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Bella Camero na série Lov3 (Foto: divulgação )

Bella Camero na série Lov3 (Foto: divulgação )

Relações amorosas precisam acontecer de uma só maneira ou existem outras possibilidades? E as manifestações da sexualidade, há um jeito certo ou errado? Essas são algumas das questões (e tabus) levantadas pela série Lov3, que chega ainda este mês no serviço de streaming Amazon Prime Video. Os protagonistas são três irmãos, um deles vivido por Bella Camero, que na trama é uma jovem que divide apartamento com um trisal - que apresenta à garota muito do que ela não havia visto quando o assunto era relacionamento. 

Para a atriz, a série e sua pesquisa para encarar o projeto abriram sua cabeça para muitas possibilidades. Em conversa com Quem, Bella compartilha suas impressões sobre os temas levantados em Lov3, admite estar aberta à novas possibilidades e comenta sua relação com as redes sociais, onde costuma se divertir com post ousados. Com posicionamentos claros, ela busca trabalhos alinhados ao que pensa e diz querer "jogar luz à assuntos que estão embaixo de alguns tapetes". Famosa por papeis em Malhação e no filme Confissões de Adolescente (2013), está pronta para personagens mais maduros agora que está chegando nos 30 anos. 

A série aborda outras maneiras de se relacionar. Muita coisa foi novidade para você?
Junto com a série eu fui me aprofundando nesses assuntos como a não-monogamia, e achei tudo muito rico porque sempre existiram outras maneiras de se relacionar, mas são menos discutidas. Pesquisei muito essa descolonização de afetos, sobre como ficamos presos em uma única maneira e existem várias, que podem funcionar ou não, e que são parte da subjetividade de cada um. O mais legal da série é mostrar as falhas de cada um, mostrar pessoas apaixonantes e erradas, e a vida é sobre isso.

Chegou a conversar com pessoas que vivem outras formas de relacionamento?
Conheço pessoas que escolheram outras formas de se relacionar e que não mostram muito porque tem muito julgamento, discriminação, mas cada vez mais se abre esse espaço para isso. Acabei vendo muita gente com relacionamentos possíveis, só não achei nenhum quadrisal, mas acho que existe.

Bella Camero em cena da série Lov3 (Foto: divulgação )

Bella Camero em cena da série Lov3 (Foto: divulgação )

A pandemia limitou a vida social, como foi fazer uma série sobre relacionamento e liberdade sexual em um período de distanciamento?
Foi difícil para qualquer relação essa pandemia. Mais do que se apaixonar e sentir tesão, tem a convivência, o melhor e o pior de si mesmo, e na pandemia entramos muito em contato com isso, de dividir a vida. A série não fala da pandemia, mas os personagens estão muito à flor da pele, querendo viver tudo, e estamos querendo sair pra beijar todas as bocas que não beijamos, e também queremos construir uma relação pra ter com quem fazer um isolamento junto.

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Você pessoalmente se sentiu inspirada pela série? Se vê mais aberta a viver talvez um trisal? Mudou suas perspectivas?
Eu coloquei muito em cheque questões de relacionamento, não só sobre ficar com pessoas, mas muito além. Se relacionar vai ser sempre complexo e quanto mais a gente souber o que funciona pra gente, nos relacionaremos de maneiras mais saudáveis. Nunca vivi na prática uma outra forma, ainda, porque a gente carrega anos de travas, então é bom falar sobre isso e naturalizar, porque às vezes nosso próprio julgamento é maior do que das outras pessoas. Sem dúvidas abriu muito a minha cabeça e espero me relacionar amorosamente, e com amigos e família, de forma mais saudável. A não-monogamia do afeto como um todo. Estamos começando a poder olhar, e depois vamos assimilar. Nos acostumamos a nos relacionar de uma maneira e estamos entendendo que temos outras opções, não é um processo de um dia para o outro.

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O streaming surgiu como opção para abordar assuntos mais ousados. Como você vê isso?
O streaming é maravilhoso porque dá espaço para narrativas de diversos pontos de vista. Gosto de ver coisas de outros países que não chegariam até mim.  Nos acostumamos com uma linguagem mais americana, ou no Brasil com as novelas, e agora nos abrimos para outras opções. Diretoras mulheres, pessoas queer, trabalhos que não estavam antes tão à mão. Mas vejo tudo, desde reality show trash até documentários sobre pessoas indígenas, sou uma grande consumidora.

Elen Clarice, Bella Camero e João Oliveira vivem irmãos na série Lov3 (Foto: divulgação )

Elen Clarice, Bella Camero e João Oliveira vivem irmãos na série Lov3 (Foto: divulgação )

Lov3 tem uma juventude conectada. Como você usa suas redes sociais?
Ainda estamos entendendo esse mundo da internet. Não entendo profundamente, mas vejo uma possibilidade de diálogo com pessoas que eu não cruzaria na vida. E é muito direto, consigo comunicar coisas que acredito, dividir informações, naturalizar certos assuntos que somos ensinados a não falar sobre, ou encarar de uma maneira, por exemplo a questão com a nudez, com o próprio corpo, que eu tive a sorte de crescer em um ambiente com um pouco mais de diálogo, mas sei que esse não é o comum, e que isso cria um monte de travas. Nas redes posso falar abertamente com quem está disposto a trocar, mas claro que tem que ter um entendimento das relações que se constroem, dos elogios e das críticas.

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Você completa 30 anos esse ano, e ainda faz muitos personagens jovens. Gosta desse lugar ou tem vontade de retratar as questões da idade que você está chegando?
Eu sempre fiz personagens mais novas, por um lado foi bom porque eu conseguia dar uma densidade, então acho interessante revisitar esses lugares. Idade não significa nada, são as experiências de vida que contam, mas ainda não refleti sobre essa mudança para personagens com outras realidades, acho que vai ser um bom momento.

Bella Camero na série Lov3 (Foto: divulgação )

Bella Camero na série Lov3 (Foto: divulgação )

Você já disse que busca em seu trabalho temas que realmente defende. Têm encontrado boas oportunidades de se expressar? Já perdeu trabalhos por se posicionar?
Isso não era uma decisão quando eu era mais nova, não tinha planejamento e deixava fluir. Mas teve um momento em que, por mil privilégios e estabilidade financeira, eu pude decidir escolher, poder falar ‘não’, dizer ‘sim’ para coisas que estejam mais alinhadas com minha ideologia, não só em coisas politizadas, mas também alinhadas com o meu momento, e com isso acabo não fazendo projetos grandes, de massa, não me torno uma celebridade ou influenciadora, o que para alguns trabalhos é importante, número de seguidores e tal. Mas por outro lado consigo fazer coisas que me interessam mais, sem juízo de valores. Esse equilíbrio acabou sendo possível, e sei que nem todo mundo pode falar ‘não’, quem sou eu pra dizer ‘negue trabalho’, ninguém sabe da realidade do outro.

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Que assuntos você tem vontade de falar atualmente?
Eu gosto de jogar luz a assuntos que estão embaixo de alguns tapetes. Fiz um filme sobre pichação (Urubus, de 2021) que me levou a ter contato com um universo diferente do meu, então acho incrível ser surpreendida, minha busca é por projetos que tenham algo que eu não conheça.