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Por Por Paula Jacob (@pjaycob); Fotos Getty Images


Desde o discurso de Patricia Arquette no Oscar de 2014 e o movimento #MeToo, fomentado pelas reportagens que investigaram os casos de assédio de Harvey Weinstein, a indústria cinematográfica abriu os olhos para a desigualdade de gênero e raça nas principais premiações e produções ao redor do mundo. E mesmo o Festival de Cannes sendo um centro de divulgação de novos cineastas e de propagação de filmes excelentes, ele não escapa da lista de melhorias que o cinema precisa fazer em prol da diversidade em suas edições. Para se ter ideia, apenas uma mulher venceu o prêmio máximo do festival, a Palma de Ouro de Melhor Filme, desde o início da competição, em 1946; e Mati Diop foi a primeira cineasta negra a ser premiada nos 73 anos de festival. Os caminhos para a equidade no cinema ainda são árduos, por isso, no dia que o evento celebraria a sua 73ª edição – cancelada por conta do coronavírus –, nós enaltecemos 14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes. A seguir:

CANNES, FRANCE - MAY 12:  Filmmakers raise their arms as clap after Jury head Cate Blanchett with other filmmakers read a statement on the steps of the red carpet in protest of the lack of female filmmakers honored throughout the history of the festival a (Foto: WireImage) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 12: Filmmakers raise their arms as clap after Jury head Cate Blanchett with other filmmakers read a statement on the steps of the red carpet in protest of the lack of female filmmakers honored throughout the history of the festival a (Foto: WireImage) — Foto: Glamour

Não só uma, mas 82 mulheres se reuniram no Festival de Cannes de 2018 para protestarem contra a falta de igualdade de oportunidades e representatividade no cinema – e na história do evento. E o número "82" não é mera coincidência: até a sua 71ª edição, o festival só tinha registrado 82 filmes dirigidos por mulheres na competição por uma Palma de Ouro, e 1645 filmes dirigidos por homens. Na linha de frente dessa marcha, Cate Blanchett, presidente do júri daquele ano, Ava DuVernay, Agnès Varda, Kristen Stewart e Marion Cotillard. A manifestação histórica ocupou os famosos degraus vermelhos antes da sessão de Filhas do Sol (2018), filme da diretora francesa Eva Husson sobre mulheres curdas.

Aïssa Maïga

CANNES, FRANCE - MAY 16:  Aissa Maiga attends the screening of "Burning"  during the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 16, 2018 in Cannes, France.  (Photo by John Phillips/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 16: Aissa Maiga attends the screening of "Burning" during the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 16, 2018 in Cannes, France. (Photo by John Phillips/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 16:  Authors of the book "Noire N'est Pas Mon Métier" (Black is Not My Job) pose on the stairs with Jury member Khadja Nin at the screening of "Burning" during the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 16, 20 (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 16: Authors of the book "Noire N'est Pas Mon Métier" (Black is Not My Job) pose on the stairs with Jury member Khadja Nin at the screening of "Burning" during the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 16, 20 (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

A atriz francesa, aclamada por seu papel em Bamako, liderou um grupo de atrizes negras, que, também em 2018, protestaram pela falta de representatividade no cinema francês. Ao cruzarem o red carpet, elas mantiveram-se unidas. Só próximas aos fotógrafos, elas levantaram os punhos para o alto, referenciando à icônica imagem do movimento Black Power.

Agnès Varda

CANNES, FRANCE - MAY 24:  Agnes Varda receieves an Honorary Palme d'Or attends the closing ceremony during the 68th annual Cannes Film Festival on May 24, 2015 in Cannes, France.  (Photo by Pascal Le Segretain/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 24: Agnes Varda receieves an Honorary Palme d'Or attends the closing ceremony during the 68th annual Cannes Film Festival on May 24, 2015 in Cannes, France. (Photo by Pascal Le Segretain/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Precursora do movimento Nouvelle Vague, proposta do cinema francês de romper com a indústria e a glamourização do fazer cinematográfico que acontecia em Hollywood, Agnès Varda é histórica por si só. Com mais de 50 filmes nos 64 anos de carreira, ela trouxe um olhar delicado e feminino para assuntos cotidianos, meio aos colegas homens do período. Em 2015, a diretora belga radicada na França foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro Honorária pelo conjunto da obra no Festival de Cannes.

