos animais continha um acelerômetro, que funciona como “um Fitbit para o tubarão”, rastreando o movimento, o vigor das batidas da cauda e a orientação do corpo. Além disso, outro dispositivo que registra a profundidade e a temperatura da água, bem como a temperatura interna do corpo do tubarão.
Após os 23 dias, os sensores se desprenderam dos corpos dos tubarões, emergindo até a superfície, sinalizando aos cientistas a localização dos animais. Ao pegar os dispositivos, os dados coletados foram surpreendentes.
Os tubarões mantiveram a temperatura corporal dentro de 0,1°C durante todo o mergulho e na maior parte do caminho de volta à superfície. Nos últimos 300 metros de sua subida, a temperatura corporal dos tubarões caiu apenas 2°C. Ao todo, os tubarões prenderam a respiração por, em média, 17 minutos a cada mergulho.
O comportamento e a profundidade que conseguiram alcançar surpreendeu os pesquisadores pelo fato de que, para um animal que não consegue se aquecer, o ato de ir às profundezas deveria enfraquecer a visão e a função cerebral do tubarão. Podendo ser, até mesmo, fatal, fazendo com que os músculos do predador se contraiam, o impedindo de avançar e empurrar água oxigenada para suas guelras.
De acordo com o estudo, os animais conseguiram descer tanto porque muito possivelmente estavam fechando suas guelras e bocas e mergulhando no fundo do oceano.
Essa estratégia permitiria que os tubarões-martelo-recortados se mantivessem aquecidos enquanto caçavam comida, ao desligar o consumo de oxigênio, impedindo que o calor do corpo saia para o oceano. A queda na temperatura mostrada na parte final da subida provavelmente ocorreu porque os tubarões abriram suas brânquias para respirar novamente ao se aproximarem de águas da superfície.
“O estudo torna o tubarão-martelo-recortado o primeiro peixe de mergulho profundo conhecido a prender a respiração", comenta Mark Royer, biólogo marinho da Universidade do Havaí em Manoa e autor principal da pesquisa, à revista Science. “É uma surpresa completamente inesperada. A refeição no fundo deve ser deliciosa.”