Crítica: 'Um Lugar Silencioso: Dia Um' foca em sobre(viver) e tem interpretação brilhante de Lupita Nyong'o

A trama não se preocupa em explicar como ou por que os alienígenas chegaram à Terra, e isso nem é importante: a franquia se baseia mesmo é na conexão entre os personagens, que nasce e é construída no silêncio opressor imposto pela necessidade. Nesse contexto, os excelentes 15 primeiros minutos do filme apresentam de maneira envolvente a personagem de Lupita, Sam. O que o trailer abaixo não mostra é que ela está muito doente, amargurada (com razão) e reservando o pouco afeto que consegue disponibilizar para seu gato de apoio emocional, Frodo.

Sam está no meio de uma viagem bate e volta para Nova York (EUA) com outros pacientes de uma casa de cuidados paliativos quando os monstrengos baixam na cidade. Explosões, violência e terror tomam conta de tudo e todos, e a direção de Michael Sarnoski, aliada ao roteiro dele e Krasinski, não economiza em exibir o choque, pavor e incredulidade de quem encara o apocalipse.

Ao contrário do primeiro e segundo longas, aqui os personagens não têm o benefício de anos convivendo com as sinistras criaturas. A cada esquina e encontro uns com os outros, eles vão aprendendo como sobreviver no apocalipse, de forma que a pessoa a seu lado pode ser um aliado ou, literalmente, um peso morto. Sam descobre em Eric (Quinn) um amigo. Um inglês expatriado, ele tem momentos de quase catatonia devido ao terror, mas é exatamente de quem ela precisa.

No mundo de Um Lugar Silencioso a questão não é quem vai morrer, mas quando. Sam é forçada a enfrentar sua mortalidade, mas em meio à tragédia consegue não só escolher como viver o tempo que tem em seus próprios termos como dar significado a ele. Vale ressaltar o quanto Lupita brilha no papel. Ganhadora do Oscar por 12 Anos de Escravidão, ela entrega tudo e mais um pouco e faz com que a plateia torça para um "final feliz" para a personagem, o que, de certa forma, acontece.

Joseph Quinn, que estourou como o Eddie Munn de Stranger Things, é mais do que escada para Lupita: apesar de seu papel ser menor, o ator é muito talentoso e dá a seu Eric uma humanidade igualmente tocante. Vale ressaltar que, desta vez, há menos silêncio que nos outros dois longas, e os atores têm o benefício de mais falas - ainda assim, os protagonistas têm diálogos inteiros apenas em trocas de olhares, e coadjuvantes, como Djimon Hounsou e Alex Wolff, aproveitam muito bem seu tempo de tela.

Em termos de sustos, Um Lugar Silencioso: Dia Um está bem atrás do primeiro e segundo filmes. Em outras palavras: os pulos da cadeira são poucos. Embora a antecipação quanto ao que vai acontecer esbarre em cenas meio que telegrafadas, a tensão existe e está nos detalhes e nas perguntas que vão além de Sam e Eric: será que os velhinhos que viviam com ela estão vivos? E o menino e a irmãzinha que ajudou? Qual o destino Frodo, o gato cheio de carisma que menos mia no mundo?

Esta abordagem diferente dá ao longa um frescor que cai bem à franquia. Apesar da edição do filme ter alguns problemas - os efeitos especiais também deixam um pouco a desejar -, vale conferir a produção no cinema. Com Um Lugar Silencioso 3 prometido para 2024, trata-se de uma ótimo introdução para este particular mundo pós-apocalipse.