Nova cirurgia surge como opção para quem sofre de enxaqueca (Foto: Getty)

Nova cirurgia surge como opção para quem sofre de enxaqueca (Foto: Getty)

Se você sofre com enxaquecas, sabe que ela afeta severamente a vida de uma pessoa. As crises podem durar até 72 horas, aparecer mais de 15 dias por mês e incluir sintomas como dor intensa, náuseas, vômitos e sensibilidade a som e luz. A doença, que afeta cerca de 15% da população brasileira, não tem tratamento específico e, com isso, pacientes ficam fadados ao uso de medicamentos como anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsicóticos, o que ocasiona efeitos colaterais como sonolência, dificuldade de concentração e problemas mnemônicos. Nesse cenário, a opção de uma cirurgia para acabar com as dores de cabeça surge de maneira revolucionária.

Criada no início dos anos 2000 pelo cirurgião plástico norte-americano Bahman Guyuron, a prática chegou ao Brasil recentemente. O método foi desenvolvido a partir da percepção de que cirurgias estéticas nas regiões frontal e superior da face acabavam tendo como efeito uma diminuição nos sintomas típicos da enxaqueca. Em 2005, Guyuron e sua equipe produziram um estudo com 125 pacientes, dos quais 92% obtiveram êxito com a cirurgia. Destes, 35% consideraram que o quadro foi absolutamente resolvido.

Paolo Rubez, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University, aprendeu detalhes dessa técnica com Guyuron, e é o único profissional a executá-la em São Paulo. Segundo ele, “nos trabalhos científicos sobre a cirurgia de enxaqueca, o sucesso do procedimento é definido como uma melhora de no mínimo 50% na intensidade, duração e frequência das crises.”

O que acontece na cirurgia

Pouco invasiva, ela tem como objetivo descomprimir e liberar os ramos dos nervos envolvidos nos pontos de dor. “Os ramos periféricos desses nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões de estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isso gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsável pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que irão causar os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos, sensibilidade à luz a ao som”, explica o médico, que já tratou mais de 40 pacientes com o procedimento cirúrgico.

São sete tipos de cirurgia, cada um relativa a um ou mais nervos específicos nas regiões frontal, temporal e occipital (nuca). Normalmente, há mais de um foco de dor, e segundo Paolo Rubez, a queixa do local de dor é que determina onde será feito o procedimento. “Em todos esses tipos, o princípio é o mesmo: descomprimir e liberar os ramos do nervo trigêmeo ou occipital, que são irritados pelas estruturas adjacentes ao longo de seu trajeto”.

São sete tipos de cirurgia para eliminar os sintomas provocados pela enxaqueca (Foto: Getty)

São sete tipos de cirurgia para eliminar os sintomas provocados pela enxaqueca (Foto: Getty)

A cirurgia para enxaqueca pode ser feita em qualquer paciente que tenha sido diagnosticado por um neurologista, e que sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês que não possam ser controladas por medicações; ou em pacientes que sofram com efeitos colaterais ou com intolerância às medicações para dor. Também é uma opção para aqueles que consideram que as dores trazem prejuízos às suas vidas pessoal e profissional.

Na maioria dos casos, a cirurgia exige anestesia geral. A internação é de apenas um dia e os pacientes podem retornar suas atividades rotineiras entre dez e 15 dias após o procedimento. “O tempo na sala de cirurgia depende de quantos nervos precisam ser tratados: pode demorar 15 minutos ou seis horas”, explica Rubez. Como qualquer cirurgia, há risco de sangramento e infecção, além de uma temporária alteração na sensibilidade da região afetada. Os preços podem variar entre R$5 mil e R$40 mil, a depender da complexidade, mas muitos convênios cobrem o procedimento.