• Beatriz Bourroul (@biabourroul)
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Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)

Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)

Marcos Palmeira, 59 anos de idade, encerra Pantanal com sensação de alegria e satisfação por ter participado das duas versões da novela. Intérprete do peão Tadeu em 1990, o ator chamou a atenção como Zé Leôncio na atual edição.

"Meu sonho de garoto era ser peão de comitiva, sair da Bahia e passar dias e dias viajando. Agradeço muito ao Papinha [o diretor Rogério Gomes] e ao Bruno [Luperi, autor] por ter acreditado em mim para este papel. Por mais que eu dedique este trabalho ao Cláudio Marzo, o meu Zé Leôncio não é o mesmo que o dele, assim como o Tadeu o José Loreto não é igual ao meu Tadeu", afirma.

Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)

Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)

Chamado carinhosamente de "embaixador" por colegas de elenco, o veterano afirma que a novela é forte e a considera um marco em sua trajetória profissional. "Custei muito a me desapegar do Tadeu naquela época (risos). Hoje, vejo as cenas e me lembro da primeira versão", diz.

Atento à causa ambiental, Palmeira lamenta que o bioma tenha sofrido tantos impactos. "Como ambiente, o Pantanal mudou muito. Está completamente diferente do que era há 30 anos. Quando gravamos em 1990, víamos aquele monte de água e, hoje, não se vê mais. O Pantanal está seco."

Quem: Assim como a versão original, o remake de Pantanal conquistou o público. Qual a satisfação ao atuar na novela duas vezes?
Marcos Palmeira: Fazer Pantanal 32 anos depois é um novo ciclo. A primeira versão de Pantanal foi muito importante para mim e fazer o remake também foi especial. Em 1990, Pantanal foi uma novela de obra aberta. Agora, tivemos a novela inteira, fechada. Acho curioso porque, muitas vezes, o público conhece mais a novela do que a gente (risos). Afinal, foi uma novela tão vista e também chegou a ser reprisada.

Ao longo da novela, entrevistamos muitos dos seus colegas de elenco e eles se referem a você como um grande líder. "Marquinhos é nosso embaixador", "Marquinhos que sabe de tudo do Pantanal"... Como foi se ver nessa posição de veterano?
Para mim, foi incrível chegar a esta fase da minha vida – estou com quase 60 anos – e receber um presente esses. Meu sonho de garoto era ser peão de comitiva, sair da Bahia e passar dias e dias viajando. Agradeço muito ao Papinha [o diretor Rogério Gomes] e ao Bruno [Luperi, autor] por ter acreditado em mim para este papel. Por mais que eu dedique este trabalho ao Cláudio Marzo, o meu Zé Leôncio não é o mesmo que o dele, assim como o Tadeu o José Loreto não é igual ao meu Tadeu. Lembro que o Claudio Marzo era mais novo do que sou hoje, mas eu me sinto mais novo que ele na época (risos). É curioso isso. O Claudio Marzo trazia um José Leoncio mais sóbrio, eu busquei trazer um pai mais amoroso.

Você tem muitas recordações da época? Incentivou que os colegas vissem cenas da versão original?
É de cada um assistir ou não. Lógico que guardo recordações daquela época e o que acho mais parecido é a disponibilidade de todos nós, atores, de estar com o pé entregue ao amadorismo. Amador no sentido de ser novo, um novo trabalho, um trabalho diferente. Entre nós, atores, existe a energia do novo. Em 1990, éramos vários jovens atores, além de atores sem tanta experiência na televisão. Hoje, há a mistura de jovens atores com profissionais mais experientes. Todo mundo está disposto a experimentar, afinal o Pantanal demanda essa experimentação. Você não consegue dominar o Pantanal e, por isso, você precisa jogar com os imprevistos, com o imprevisível.

O Tadeu foi marcante em sua carreira em 1990. Como foi sua troca de ideias com o José Loreto, o Tadeu da atual versão?
Custei muito a me desapegar do Tadeu naquela época (risos). Hoje, vejo as cenas e me lembro da primeira versão. Não quis ficar falando como eu fazia porque o Loreto é um outro Tadeu. Tive conversas com Loreto, sim, mas não no sentido de fica orientando, de ser inspiração. Somos muito livres, observamos e exploramos mais as camadas. Estou muito feliz com este trabalho. O Pantanal foi muito marcante há 30 anos. E o sucesso foi inegável mais uma vez. Quando iniciamos, a gente não se colocou na responsabilidade de repetir ou igualar o sucesso. Sinto que pudemos contar de maneira livre. Foi muito bonito ver os personagens renascendo. É como se eu tivesse fazendo uma releitura de um clássico. Da mesma forma que você tem vários Hamlet no teatro, Pantanal é uma novela que permite várias outras versões. Acredito que isso seja uma qualidade das obras do Benedito [Ruy Barbosa]. Também podem existir outros Renascer, O Rei do Gado porque levam a assinatura de um autor que vai fundo na alma do brasileiro.

Considera que sair do eixo Rio/SP e mostrar a região do Pantanal foi decisivo para o público se encantar pela novela?
A gente não tem controle sobre o sucesso, mas acho que o primeiro sucesso parte de nós e da nossa entrega para a realização de um trabalho. E esse sucesso já estava entre a gente desde antes da estreia. Torcemos para que o público embarcasse. Para eu interpretar esse homem conhecedor do Brasil profundo, minha experiência com fazenda, claro, ajudou e contribuiu muito. Conviver com o Guito [ator que interpreta Tibério] também foi muito bom porque ele traz um pouco dessa vivência. Na outra versão, em 1990, o Sérgio Reis trazia todo o carisma e musicalidade dele, mas o Guito traz – além de carisma e musicalidade – essa grande vivência pelo interior e isso me ajuda muito para a novela. A gente tem uma troca muito boa ao falar também sobre questões ambientais.

A preservação do meio ambiente sempre foi uma de suas bandeiras. Quais as mudanças notou no Pantanal?
Muito mudou. Como ambiente, o Pantanal mudou muito. Está completamente diferente do que era há 30 anos. Quando gravamos em 1990, víamos aquele monte de água e, hoje, não se vê mais. O Pantanal está seco.

Ao fazer um balanço do trabalho, qual foi o maior desafio que a novela te proporcionou?
Acho que o grande desafio na composição do José Leôncio foi o sotaque. Ele é um cara que já passou pela Bahia, pelo Mato Grosso, por tanto canto do país… E aí, ficava pensando, como é o sotaque desse cara? Esse foi um grande exercício que tive. O Renato [Góes, que interpretou o personagem na fase anterior] me ajudou muito e trouxe um pouco da tranquilidade do Claudio Marzo.

Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)

Marcos Palmeira caracterizado como Zé Leôncio (Foto: João Miguel Jr. / TV Globo)