Ponto de vista
Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Hannah Neeleman, conhecida pelo perfil Ballerina Farm e considerada "rainha das esposas tradicionais", posa com os oito filhos — Foto: Reprodução/Instagram
Hannah Neeleman, conhecida pelo perfil Ballerina Farm e considerada "rainha das esposas tradicionais", posa com os oito filhos — Foto: Reprodução/Instagram

Uma mulher constantemente interrompida. É assim que a repórter norte-americana Megan Agnew definiu Hannah Neeleman, considerada “a rainha das esposas tradicionais” – ou das “trad wife”, se preferir usar o termo da trend nas redes sociais. Se você esteve na internet nos últimos, provavelmente a viu cruzar seu caminho: estamos falando do rosto por trás do perfil Ballerina Farm.

Hannah, de 34 anos, está longe de ser uma novata ou mesmo um viral pontual. Sua apaixonada audiência soma 18,1 milhões de seguidores (sendo 9,3 milhões no Instagram e 8,8 milhões no TikTok). Nas plataformas, compartilha vídeos em que, vestida com um avental, cria receitas do zero, estende roupas, se dedica aos cuidados de seus oito filhos e ordenha vacas para, por exemplo, fazer a própria manteiga.

No entanto, a repercussão sobre sua vida ganhou ainda mais camadas após ser tema de um texto de Megan Agnew ao jornal The Times. Com sua história impulsionada para ainda mais pessoas, Hannah passou a ser milimetricamente analisada. Começou-se a perguntar o que fez com que essa mulher abrisse mão de uma vida independente por uma rotina estritamente doméstica e uma dinâmica enraizadamente patriarcal.

Após a publicação da reportagem, houve quem a comparasse com uma mulher que passou por uma espécie de “lavagem cerebral”, e que estaria vivendo algo que lhe foi escolhida – ou melhor, empurrada goela abaixo — por seu parceiro. É mesmo possível que essa mulher tenha escolhido essa vida, de livre e espontânea vontade?

Entenda quem é Ballerina Farm

Nas redes, Hannah é o símbolo máximo – além de ser a mais seguida – do que há nas postagens vinculadas à trend “trad wife”: são mulheres que decidiram abdicar de papeis mais independentes na sociedade moderna para se dedicar a um marido, ao lar e aos filhos. Ela vende uma vida perfeita que gira em torno das alegrias e realizações do dia a dia como uma mulher do lar.

Na reportagem, Agnew buscou esmiuçar quem é Hannah quando as câmeras estão desligadas e se, de fato, está feliz em levar aquela vida em isolamento numa fazenda de 328 acres em Utah, nos Estados Unidos. Afinal, Hannah é uma bailarina formada na Universidade de Juilliard (uma das faculdades de Artes de maior prestígio dos EUA), e abdicou de uma possível carreira após engravidar do primeiro filho do marido, Daniel, herdeiro de um bilionário fundador de uma companhia aérea.

Ambos cresceram em famílias mórmon, o que impede Hannah de, por exemplo, usar métodos contraceptivos, dar à luz em hospitais (o que aconteceu em apenas dois partos) ou usar anestésicos para parir (o que Hannah confessa ter feito uma vez, quando o marido não pode acompanhar o parto). Além disso, ela é a única responsável pelos cuidados das crianças – o casal conta com uma diarista e só contrata babás uma noite por semana, quando têm “date nights”.

Ao longo de sua reportagem, Agnew se queixa de não ter conseguido executar sua entrevista com propriedade. "Parece que não consigo ter uma resposta de Neeleman sem que ela seja corrigida, interrompida ou respondida pelo marido ou por um filho", escreveu. Daniel, por exemplo, é quem responde sobre como ela se sente por ser rotulada como uma trad wife e se eles planejam as gravidezes – “Não. [...] Mas por alguma razão, leva exatamente nove meses para ela estar pronta para a próxima [gravidez]”. Também é Daniel quem afirma que, às vezes, Hannah "fica tão doente de exaustão que não consegue levantar da cama por uma semana".

Escolha ou imposição?

Os trechos da reportagem rapidamente passaram a ser replicados na imprensa mundial e comentados à exaustão, sobretudo no TikTok, em que pessoas passaram a fazer análises do texto de Agnew e apareceram lendo versões traduzidas para o português.

Um dos vídeos no TikTok mostra fotos geradas por Inteligência Artificial, em que Hannah é imaginada de férias na Grécia. A influenciadora chegou a ser comparada como uma “moradora de Gilead”, em referência às personagens da distopia The Handmaid’s Tale, em que os corpos das mulheres são totalmente controlados por um estado teocrático.

“Quem não vê o problema nessa história tá com muito problema”, escreveu uma pessoa nos comentários de uma TikToker que leu o texto em três partes. No mesmo vídeo, outra mulher diz: “O povo problematiza tudo. A mulher está feliz”. “Hannah é toda mulher que um homem sonha ter. Se não for para ter uma Hannah, melhor nem casar”, diz um homem.

As reações intensas destes dois extremos acontecem num momento em que movimentos conservadores buscam tomar a narrativa nas redes sociais para brecar avanços de discussões – e, por que não, de direitos – de mulheres e outras minorias, como pessoas LGBTQIA+ e negras, por exemplo. Além das trad wives, outro exemplo é a trend “Mulher com M minúsculo”, em que homens definem como “menos mulher” as que optaram, por exemplo, em postar vídeos dançando funk ou que só seguem homem nas redes sociais.

A repórter Megan Agnew tem sua teoria: mulheres com um trabalho remunerado sentem medo de que uma vida promovida de "paz e sossego" na vida domiciliar possa fazer com que mulheres caiam na ilusão de que a vida de esposa/mãe "perfeita" não seria algo tão ruim. "Elas temem sentir culpa ou resistência se outras mulheres escolherem o contrário", pensa a jornalista, em um segundo texto do The Times em que foca nos bastidores de sua apuração.

"As mulheres que cuidam dos seus filhos a tempo inteiro sentem-se julgadas ou patrocinadas por o fazerem pelas mulheres que não o fazem, e as suas escolhas também parecem ameaçadas. E assim, do medo surge a raiva, como um cara que dá um soco na parede quando sua esposa o abandona", pensa a repórter.

Afinal, por que no mundo de hoje, em que as oportunidades para mulheres são maiores do que eram na época das “primeiras esposas tradicionais” (mas não necessariamente tão animadoras o tempo todo), uma bailarina formada em Juilliard optaria por viver a mesma vida que as avós de nossas avós viveram? Seria possível querer isso de bom grado?

Por ora, só podemos, além de questionar, ficar com a resposta de Hannah: “Sinto que há muita alegria em preparar uma bela refeição para sua família. É muito gratificante, especialmente quando você participa do cultivo ou da obtenção dos alimentos com os quais têm uma conexão. [...] E espero estar inspirando as mulheres a fazer isso”.

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