Olivia de Havilland

CANNES, FRANCE - 12 MAI: Composition du jury du Festival avec de gauche a droite : Herman Van der Horst, Max Aub, Francois Reichenbach, Istvan Dosai, Flouret, Favre-Lebret, Goffredo Lombardo, Andre Maurois, Olivia de Havilland, presidente, Georges Gerardo (Foto: Gamma-Keystone via Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - 12 MAI: Composition du jury du Festival avec de gauche a droite : Herman Van der Horst, Max Aub, Francois Reichenbach, Istvan Dosai, Flouret, Favre-Lebret, Goffredo Lombardo, Andre Maurois, Olivia de Havilland, presidente, Georges Gerardo (Foto: Gamma-Keystone via Getty Images) — Foto: Glamour

Quase 20 anos depois da primeira edição, o Festival de Cannes teve uma mulher presidindo o júri do evento, responsável por escolher os vencedores de cada edição. Atualmente com 103 anos, a atriz é um dos nomes mais cultuados do cinema clássico. Ela atuou em E O Vento Levou (1939), Só Resta uma Lágrima (1946) e Tarde Demais (1949) – os dois últimos lhe renderam Oscars de atuação. Sobre a experiência como presidente do júri, ela disse: "A responsabilidade era enorme, assim como a possibilidade de cometer erros. Eu estava intimidada pelo meu papel. Porém, preciso admitir, como a única mulher no júri naquele ano [como mostra a foto acima], eu aproveitei a oportunidade".

Yuliya Solntseva

14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Em 1961, a diretora russa foi a primeira mulher a receber a Palma de Ouro de Melhor de Direção, pelo seu filme A Epopéia dos Anos de Fogo, sobre a resistência soviética à entrada nazista em seu território. Depois de Yuliya, apenas Sofia Coppola venceu em tal categoria, em 2017, por O Estranho que Nós Amamos.

Jane Campion

46TH CANNES FESTIVAL (Photo by Eric Robert/Sygma/Sygma via Getty Images) (Foto: Sygma via Getty Images) — Foto: Glamour
46TH CANNES FESTIVAL (Photo by Eric Robert/Sygma/Sygma via Getty Images) (Foto: Sygma via Getty Images) — Foto: Glamour

Dentro das cineastas que marcaram o festival, a neozelandesa Jane Campion foi e ainda é a única mulher a ter uma Palma de Ouro de Melhor Filme. O reconhecimento em 1993 foi pelo excelente filme O Piano, romance sobre uma mulher muda que precisa se adaptar à nova vida com a filha pequena na Nova Zelândia recém-colonizada.

Nadine Labaki

CANNES, FRANCE - MAY 19: Actor Zain Alrafeea (R) looks on as Director Nadine Labaki receives the Jury Prize award for 'Capharnaum' on stage during the Closing Ceremony at the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 19, 2018 in Cann (Foto: Corbis via Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 19: Actor Zain Alrafeea (R) looks on as Director Nadine Labaki receives the Jury Prize award for 'Capharnaum' on stage during the Closing Ceremony at the 71st annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 19, 2018 in Cann (Foto: Corbis via Getty Images) — Foto: Glamour

A atriz e diretora se tornou a primeira mulher árabe a vencer um prêmio principal no festival. Em 2018, o seu quarto longa-metragem, Cafarnaum, foi laureado com o Prêmio do Júri, além de ser ovacionado com palmas do público por 15 minutos (!!!) após a sessão de estreia. Sua narrativa sensível e extremamente politizada alcançou um nível de qualidade cinematográfica impactante. Neste filme, ela conta a história de um menino que precisou abandonar o lar abusivo em busca de uma vida melhor, mas acaba preso por um crime violento. Na prisão, aos 12 anos, decide processar os pais pela má criação.

Mati Diop

CANNES, FRANCE - MAY 25: Mati Diop speaks after receiving the Grand Prix award for the film "Atlantique" at the Closing Ceremony during the 72nd annual Cannes Film Festival on May 25, 2019 in Cannes, France. (Photo by Stephane Cardinale - Corbis/Corbis vi (Foto: Corbis via Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 25: Mati Diop speaks after receiving the Grand Prix award for the film "Atlantique" at the Closing Ceremony during the 72nd annual Cannes Film Festival on May 25, 2019 in Cannes, France. (Photo by Stephane Cardinale - Corbis/Corbis vi (Foto: Corbis via Getty Images) — Foto: Glamour

Se você ainda não assistiu Atlantique (tem na Netflix!), pare tudo o que está fazendo e coloque ele na sua lista de prioridades. O filme que mistura uma certa poesia da narrativa fantástica com romance ganhou o Grand Prix, segundo prêmio mais importante do Festival de Cannes, em 2019. Só a participação dele na edição fez Mati Diop ser a primeira mulher negra a ter um filme concorrendo na mostra. Vencer, então, fez dela a primeira diretora negra a vencer um prêmio no festival francês. Ao subir no palco, ela disse: "Eu sabia que nenhuma outra mulher negra esteve aqui. E mesmo sabendo, é sempre uma ótima lembrança do trabalho que ainda temos pela frente".

