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Por Cleo


O Lobo. Ele. Um cara bon-vivant, definitivamente já passou dos 30. Frequenta bons restaurantes, festas badaladas – a vida para ele é uma curtição eterna. Sempre está com boas (e diversas) companhias femininas e de caras que o admiram, no melhor estilo “quero ser ele quando crescer”. Fez muitas viagens, perdeu a conta dos passaportes que tem, chegou ao equilíbrio perfeito entre aproveitar a vida e trabalhar. Com todos esses feitos, não tem tempo para perder com questões familiares, embora por descuido tenha feito um filho ou dois, mas tudo bem, afinal paga a pensão em dia e visita periodicamente. Para os filhos, ele é um herói que desaparece para salvar o mundo e volta entre uma batalha e outra para lhes dizer “oi”. No fim do dia, ele toma um vinho em seu apartamento vazio, e pela janela olha a paisagem da cidade e conclui: é um sujeito de sorte. Venceu na vida.

A Louca. Ela. Parece ter 28, mas já passou dos 30 faz tempo. Tem bom gosto, frequenta bons restaurantes e festas, muitas festas de quarta até domingo. A vida agitada não a impede de ser uma profissional excelente. Ainda não chegou no cargo mais alto da empresa, mas trabalha dobrado, pois entende que para ter a confiança do chefe e ganhar uma promoção precisa passar uma boa impressão. E da firma para dentro o terninho esconde a sua jovialidade – fala mais grosso que os caras e, depois das 18h, deixa a mulher que realmente é fluir pelas pistas de dança. Ela ama dançar. E beber e falar alto também. De quarta a domingo bebe, dança e fala alto. Sai com um cara ou dois, mas não precisa se envolver com ninguém no momento. Agora acha graça, mas durante um tempo fugia das tias que perguntavam sobre os namoradinhos, e claro, sobre ele, o relógio biológico. Sabe como é, o tempo passa e os hormônios já não são mais os mesmos…

Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães) — Foto: Glamour
Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães) — Foto: Glamour

Ela se basta. Nas férias, viaja o mundo sozinha, ou com amigos, ou com o boy da vez.
Ninguém lhe dá a devida credibilidade. Ela já ficou pra titia, e tem vizinho que jura que, por trás daquela capa de “mulher bem resolvida”, existe uma garotinha desesperada por um homem que a acolha. Mesmo assim, ao fim do dia ela toma seu whisky, olha a paisagem da cidade pela sua janela, e conclui: sim, ela já venceu na vida, mesmo tendo ficado para depois aquela promoção que tanto queria, já que hoje marcaram ela em uma foto de biquíni nas Bahamas.

Duas narrativas simples, de duas pessoas praticamente iguais no quesito modo de viver a vida. O que muda é a forma como quem está em volta deles os enxerga. Ele, um cara foda; ela, uma mulher sem rumo, louca… O filtro do gênero modifica nossas leituras sobre as duas histórias e sempre pende para o lado que descredibiliza o sucesso feminino pela ausência da figura masculina ao seu lado. Este é o segundo quesito do manual “como ser uma mulher de sucesso” (o primeiro, para quem não adivinhou, era o corpo perfeito): tenha um relacionamento estável, e, depois dos 30, por favor, tenha filhos, que assim ninguém vai encher seu saco. Cumpra aquilo que esperam de você. Trabalhe, mas não tanto; malhe, crie seus filhos e espere receber um dia as frases de aceitação: “nossa, nem parece que tem dois filhos”, “não entendo como você consegue fazer tantas coisas, parabéns”, “uma mulher assim, claro que é casada, nenhum homem correria o risco de te perder”, e blá, blá, blergh!

Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães) — Foto: Glamour
Cleo (Foto: Rodolfo Magalhães) — Foto: Glamour

Eu e uma geração inteira de mulheres não queremos isso para nós. E tenho certeza que mulheres de outras gerações, se pudessem escolher, se tivessem apoio familiar ou social para quebrar essa regra, também não fariam essa escolha. São mulheres que precisaram se adaptar às cobranças sociais e se tornaram mulheres infelizes, presas em casamentos falidos e, com certeza, mães muito aquém do que seriam se realmente tivessem optado por essa escolha de vida por vontade própria.

Elas também mereciam escolher seus próprios caminhos. Aceitem que somos lobas e loucas também. Lobas loucas solitárias, (ou em bando), bem-sucedidas e que não precisam de um macho a tiracolo para receber qualquer aprovação social, nem de filhos para provar que são confiáveis, imaculadas e responsáveis. Perguntaram pra Rihanna uma vez o que ela estava procurando em um homem e ela respondeu que não estava procurando um homem. A gente não precisa ter um homem. Claro que. se você quiser tudo bem, feminismo é sobre liberdade de escolhas, e sobre trabalhar para que as suas escolhas não te definam.

Mulheres, tomemos nossa liberdade de escolha em nossas mãos. Mundo, pare de ser chato e de nos julgar por nossas escolhas de vida. Agora vou tomar meu whisky olhando a paisagem da cidade pela janela e pensando: hoje não sei se venci na vida, mas dane-se. Não sou obrigada a ganhar todo dia.

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