Receitas

Por Roberta Malta

É um domingo de sol no Rio. Jenifer levanta cedo, come alguma coisa rápida e se prepara para o dia de calor. Atravessa toda a orla da Barra e parte da Zona Sul carioca até chegar ao seu destino: a Praia de Copacabana. Cumprimenta conhecidos, observa o vaivém dos banhistas, avista o tapete de guarda-sóis que emolduram o mar. São quase 10 da manhã e o espaço na areia já é escasso. Ela então pega o elevador do Fairmont Rio de Janeiro e desce no andar da piscina. Mas seu mergulho vai ser no açúcar, entre as dezenas de formas e apetrechos que sua equipe usa para fazer algumas das melhores sobremesas da cidade.

Esta história, no entanto, começa em Parral, sul do Chile, onde calor é raro. Dona Estelita tinha um restaurante na mesma casa em que, todos os anos, nas férias, recebia as duas netas que haviam nascido ali, mas moravam na capital, Santiago. A farra das meninas, que se juntavam aos primos da mesma idade, era colher alimentos frescos na horta da avó e inventar uma sobremesa para o dia. A mais animada com a tarefa era a pequena Jenifer. Gostava tanto de mexer com a terra quanto de criar receitas. Quando cresceu, para alegria do pai que trabalhava em campo próprio, decidiu estudar Agronomia. Já estava pronta para fazer a inscrição no vestibular quando leu sobre a formação em gastronomia no jornal e mudou de ideia. O patriarca não achou lá muita graça: “Mas quanto você vai ganhar?”, “Como vai sobreviver?” O curso era algo novo na época, e a profissão de chef não tinha ainda o status de hoje. Mas Jenifer bateu o pé e ele, como sempre, acabou apoiando a decisão da primogênita. Já no primeiro dia de aula, ela entendeu: havia nascido para aquilo. E, formiga que só, logo se encantou pela confeitaria. Não tinha mais volta, era ali que tinha que estar.

A carreira de Jenifer Ortega, hoje com 35 anos, não demorou para decolar. Ainda na faculdade, ela conseguiu um emprego de assistente de confeitaria no hotel Hilton Santiago por indicação de um amigo. Ficou ali por dois anos e meio, pesquisando e aprendendo tudo que podia. Mais preparada, conseguiu uma vaga do Hotel W, o mais conceituado da cidade, dessa vez como demi-chef. Além de todo o banquete doce que preparava diariamente para os hóspedes, fazia eventos sem parar. Passaram-se outros dois anos e seu marido, o chef Felix Mosquero, foi convidado para trabalhar no Brasil.

Cinco meses foi o tempo que Jenifer aguentou viver longe dele, mesmo com visitas frequentes. Mal deu entrada na papelada para a migração e já recebeu a notícia: comandaria toda a confeitaria do Sheraton Rio de Janeiro, onde Felix trabalhava. Os desafios não eram poucos. Primeiro tinha o idioma. “Não entendia nada do que falavam”, lembra. Depois, a tradição culinária brasileira. Acostumada com o Chile, onde sobremesas não são comuns e o dulçor é comedido, teve que aprender tudo sobre o maravilhoso mundo do açúcar e o paladar verde e amarelo. “Foi mudar do nada para o tudo”, conta. “Tudo aqui leva leite condensado.”

A (má) impressão causada na primeira visita, quando Felix estava trabalhando e Jenifer passava os dias sem companhia, já havia mudado em sua segunda vez na Cidade Maravilhosa – com o marido de férias. A paixão pelo Rio, no entanto, virou amor verdadeiro pouco depois de ela se instalar de vez na capital fluminense. “No Chile as pessoas são fechadas, faz frio, o clima é outro”, diz. “Aqui, o povo é alegre, falador”, emenda. “Tudo é felicidade.”

Depois de quatro anos no Brasil, no entanto, o casal decidiu se mudar para Portugal, e ela pediu demissão. Mas os planos não foram adiante e, depois de uma visita à família que durou três meses, voltou para assumir a confeitaria do Hilton Barra. No fim dos três anos que trabalhou por lá, soube que a cidade receberia um hotel da linha Fairmont. E começou a sonhar: “Um dia vou para lá”.

Até que a pandemia chegou. Dispensada do emprego, Jenifer precisou se virar. Fazia bolos de aniversário e o marido, pizzas de fermentação natural para vender no condomínio em que vivem, no Recreio. O sucesso foi imediato. “Vendia dez, 12 bolos no fim de semana”, conta. E ainda se ocupava com o restante da operação. “Eu fazia as compras, o marketing, atendia telefone... Tudo era comigo.” Na geladeira da família nem comida tinha. O espaço era inteiramente tomado pelas encomendas que não paravam de chegar. E o trabalho, que tanto adorava, começou a ficar pesado demais – tanto física quanto emocionalmente. A labuta solitária, afinal, não combina com o temperamento de uma leonina cheia de energia.

E eis que, um belo dia, seu marido viu no Instagram de um amigo que a vaga de chef-pâtissière do Fairmont Rio de Janeiro estava aberta. “Se eu mandar meu currículo vão me chamar”, disse a Felix. Ele não era nem bobo de duvidar. Pois ela enviou o material num dia e no outro foi chamada para o teste. Chegou lá com suas formas embaixo do braço, mas não precisou usá-las. “Entrei na confeitaria e não acreditei no que vi: tinha tudo que é utensílio de confeitaria”, conta. “Me senti no céu.” O tempo era curto para preparar três sabores de bombom, uma torta e uma sobremesa empratada. Menos de 12 horas depois, ela estava lá de novo, dessa vez não com as formas, mas os documentos debaixo do braço, pronta para assinar o contrato e realizar seu sonho. Era setembro de 2021.

