Ciclista que viralizou ao relatar assédio sexual durante treino está ‘abalada psicologicamente’: ‘Medo de treinar sozinha’

Leticia Besse afirma que treinava em estrada a 5 km de casa quando foi assediada por um motociclista. O vídeo em que mostra sua reação recebeu mais de 1 milhão de visualizações no Instagram e a fez receber ataques nos comentários: ‘Gostaria que tivéssemos mais voz nessa situação’

Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Leticia Besse, atleta amadora de mountain bike, viralizou ao mostrar reação após narrar assédio durante treino — Foto: Reprodução/Instagram

“Nunca tive tanto medo”, diz a veterinária e atleta amadora de mountain bike Leticia Besse enquanto chora ao relatar um assédio que viveu enquanto pedalava em uma estrada em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Na última semana, ela viralizou no Instagram ao postar um vídeo em que narra ter sido importunada por um motociclista no período da manhã.

“Tô treinando aqui, a 5 km da minha casa. Passou um cara de moto e ficou me olhando, diminuiu a velocidade. Eu segui, na hora que eu olho ele voltou”, conta a ciclista. “Ele parou a moto do meu lado e falou ‘bom dia, você não vai me responder, não?’ e me xingou de um nome”, continua. Ela afirma que o homem foi embora após ver seu celular na blusa. O vídeo foi visto mais de 1 milhão de vezes e chegou a receber mais de 13 mil comentários.

Leticia, que cria conteúdo nas redes sociais mostrando seus treinos e rotina, afirma que, no momento da abordagem, ela já tinha parado de gravar seu treino. “Em segundos, fiquei imaginando o que poderia ter acontecido naquele momento. Meu corpo congelou e o máximo que consegui foi gritar”, escreveu na legenda da postagem.

Segundo afirma a Marie Claire, o caso aconteceu no último dia 20 no bairro de Secretário. De acordo com Leticia, o caso aconteceu menos de 15 dias depois de ter sido assediada por outro motociclista no Vale do Cuiabá, que chegou a passar a mão em seu corpo.

“Não vou parar de treinar, porém estou com mais medo”, ela conta para a reportagem. “Hoje, por exemplo, eu teria saído às 05:30 para treinar, mas fiquei com medo de ir sozinha. Resolvi pedalar na academia, o que não é a mesma coisa. Acho que com o tempo esse sentimento vai passar”, afirma. Ela também estuda a possibilidade de aderir a um rolo interativo, em que consegue simular o treino dentro de casa.

O medo do assédio é comum entre mulheres ciclistas que ela conhece. O som de um carro ou de uma moto já causa ansiedade. Com o tempo e depois de outras importunações que viveu, a própria Leticia afirma que foi buscando encontrar “horários mais seguros” para treinar, ou mesmo que chegou a precisar de uma companhia masculina.

A veterinária e atleta amadora de mountain bike Leticia Besse — Foto: Reprodução/Instagram

‘O mesmo homem me assediou no mesmo lugar’

Há dois anos e meio, Leticia fez a primeira prova de mountain bike e ficou em quinto lugar. Depois disso, nunca mais parou. O primeiro assédio aconteceu seis meses depois de se tornar ciclista. “Estava indo treinar na Serra das Hortênsias quando um motoqueiro veio e passou a mão na minha bunda. O mesmo me assediou do mesmo jeito uma segunda vez, no mesmo local.”

Leticia conta à reportagem que não teve vontade de fazer a denúncia nos dois primeiros casos porque não tinha anotado a placa da motocicleta. “Achei que não daria em nada”, diz. “Na terceira vez, não aguentei e fui na delegacia, mesmo sem a placa. Não deram atenção para mim e me falaram que sem a placa, nada poderia ser feito.” Após a última importunação que viveu, Leticia pediu ajuda a um amigo policial, que está a ajudando no caso.

Desde 2018, o Código Penal tipifica crimes como os narrados por Leticia por meio da Lei nº 13.718, que inseriu na legislação o crime de importunação sexual. O Art. 215-A descreve a importunação sexual como o ato de "praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro". A pena é de 1 a 5 anos de prisão.

A importunação sexual é diferente do crime de assédio sexual. A definição do Art. 216-A do Código Penal diz que configura assédio sexual "constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função".

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Repercussão

A repercussão foi recebida por Leticia com surpresa. “Fiz o vídeo como uma forma de desabafo e alerta. Nunca imaginaria a repercussão disso. Por um lado é bom, pois mais pessoas são informadas, e tenho recebido vários relatos”, diz.

No entanto, ela conta que também tem recebido muitos comentários ofensivos feitos por homens no vídeo. “Isso tem me abalado psicologicamente. Tenho me sentido um pouco ansiosa e angustiada. Hoje decidi fechar os comentários. Gostaria que tivéssemos mais voz nessa situação, que isso não fosse uma chacota ou drama. As pessoas não fazem ideia o quanto isso afeta a nossa cabeça”, desabafa.

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