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Por LUANDA VIEIRA (@luandavieira)


A notificação com os números do meu tempo de navegação nas redes sociais chegou: na última semana foram 32h e 58 min só no Instagram, uma hora a mais se comparado ao mesmo período do mês anterior. E contando... O aumento é quase inevitável já que o isolamento social transformou a ferramenta em um portal de entretenimento.

Rotina de exercícios para acompanhar em tempo real, aulas de francês ao vivo, transmissão com o passo a passo do prato do dia, entrevistas à disposição e muita criatividade na hora de comunicar fazem parte da nova programação dos influenciadores digitais. Um estudo da FAAP em parceria com a empresa de marketing de mídias sociais Socialbakers, aliás, mostra que famosos e influencers tiveram um crescimento de 17,3% em número de seguidores nos últimos três meses. O resultado aponta um comportamento dos usuários: a busca por exemplos de como superar este momento de crise.

Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour
Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour

Mas e quando a exposição não é construtiva e de inspiração o @ passa a ser má influência, inclusive para as marcas? “Os influenciadores são parte fundamental da estratégia da Amaro, porém, quando um comportamento vai contra os princípios da empresa, é o momento de rever a parceria. Desrespeito ao próximo, racismo, machismo, incitação à violência e irresponsabilidade com a informação compartilhada são alguns dos motivos para repensar contratos”, diz Camila Assreuy, Lead de RP e Influenciador da Amaro. A CEO da Mynd (agência especializada em marketing de influência), Fátima Pissarra, descreve a conduta ideal - que já deveria ser automática nas redes sociais.

É preciso ter em mente que você não está sozinho quando passa a ter seguidores. Falar a verdade e pensar em nível macro em todas as consequências do conteúdo é essencial, além de refletir antes de qualquer ação. A sua atitude condiz com o comportamento esperado pelas pessoas e pelo qual o faz ser seguido nas redes? Se existe alguém que pode não achar legal, não faça”, diz.

"Falar a verdade e pensar em nível macro em todas as consequências do conteúdo é essencial para qualquer influenciador" - Fátima Pissarra, CEO da Mynd

Em tempos de coronavírus e a orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde) para ficar em casa, não deve ser a primeira vez que você se depara com o exemplo da blogueira fitness Gabriela Pugliesi durante o distanciamento social. A sua festa entre amigos rendeu a suspensão de pelo menos oito contratos. Recentemente, também veio à tona o caso da ex-BBB Ivy Moraes (3,6 milhões de seguidores), que apareceu reunida em Goiânia com amigos, entre eles o ator Henri Castelli. A verdade é que o descaso de figuras públicas perante à situação mundial tem colocado em cheque o futuro da profissão de influencer - nunca tão questionada como agora.

“A irresponsabilidade de parte dos influenciadores digitais sempre foi evidente, mas nós não queríamos olhar para isso. Neste momento de pandemia estamos tão expostos com a má gestão, arrogância, medo da doença e problemas como o aumento da violência doméstica, que não cabe mais valorizar e tolerar pessoas que produzem conteúdos descolados da realidade do país”, diz Pollyana Ferrari, pesquisadora em Mídias Sociais, escritora e professora da PUC-SP.

Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour
Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour

Por essas e outras, a influencer Vanessa Guerra (@vanessatguerra) tem repensado suas publicações no Instagram. “Como nós temos uma responsabilidade social na internet, todo cuidado é pouco. Tenho produzido conteúdos voltados para a moda consciente e que fomentem as marcas locais. Além disso, sigo incentivando o exercício dentro de casa. É um movimento que comecei há um ano e tem me ajudado a conter a ansiedade com o futuro incerto”, diz a também gerente de Marketing da plataforma de música Deezer.

De acordo com os estudos da agência de pesquisa de tendências de consumo, comportamento e inovação Box1824, pós-pandemia os conteúdos considerados como “má influência” serão cada vez menores. “Os influenciadores são controlados pelo próprio ecossistema que influenciam. Então, se eles fazem algo que é comprovadamente errado, contra as boas práticas, são expurgados e perdem a relevância - e perder relevância para eles é a maior punição”, explica Henrique Diaz, Diretor de Planejamento da Box1824. A movimentação também reflete no relacionamento com os parceiros. “As marcas contratam o influenciador para influenciar uma audiência. Se essa audiência está discordando do profissional, então, as marcas também não enxergam mais valor em contratá-lo. E isso também colabora para que as más condutas percam o espaço”, afirma.

Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour
Cuidado com as más influências... (Foto: Victoria Polak) — Foto: Glamour

A influencer e comunicadora Luiza Brasil (@mequetrefismos) confirma a precaução e alerta sobre o recorte de raça na cultura do cancelamento. “A régua do cancelamento é seletiva e tem um lugar racial. Ainda que a branquitute cometa erros, ela consegue retomar de onde parou, mas com o negro não tem perdão”, explica. Nas primeiras semanas de quarentena, Luiza lançou o “6 Minutos”, seu programa de atualidades no IGTV. “O meu cuidado nunca foi atrelado ao cancelamento em si, mas com o meu propósito enquanto comunicadora negra. A minha prioridade é dialogar com outras vivências para que nos tornemos mais plurais e empáticos com as realidades distintas das nossas”, diz Luiza.

TODA MÁ INFLUÊNCIA SERÁ PERDOADA?

Além do influenciador, por trás de algumas produções de conteúdo existem agências especializadas em manter a imagem do profissional em alta e socorrer, se necessário, em momentos críticos. Fátima Pissarra explica que muito antes de precisar gerenciar uma crise, o trabalho do agente é conscientizar o influencer sobre as suas falhas públicas. Todas elas podem prejudicar diretamente as pessoas responsáveis pelo seu poder de fala e alcance na internet.


“Na sociedade cada um tem o livre arbítrio, ou seja, gosta e desgosta à sua própria escolha. Desta forma, o influenciador precisa estar ciente que existe uma devolutiva para todo e qualquer comportamento a partir do momento que ele não está mais reduzido a um grupo de amigos e sim a milhares de pessoas que o seguem e que ele influencia todo dia”, diz.

"Como perder a relevância é a maior punição para um influencer, as más condutas vão perder o espaço" - Henrique Diaz, Diretor de Planejamento da Box1824

Reverter um cancelamento não está nas mãos de quem erra, mas exclusivamente de quem cancela. “Hoje em dia é muito difícil fugir do cancelamento, que nada mais é do que um tipo de decepção que o influenciador causa em sua comunidade”, conta. O que não significa deixar de reagir. “É claro que se arrepender, pedir desculpas, aprender, é uma forma de remediar, mas, ainda assim, a base da influência é pautada pelos seguidores.”

E O QUE PENSAM OS PLAYERS DO MERCADO?

Outra pesquisa da Socialbakers, do último trimestre de 2019, revelou que a Hope e a C&A são as empresas que mais investem no trabalho de influenciadores no país. Antes do contrato assinado, os perfis passam por uma avaliação que vai muito além do número de seguidores. A pergunta é direta: será que o contratado dá match com a empresa? “Os followers são relativos. Na C&A o nosso principal critério é buscar alguém que preze pelos mesmos valores da marca, como a diversidade, liberdade de expressão e o respeito às pessoas, certos de que, independentemente do posicionamento da influenciadora, não afetará o nosso relacionamento”, conta Mariana Moraes, gerente sênior de Marketing da C&A.

"Hoje estamos vivendo um momento único no mercado de influência, sendo fundamental estar atento e aberto para aprender e reaprender" - Camila Assreuy, Lead de RP e Influenciador da Amaro

Ter empatia também é a chave do negócio, principalmente quando o assunto é má influência nas redes sociais. “Cancelar um contrato, por exemplo, é uma situação delicada. A Hope é uma marca que respeita a personalidade de cada pessoa e suas escolhas. Seres humanos são passíveis de erros e, por isso, analisamos se o comportamento vai contra aquilo que acreditamos”, explica Sandra Chayo, diretora de Marketing e Estilo do Grupo Hope. Verificar caso a caso é fundamental, mas Felipe Bratfisch, gerente nacional de Marketing de Experiência e Patrocínios da Cervejaria Ambev, explica sobre os cuidados com a construção de identidade das empresas.

“As marcas traduzem comportamentos e ditam tendências junto aos consumidores, por isso, elas precisam estar atentas e dar exemplo no segmento em que atuam. Não existe mais espaço para atitudes e declarações que ferem o respeito às pessoas e vão contra o bem-estar social e a igualdade de direitos”, diz.

Para o futuro próximo, as marcas esperam que os profissionais acompanhem o desenvolvimento da sociedade e as suas necessidades. “A plataforma, o discurso, os personagens e os interesses mudam naturalmente com o passar do tempo, mas o conceito permanece. Hoje estamos vivendo um momento único no mercado de influência, sendo fundamental estar atento e aberto para aprender e reaprender. No futuro, acredito (e espero!) em um conteúdo com mais valor, menos perfeição e mais responsabilidade”, finaliza Camila Assreuy.

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