![Patricia Frossard: “Nós mulheres, às vezes nos colocamos bloqueios, eu ainda faço reflexões que não precisaria fazer” — Foto: Ana Paula Paiva/Valor](https://s2-valor.glbimg.com/W-gZT2jyAUAOpxNbH1uXQzxaIVA=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/B/D/E4Bt60TgKmNseZLruAGg/foto15carr-101-phillips-b2.jpg)
“Na liderança a gente exerce diariamente a diplomacia”, diz Patricia Frossard, CEO da Philips no Brasil. “Quanto mais você sobe, mais você vai exercer sua capacidade de negociar e fazer política. Mas, quando as pessoas ouvem a palavra política pode parecer negativo, mas é uma habilidade que você precisa desenvolver”, enfatiza. “Eu faço política com meus filhos, meu marido e é o que acontece dentro da empresa também”.
A executiva foi entrevistada no novo episódio do podcast CBN Professional, parceria do Valor e da rádio CBN, disponível no site da CBN e nas principais plataformas de streaming, como Spotify e Apple Podcast.
Advogada de formação, a executiva começou a carreira na PepsiCo, onde trabalhou por mais de 12 anos. Lá chegou a liderar a área jurídica da multinacional no país. “Eu estava num cruzeiro sem muitas preocupações, com desafios, mas não era algo tão grande”, diz.
Foi então que decidiu olhar para o mercado e fazer uma movimentação lateral de carreira indo para o departamento jurídico da Philips. “Na época (2013) não era uma grande promoção”, explica. Ela conta que demorou um ano para se sentir segura. “Quando você entra em uma nova empresa precisa mostrar a que veio. O importante não é entregar resultados gigantes, mas consistentes, assim você começa a construir um caminho e as pessoas a confiar em você”, recomenda.
Em 2019, recebeu o convite para assumir como CEO da Philips, cargo que acumulou com a de head para legal e compliance Latam. Sua habilidade de se comunicar e de ser uma boa negociadora, segundo ela, contribuiu para sua escolha. “O departamento jurídico de uma empresa não é litigioso, porque seu cliente é o consumidor, então você vai ser mais estratégico, ajudar o negócio a conviver melhor com as regulamentações, com a legislação. É uma atuação proativa para evitar problemas”, diz
Ela sentia que essa bagagem, no entanto, não era suficiente para ocupar o novo cargo. “Eu tive medo, então pedi que o executivo que estava me dando a oportunidade fosse meu coach por um ano”, conta. “Isso me deu segurança, porque existiam habilidades que eu precisava adquirir”, explica. Ela cita uma pesquisa que indica que 70% dos CEOs quando assumem não se sentem preparados. “Fiquei mais tranquila depois que li isso”, admite.
Frossard foi a primeira mulher a assumir como country manager da Philips no Brasil. Esta semana foi eleita também como a primeira mulher presidente do conselho da Associação Brasileira de Tecnologia de Sáude (Abimed). Ela diz que nunca sofreu resistências por ser uma liderança feminina. “Nós mulheres, às vezes nos colocamos alguns bloqueios. Como vou me vestir para uma reunião? Acho que fazemos esse tipo de julgamento. No meu subconsciente, ainda faço reflexões que não precisaria fazer, mas essa é a minha experiência”, afirma. Ela conta que a Philips pretende ter 30% de mulheres em cargos de liderança até 2025. “Acho que é uma meta verdadeira, perfeitamente alcançável.”
Sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional, Frossard diz que o segredo é colocar a família na agenda, como um compromisso. “Eu não seria feliz fazendo uma coisa só, adoro ser mãe e adoro trabalhar”, afirma. Quando assumiu como CEO, ela conta que se preocupou se estava conseguindo atender bem as demandas em casa. “Será que estou sendo uma boa mãe?”, questionou-se. “Resolvi perguntar para o meu filho, que fez piadinha e disse que eu seria uma mãe melhor se deixasse ele comprar mais jogos”, diverte-se. Ela tem uma filha com 19 anos e o outro tem 11. “Hoje digo que tenho provas de que é possível fazer as duas coisas, ter equilíbrio”.
Frossard afirma que como líder, ela sabe que fala sempre para o coletivo. Diz que busca um diálogo aberto, mas que isso não pode ser mandatório. “A pior coisa é ser convidado. Nós abrimos inscrição e quem quer vai para esse bate-papo comigo”, conta. Um desafio da liderança, para ela, é observar se tem alguém que não parece bem ou que está desmotivado, porque isso pode contaminar a organização. “Da mesma forma, se você ajuda alguém, aquilo vai propagar e você atinge o coletivo”, ressalta.
Na Philips, ela comanda cerca de 2 mil funcionários. A empresa, de 130 anos, vem investindo mais em tecnologia para a saúde. “Há 15 anos, ela vem mudando o foco, se desligando e vendendo negócios para o consumidor final, como televisores, áudio, vídeo e produtos eletroeletrônicos, que hoje representam só 20% do nosso portfólio”, conta. Agora, o foco é ter produtos que atendam a toda a jornada do paciente. “Investimos nos últimos anos, € 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento”, diz. O objetivo é fazer a saúde chegar aonde tem que chegar. Este, para ela, é seu maior desafio.