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Por , Valor — São Paulo

Saulo Castel decidiu se mudar de São Paulo para o Canadá há 23 anos, influenciado tanto por questões profissionais quanto pessoais. Já casado quando se mudou para o país, o psiquiatra ainda não tinha filhos, mas já pensava nas melhores opções para sua família. “Na minha avaliação, o Brasil não era um lugar adequado para se criar filhos na época, por conta de violência e corrupção”.

A oportunidade de se mudar para o país surgiu quando Castel conseguiu uma bolsa de pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Toronto no Departamento de Psiquiatria, no Center for Addictions and Mental Health.

“Eu fiz a pós-graduação durante meu primeiro ano no Canadá, mas aí eu e minha mulher à época decidimos ficar no país e, no ano seguinte, abriu um programa de requalificação para exercer minha profissão”, contou o psiquiatra.

Castel afirmou que, para conseguir exercer a psiquiatria no Canadá, teve que fazer três exames de medicina básica e trabalhar cinco anos em um lugar com baixa densidade de psiquiatras perto de Toronto. Depois desses cinco anos, conseguiu tirar sua licença plena.

Desde então, Castel trabalha no mesmo hospital, somando mais de quinze anos no Sunnybrook Health Sciences Centre, instituição vinculada à Universidade de Toronto, a qual ele ainda atua como professor assistente.

Hoje, Castel não pensa em retornar ao Brasil, a não ser para rever seus amigos de longa data. Segundo ele, além de sua filha seguir cursando o colégio, as mesmas razões que o levou a se mudar do Brasil seguem “um pouco melhores em alguns pontos e piores em outros”.

A segurança e corrupção no Brasil e Canadá

Castel contou que sua percepção sobre a segurança e a corrupção no Brasil, dois dos pontos que o levaram a mudar-se do país, ainda hoje persiste.

“Em relação à segurança, podemos começar falando que aqui as casas não têm cerca. Não existe isso de colocar um muro na frente da sua residência. O volume de crimes com armas, comparado com o Brasil, é ridiculamente baixo. Então, eu não tenho essa preocupação de ser assaltado aqui no Canadá”, disse.

De acordo com o Global Peace Index de 2023, o Canadá é o 11º país mais seguro do mundo. Já o Brasil encontra-se na posição 132º. O próprio relatório aponta que menos de 20% dos canadenses relatam que não se sentem seguros andando sozinhos à noite em sua cidade ou bairro.

A percepção de Castel sobre a diferença nos níveis de corrupção também tem embasamento. O Corruptions Perception Index de 2023 colocou o Canadá como o 12º melhor país em níveis de corrupção, enquanto o Brasil está na 104º posição. A média global dos países no ranking está em 43 pontos. O Brasil contabilizou 36 pontos nos níveis de corrupção, enquanto o Canadá chegou a 76.

O mercado imobiliário no Canadá

Castel pontua que uma das questões mais difíceis de viver no Canadá atualmente são os preços dos imóveis.

“Moradia é um grande problema em Toronto, Vancouver e Montreal, principalmente por conta do custo, das altas taxas de juros e da demanda contínua”, disse. A taxa de juros do Canadá está, atualmente, em 5% ao ano — o maior nível em mais de 20 anos.

De acordo com a Moody’s, o mercado imobiliário do Canadá está em um período de declínio dos preços das casas, devido ao valor das taxas de juro e a queda acentuada da acessibilidade às moradias.

A Moody´s também destaca que a razão dos custos médios de aquisição de casa própria em relação ao rendimento médio disponível das famílias aumentou para o seu nível mais elevado desde o final da década de 1980.

O acolhimento do Canadá aos imigrantes

Castel explica que o Canadá é um país extremamente receptivo aos imigrantes, principalmente pelo alto número de pessoas que se mudam para lá.

De acordo com dados de 2022 do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, existem aproximadamente 133.170 brasileiros vivendo no Canadá. O Itamaraty, no entanto, enfatiza que o número é uma estimativa, uma vez que o registro consular de nacionais no exterior não é obrigatório.