Diane Kurys

CANNES, FRANCE - MAY 13:  Filmmaker Diane Kurys poses during the 68th Annual Cannes Film Festival on May 13, 2015 in Cannes,France. (Photo by Theodora Richter/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 13: Filmmaker Diane Kurys poses during the 68th Annual Cannes Film Festival on May 13, 2015 in Cannes,France. (Photo by Theodora Richter/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Assim como qualquer festival de cinema, a abertura é um grande marco da edição. Para além da festa e dos looks de red carpet, o filme que dá o start é um grande feito. Porém, como é de se imaginar (infelizmente), pouquíssimos filmes dirigidos por mulheres ocuparam esse posto em Cannes. O primeiro foi em 1987, de Diane Kurys, A Man in Love, e o segundo foi em 2015, de Emmanuelle Bercot, De Cabeça Erguida.

Leyna Bloom

CANNES, FRANCE - MAY 19: Leyna Bloom attends the photocall for "Port Authority" during the 72nd annual Cannes Film Festival on May 19, 2019 in Cannes, France. (Photo by Dominique Charriau/WireImage) (Foto: WireImage) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 19: Leyna Bloom attends the photocall for "Port Authority" during the 72nd annual Cannes Film Festival on May 19, 2019 in Cannes, France. (Photo by Dominique Charriau/WireImage) (Foto: WireImage) — Foto: Glamour

Aos 29 anos, a modelo e atriz se tornou a primeira mulher transgênero negra a ter um papel protagonista em um filme da competição oficial do festival. O seu début nas telas com Port Autority, drama da diretora Danielle Lessovitz, trouxe para a competição de 2019 a discussão sobre representatividade LGBTQ+.

Naomi Kawase

CANNES, FRANCE - MAY 23:  Director Naomi Kawase attends the "Hikari (Radiance)" press conference during the 70th annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 23, 2017 in Cannes, France.  (Photo by Getty Images/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
CANNES, FRANCE - MAY 23: Director Naomi Kawase attends the "Hikari (Radiance)" press conference during the 70th annual Cannes Film Festival at Palais des Festivals on May 23, 2017 in Cannes, France. (Photo by Getty Images/Getty Images) (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Hoje, uma das grandes diretoras de cinema, Naomi tem a marca de ser a cineasta mais jovem a vencer a Caméra d'Or, competição que lança jovens diretores no mercado. Em 1997, aos 27 anos, ela ganhou tal reconhecimento com Suzaku, filme sobre a dissolução de uma vila no interior do Japão devido à crise rural que assolou o país.

Aishwarya Rai

FRANCE - MAY 17:  56th Cannes Film Festival: Photo-call of Aishwarya Rai in Cannes, France on May 17, 2003.  (Photo by Pool BENAINOUS/CATARINA/Gamma-Rapho via Getty Images) (Foto: Gamma-Rapho via Getty Images) — Foto: Glamour
FRANCE - MAY 17: 56th Cannes Film Festival: Photo-call of Aishwarya Rai in Cannes, France on May 17, 2003. (Photo by Pool BENAINOUS/CATARINA/Gamma-Rapho via Getty Images) (Foto: Gamma-Rapho via Getty Images) — Foto: Glamour

Grande estrela de Bollywood e modelo, Aishwarya foi a primeira atriz indiana a compor o júri do Festival de Cannes, em 2003. Entre os principais filmes do currículos, estão Hum Dil De Chuke Sanam (1999), Devdas (2002), Dhoom 2 (2006), e Jodhaa Akbar (2008).

Fernanda Torres

14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Em 2019, o Festival de Cannes teve dois grandes sucessos que saíram do Brasil: Bacurau e A Vida Invisível. Ambos filmes excepcionais para a história do cinema brasileiro e, ambos, dirigidos por homens. Na lista de premiações brasileiras para mulheres, está a atriz Fernanda Torres que, aos 20 anos, venceu a Palma de Ouro de Melhor Atriz por seu papel em Eu Sei que Vou Te Amar (1986), de Arnaldo Jabor. Depois dela, apenas mais uma atriz brasileira venceu em tal categoria: Sandra Corveloni, em 2008, por Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas.

Linda Mvusi

14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
14 mulheres que fizeram história no Festival de Cannes (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Em 1988, a atriz sul-africana é a primeira (e única) mulher negra a vencer a Palma de Ouro de Melhor Atriz, mas dividiu o prêmio com suas colegas de filme, Barbara Hershey e Jodhi May. As três foram laureadas pelos papéis em Um Mundo à Parte (1988), de Chris Menges. Linda é também arquiteta e foi reconhecida pelo Instituto de Arquitetura da África do Sul com um prêmio de excelência pelo seu trabalho no Museu do Apartheid.

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