Diário da Cozinheira
Por , em colaboração para Marie Claire — de São Paulo (SP)

Provocante, o vermute em cena desperta o impulso de levantar da tela, pausar a série e caçar no bar a garrafa de um rosso ou bianco para matar o desejo. Puro, gelado ou on the rocks, como aperitivo antes da refeição — uma das maneiras mais tradicionais de degustar a bebida —, fica mais charmoso com um twist de laranja. O vermute também é o componente indispensável para a preparação de vários drinques clássicos: os martinis, que combinam a bebida com gim, como o Dry Martini, o Negroni (vermute + gin + Campari), o Americano (vermute rosso + Campari + água com gás e laranja), o Manhattan (vermute + uísque + bitter).

Vermute é uma bebida alcoólica à base de vinho, com adição de flores ou ervas aromáticas. Colocar botânicos no vinho, em tempos ancestrais, era uma maneira de produzir uma espécie de remédio, ou vitamina fortificante, uma vez que o álcool funciona como um solvente, extraindo compostos e criando uma solução medicinal. Sua origem remonta a Hipócrates, que teria acrescentado ao vinho a erva absinto e dictamo de Creta (planta de uso terapêutico que cresce somente na ilha grega). No século XVII, vinhos fortificados com absinto existiam na Alemanha e o nome vermute vem do próprio absinto, em alemão, “wermut”. Existe alguma polêmica sobre sua real origem, mas sabe-se que foi na Itália que passou a ser comercializado pela empresa Carpano, no ano de 1786. No século XIX, a bebida ganhou a forma conhecida hoje, consumida em bares de Turim.

O vermute é apresentado em dois estilos básicos: doce e seco e sua elaboração compreende dois processos. O primeiro é o de infusão, que consiste em deixar as plantas e ervas aromáticas imersas em um recipiente com o vinho para que ele ganhe sabor e aromas mais amargos, o bitter. O segundo é o processo de adição de extratos, que são preparados com outras ervas, plantas e um pouco de álcool e, aos poucos, são adicionados ao vinho. A mistura depois passa por um processo de pasteurização, que evita a contaminação da bebida e também impede que ela continue fermentando. As próximas etapas são a filtragem depois o envase. Na garrafa, o vermute ainda vai envelhecer para alcançar seu sabor, aroma e teor alcoólico – que pode chegar até os 20%.

Essa onda botânica das bebidas e drinques na coquetelaria trouxe destaque para o vermute na cena gastronômica dos dias de hoje. Na Argentina regida pelos vinhos, é um anfitrião elegante e casual, um copo de boas-vindas aos convidados e aos assados que vêm depois. Na França do Noilly Prat, do Dolin, são geralmente secos e brancos. No Brasil, o vermute vem conquistando um copo só para ele e a indefectível pedra de gelo no balcão de bares, restaurantes e em casas especializadas na bebida.

Marcas nacionais surgem no mercado, assim como foi com o gim, criadas com muita personalidade e igual qualidade. No Rio de Janeiro, o Bar Tero, em Botafogo, é uma vermuteria: produz três vermutes próprios que não devem nada aos colegas internacionais que compartilham a prateleira para saborosos drinques e doses. La Finca, em Paraty, é pioneira na produção de vermute artesanal no país, com receitas originais preparadas a partir da biodiversidade botânica brasileira em sete rótulos diferentes, como o Mata Atlântica, que utiliza plantas daquele bioma. O Aureah Rosé é um vermute elaborado de maneira artesanal no interior de São Paulo. De estilo espanhol, com infusão de frutas vermelhas frescas e botânicos, tem teor alcoólico de 16%. É uma receita e criação da Famiglia Griffo, empresa responsável também pelo Negroni Ricetta 45, ou N45. A Companhia dos Fermentados chama afetuosamente de vermú a bebida autoral que produz a partir de vinhos de uvas e de frutas, como o vermú de caqui e botânicos amazônicos, de mel e flores, de caju, de jabuticaba e ervas tropicais.

Com um copo baixo ou long drink, gelo e aquele desejo que iniciou esta história, um brinde à coquetelaria e à produção cinematográfica, artes que inspiram outras em criatividade e entretenimento. Saúde!

Negroni Argento

Como fazer um negroni — Foto: Acervo pessoal
Como fazer um negroni — Foto: Acervo pessoal

1 drink

Ingredientes
Vermouth doce - 1 medida
Gin - 1 medida
Fernet - ½ medida
Laranja - 1 unidade
Folha de Laranja - 1 unidade
Gelo a gosto

Modo de preparo


Corte a laranja em forma de cubo, o maior possível, mas certifique-se de que ela encaixa no seu copo de servir e leve-a ao congelador por pelo menos um dia para solidificar.

Uma vez congelado, coloque o cubo laranja no vidro de apresentação, então, em cima da laranja congelada adicione a folha laranja ligeiramente esmagada para que se desprendam seus óleos, essência e fragrância ...

Em uníssono, em um recipiente de mistura junte as bebidas alcoólicas com o gelo e misture mexendo sem bater, ágil por cerca de 30 segundos, para que a mistura esfrie, mas sem diluí-la com o gelo... Coe a bebida descartando o gelo no cubo de laranja congelada e sirva.

Há duas principais diferenças entre este e um negroni tradicional. O primeiro é a substituição do Campari tradicional que é substituído por Fernet Branca.

A segunda coisa é a laranja, que em vez de usar simples raspas de sua pele para aromatizar o coquetel, achei interessante substituir por um cubo de gelo, feito da mesma laranja, que não apenas aromatiza, mas não dilui a bebida enquanto a estamos degustando.

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