“O Canadá recebe muitos imigrantes, então é um país que se faz sentir bem-vindo. No que diz respeito à língua, é uma questão de aprender, de adaptação e prática. Mas aqui é um lugar fácil de se adaptar, todo mundo tem sotaque”, disse.

A hospitalidade canadense também se mostra no ranking da felicidade. O Canadá é considerado o 13º país mais feliz do mundo, de acordo com o World Happiness Report de 2023.

Pontos de atenção

A questão da língua é um dos pontos que as pessoas interessadas em se mudar para o Canadá precisam estar atentas. O país adota tanto o inglês quanto o francês como línguas oficiais do país. A província de Quebec, onde fica Montreal, por exemplo, é a região onde se fala francês.

Outro ponto de atenção está ligado ao clima do país, diz Castel. Para ele, o frio extremo pode ser um desafio, considerando as baixas temperaturas do Canadá no inverno, quando os termômetros podem marcar -40º em algumas cidades.

Sistemas públicos de saúde

O Brasil e o Canadá apresentam sistemas de saúde universal acima da média global, de acordo com o UHC service coverage index da Organização Mundial da Saúde de 2021. No relatório, o mundo registrou uma média de 68 pontos de 100 possíveis na classificação dos sistemas. O Brasil, por sua vez, contabilizou 81 pontos e o Canadá, 91.

Apesar disso, ambos os sistemas funcionam de forma distinta. No Canadá, tanto os hospitais quanto os médicos não são empregados pelo Estado. Eles são entes privados e servidores autônomos que, ao prestarem serviços, serão pagos pelo governo da província onde se encontram, ao invés da conta ir para o paciente.

No Sistema de Saúde Pública (SUS), por outro lado, os médicos são em sua maioria empregados pelo Estado, selecionados por meio de concurso público organizado pelas secretarias estaduais ou municipais de saúde.

Castel comenta que outra das razões pelas quais ele não pensa em voltar seria por conta da qualidade do sistema de saúde canadense e o alto custo dos seguros de saúde no Brasil.

“Eu também não penso em voltar ao Brasil porque, na medida que eu fico mais velho, se eu voltasse, eu teria que arcar com um custo de seguro de saúde, algo que eu não tenho que me preocupar hoje, e que seria uma despesa bem alta”, comentou.

O psiquiatra também justifica sua escolha por conta da estrutura de ensino de medicina do Canadá, que exige mais um grau de formação para exercer a profissão.

“Na comparação dos sistemas, acho que o canadense é melhor. No Brasil, há uma série de profissionais que atuam sem controle de qualidade, por conta de um volume imenso de escolas de medicina. Além disso, caso você ganhe o diploma, você já pode exercer a medicina no Brasil. Aqui, se você terminar a faculdade, para exercer a profissão ainda é necessário fazer residência”, comentou.

Como imigrar para o Canadá?

A imigração para o Canadá, como de diversos outros países, ocorre mediante a aquisição de um visto, seja ele de estudos, trabalho e até mesmo para seus familiares. Veja alguns:

  • Study Permit (Permissão de estudos)
  • Visto de negócios (B-1)
  • Visto para pais e avós (Super Visa PG-1)
  • Visto WX-1 (para atividades profissionais em curto período de tempo).
  • Visto de trabalho W-1 (Open Work Permit ou Employer Especific Work Permit)

Para isso, é preciso que o imigrante tenha algum tipo de contrato empregatício, alguma relação de negócios ou uma matrícula de estudos em uma universidade, como foi o caso de Castel.

“O mercado de trabalho depende muito da área que você está. No setor de informática, é muito fácil conseguir emprego, porque as linguagens de codificação são muito similares. Na medicina, por outro lado, há todo um processo para revalidação de licença e a necessidade de residência. Na psicologia é diferente, porque, além do diploma de graduação, você precisa de um doutorado clínico anterior para fazer clínica. Então, depende muito da área”, disse Castel.

O próprio governo do Canadá indica em seu site as formas de imigração para o país que podem ser adotadas, explicando onde é possível achar emprego — e em quais províncias.

*Estagiário sob a supervisão de Diogo Max

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