“Além de ter uma base muito boa, é fácil conversar com ela”, diz o chef executivo do hotel, Jérôme Dardillac. Segundo ele, que já comandou uma confeitaria própria na França, não é fácil encontrar gente com a qualificação de Jenifer que não tenha o nariz empinado. “Ela ouve, gosta de aprender”, completa. E tem mais: “É muito trabalhadora”. Perfeita para atender os, em média, 70 mil couverts que a casa serve mensalmente. “Tenho certeza de que ela ainda vai ser vai muito conhecida no Brasil”, afirma Jérôme. A comunidade gastronômica carioca faz coro. “Fui a um evento com o Elia [Schramm, chef] no Fairmont e vi uma sobremesa tão linda passando que resolvi experimentar”, diz a chef-celeb Kátia Barbosa. “Estava tão bom que a gente ficou na porta da cozinha esperando sair mais”, diverte-se. “Fiquei de cara com o trabalho dela. E olha que eu nem sou do doce.”

Se no começo foi desafiador entender o paladar brasileiro, a dificuldade de Jenifer hoje é abrir mão de uma tigela de açaí com paçoca e leite em pó. “Achava a coisa mais esquisita quando cheguei. Agora, passo um mês na casa dos meus pais e sinto falta”, diz. A farofinha em cima do feijão também é de lei: “Adoro misturar tudo no prato com salada”. Entre as receitas que arrebatam os hóspedes estão o clássico quindim, a cheesecake de abacaxi, a panna cotta de baunilha. Doces que fizeram de Jenifer promessa da gastronomia nacional – sim, porque agora ela é nossa.

Tartelete de chocolate e maracujá — Foto: Rodrigo Azevedo
Tartelete de chocolate e maracujá — Foto: Rodrigo Azevedo

Tartelete de chocolate e maracujá

Ingredientes
Massa
200 g de farinha de trigo
80 g de glaçúcar
80 g de amido de milho
25 g de manteiga sem sal
100 g de ovos
Geleia
50 g de manga
50 g de maracujá
50 g de açúcar
Ganache
100 g de chocolate amargo
150 g de creme de leite

Montagem
1 manga pequena

Modo de preparo: Bata a farinha, o glaçúcar e o amido com a manteiga gelada até formar uma massa homogênea. Adicione os ovos e retire da batedeira. Reserve na geladeira no mínimo 2 horas. Abra a massa na bancada enfarinhada em 1 cm de espessura. Adicione na forma desejada e fure com garfo no fundo. Asse a 160 ºC por 10 minutos. Espere esfriar. Reserve. Prepare a geleia: ponha todos os ingredientes na panela e leve ao fogo baixo até ficar firme. Retire do fogo e espere esfriar. Reserve. Ganache: ferva o creme de leite. Em um recipiente, incorpore o chocolate e misture com o fouet até ficar liso e homogêneo. Reserve em geladeira por 3 horas. Montagem: na casquinha de tartelete, adicione ganache até a metade, adicione a geleia e cubra com outra camada de ganache. Decore com cubos de manga.

Cheesecake de abacaxi — Foto: Rodrigo Azevedo
Cheesecake de abacaxi — Foto: Rodrigo Azevedo

Cheesecake de abacaxi

Ingredientes
600 g de cream cheese
140 g de creme de leite
140 g de açucar de confeiteiro
18 g de gelatina
Abacaxi caramelizado
500 g de abacaxi sem casca
500 g de açúcar
500 ml de água
Tuile de mel
50 g de mel
50 g de farinha
50 g açúcar
50 g de manteiga

Modo de preparo: Hidrate a gelatina e reserve. Bata o creme de leite até meio ponto chantilly e reserve. Adicione na batedeira o cream cheese e o açucar de confeiteiro e bata até ficar tudo incorporado. Adicione o chantilly e misture delicadamente. Acrescente a gelatina já derretida, ponha na forma e reserve na geladeira por 3 horas. Prepare o abacaxi: corte o abacaxi em cubos e reserve. Ponha a água e o açúcar em uma panela com o abacaxi, cozinhe até caramelizar. Reserve. Tuile: derreta a manteiga, adicione açúcar, mel e farinha e misture bem. Reservar na geladeira no mínimo 3 horas. Faça bolinhas de 5 gramas e assar a 160 ºC por 10 minutos.

panna cotta de baunilha — Foto: Rodrigo Azevedo
panna cotta de baunilha — Foto: Rodrigo Azevedo

Panna Cotta de Baunilha

Ingredientes
375 ml de creme de leite
50 g de açúcar
50 g de gelatina incolor
6 g de baunilha
Geleia de frutas vermelhas
150 g de amora
150 g de framboesa
150 g de mirtilo
100 g de açúcar
Suco de 1 limão

Montagem: Sorvete, placas de chocolate e castanhas a gosto

Modo de preparo: Hidrate a gelatina e reserve. Ferva o creme de leite com o açúcar. Tire do fogo e misture à gelatina. Ponha em formas e reserve no freezer. Faça a geleia: leve todos os ingredientes ao fogo baixo até ficar firme. Espere esfriar. Tire a panna cotta do freezer, monte com a geleia e os outros itens.

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