Empreendedorismo de Impacto

Por Aline Scherer, Para Um Só Planeta

Desde quando abriu a Tucum, uma loja de artesanato indígena, 10 anos atrás, no bairro turístico de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, a mineira Amanda Santana, hoje com 41 anos, sabia que o negócio envolveria mais do que transações comerciais e que seria ampliado para uma plataforma online. “A ideia da Tucum sempre foi, mais do que um ponto de comercialização, uma plataforma de desenvolvimento e conexão entre os elos da cadeia, e de comunicação e educação sobre a realidade dos indígenas e da importância de olhar para esses povos e o cuidado deles com a natureza”, conta.

Os testes começaram quando Amanda, formada em teatro, ainda trabalhava como atriz, maquiadora e cabeleireira, e viu interesse de seus clientes nas artes dos povos originários. Durante quase três anos, em viagens que fazia a aldeias indígenas, acompanhando seu ex-companheiro que trabalha como indigenista e chegou a ser seu sócio, ela montou um estoque de artesanato.

Começou vendendo produtos dos Krahôs, Kajrés e Kayapós, e aos poucos outras organizações procuraram a Tucum. Amanda também foi buscando ao longo do tempo novos fornecedores e realizando oficinas pessoalmente junto às organizações indígenas. Por exemplo, a Univaja – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, que representa a população da segunda maior Terra Indígena do país.

Impacto Socioambiental

Hoje, 40 organizações – como cooperativas e associações – viabilizam a venda do artesanato de cerca de 90 povos indígenas na Tucum. O negócio fatura cerca de R$ 700 mil e impacta a renda de 3 mil artesãos por ano – na sua maioria mulheres. “Desenvolvemos uma matriz de impacto, prerrogativa para receber os investimentos, e estamos sempre monitorando”, explica Amanda, que publica anualmente um relatório de resultados.

Amanda Santana, a frente da Tucum — Foto: Divulgação
Amanda Santana, a frente da Tucum — Foto: Divulgação

A matriz de impacto correlaciona a quantidade de artesãs ao tamanho da aldeia em que cada uma delas ocupa, o número de habitantes da aldeia, e quantos hectares cada indígena pode impactar positivamente com seu trabalho e saber. “A bioeconomia costuma envolver grandes cadeias e volumes, mas o artesanato, apesar de ter o desafio de escalabilidade, é um veículo de valorização e continuidade da cultura”, ressalta Amanda.

Nos grupos de discussões que participa, como Uma Concertação para a Amazônia, Amanda procura destacar que o artesanato permite perpetuar conhecimentos tradicionais para as crianças e jovens das aldeias. “Um valor que não conseguimos mensurar em termos financeiros, mas de impacto gigante no dia a dia dessas mulheres e também para o monitoramento dos territórios indígenas e do manejo das espécies, quando elas vão para a mata coletar sementes e fibras, geralmente acompanhadas dos filhos”, afirma a empreendedora.

Empreendedorismo Feminino

Com investimentos próprios, em 2015, ela conseguiu inaugurar a loja online da Tucum. No entanto, a operação principal continuou sendo a loja física até 2019. Tudo ia bem, mas quando a maternidade chegou para Amanda, cuidar da loja física tendo dois bebês de colo se tornou mais desafiador.

A empreendedora aproveitou a onda de crescimento da loja online, decidiu fechar a loja física e se mudar para Teresópolis, município a 200 km do Rio com um ambiente mais tranquilo para viver e criar os filhos.

Em paralelo, buscou ajuda para fazer seu negócio crescer e, em janeiro de 2020, recebeu seu primeiro investimento enquanto empreendedora, a partir da Amaz, aceleradora de negócios de impacto que atuam na região amazônica. Com o investimento de R$ 400 mil, a Tucum se tornou a primeira plataforma de marketplace de artes indígenas do Brasil.

Por conta da pandemia, os cursos que Amanda costumava ministrar pessoalmente nas aldeias passaram a ser online, como um de 25 horas sobre gestão financeira, governança, estoque, precificação, curadoria de produto, melhoria, acabamento, comunicação e storytelling. “Queremos que as histórias sejam contadas por eles, e a gente possa só propagar as histórias”, diz.

Uma nova loja física foi aberta em Teresópolis, onde funciona a operação do negócio online e o centro de distribuição. A equipe é enxuta. Amanda tem uma sócia dedicada à comunicação e conteúdo, um sócio consultivo, três funcionários, e alguns colaboradores pontuais para tarefas de finanças, design e fotografia.

Novos Projetos

Com um segundo investimento que está começando a ser disponibilizado conforme o desempenho da empresa, também de R$ 400 mil da Amaz – que agora se torna sócia, a Tucum está dedicada a reduzir custos com algo que é uma necessidade constante para uma loja online: o marketing digital. A empresa avalia que gasta hoje em torno de R$28 para conquistar cada cliente.

Cerca de 180 clientes frequentam a Tucum por mês e a loja acumula mais de 80 mil seguidores em seu perfil do Instagram. Outro processo importante é a manutenção do relacionamento e das atividades com os 90 povos indígenas e ribeirinhos – bem como absorver outras comunidades que estão na fila para fazer parte da rede de fornecedores.

Depois de concluir muitos workshops, acelerações e até uma faculdade de marketing, construir uma empresa motivada pela valorização da arte indígena inspirou Amanda a resgatar sua própria ancestralidade, enquanto pessoa parda. Ela foi buscar a história da cidade onde nasceu, Ipatinga, de onde sua mãe vem, Manhuaçu, e seu pai, Inhapim – cidades mineiras de nome indígena e de povos originários que resistiram à desocupação de suas terras para dar lugar aos colonizadores.

“O que mais me afeta é ver que o grande e primeiro impacto da violência da colonização foi e continua sendo sobre o corpo e a vida das mulheres. Por isso trabalho focada em gerar renda para que as mulheres possam ter autonomia, lutar pelos seus direitos e contra as invasões de seus territórios", destaca.

A expectativa é, ainda em 2023, inaugurar na região portuária do Centro do Rio de Janeiro, a Casa Tucum – uma loja, galeria, escola e hub de empreendedorismo com espaço para receber artistas indígenas como residentes. Outra meta é chegar ao faturamento de R$ 1 milhão ainda neste ano. Isso tudo com o olhar de que os indígenas não estão só nas matas, como mostrou o mais recente Censo, ressalta Amanda, mas também nas periferias das cidades e nos entornos das florestas.

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