O Comitê Olímpico da França impediu que uma atleta muçulmana faça uso de seu hijab durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, marcada para amanhã (26). A velocista francesa Sounkamba Sylla, de 26 anos, deverá abdicar do uso do véu islâmico durante o desfile fluvial, em que serão apresentadas as delegações dos países participantes dos Jogos.
De acordo com informações do jornal Le Parisien, o comitê propôs que a atleta use um boné no lugar do hijab durante o desfile. Sylla aceitou o acordo, mas demonstrou indignação em uma postagem feita em seu perfil no Instagram.
“Você é selecionada para os Jogos Olímpicos, organizados em seu país, mas não pode participar da cerimônia de abertura porque está usando um lenço na cabeça. Esse é o país da liberdade”, escreveu a atleta, finalizando com um emoji de palhaço.
Nascida na comuna francesa de Laval, Sylla é filha de imigrantes do Guiné, país africano de maioria islâmica. A atleta integra a equipe de revezamento feminino e misto de 400 metros, e já concorreu em outras ocasiões vestindo o hijab. Sylla usou o item religioso nos mundiais de atletismo de 2022 e 2023.
No entanto, também já disputou provas vestindo boné, como no caso do Campeonato Europeu realizado no mês passado em Roma, na Itália. Se competisse com o boné, ela poderia ter sido excluída da delegação a pedido do Ministério do Esporte francês.
Na época, por mais que houvesse pressão para que desistisse de sua vaga caso optasse vestir o hijab, Sylla teve apoio da Federação Francesa de Atletismo e chegou a tentar disputar a competição com um véu simples. No entanto, recebeu um alerta do Ministério, segundo o Le Parisien, que viu o ato como "afronta" às diretrizes de laicidade.
Por que atleta foi impedida de usar véu islâmico na cerimônia de abertura das Olimpíadas
O uso de símbolos religiosos "ostensivos" foi proibido pela ministra dos Esportes e dos Jogos Olímpicos da França, Amélie Ouséa-Castéra, para respeitar a neutralidade religiosa e o Estado laico na França. Isso porque a França segue o princípio de laïcité, que significa secularismo ou, simplesmente, laicidade (ou seja: em tese, não é regido politicamente sob interferência de doutrinas religiosas).
Para a Associated Press, Davis Lappartient, presidente do Comitê Olímpico da França, afirmou que todos os atletas olímpicos são compulsoriamente vinculados aos princípios do secularismo aplicados aos profissionais públicos do país.
No entanto, a decisão da ministra do Esporte é considerada controversa em meio à ascensão da extrema direita no país, que prega discursos em prol da expulsão de imigrantes, particularmente os que são muçulmanos.