O comércio eletrônico brasileiro deve faturar R$ 165 bilhões este ano, 9,4% a mais do que o registrado em 2021. A projeção é da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). O cenário positivo também é reforçado pela empresa de análise de mercado e consumo Statista, que calcula taxa de crescimento anual de 20,73% até 2025 para o e-commerce, o que posiciona o Brasil como o País de maior expansão nos próximos anos.
Diretor de Varejo e Indústria de Bens de Consumo Não-Duráveis da Falconi, Bruno Henrique Oliveira destaca que, para se manterem em avanço, as organizações terão de se estruturar para usar estrategicamente as ferramentas de análise de dados e garantir mais eficiência, reforçando a importância da tecnologia para facilitar a interpretação dos dados. Para ele, a aplicação da ciência de dados na gestão melhora a compreensão do comportamento do consumidor, antecipando demandas de itens comercializados.
Além disso, Oliveira explica que, em um cenário de juros altos, tanto no varejo online quanto no offline, é crucial saber gerenciar estoques. “Como são muitas as decisões que precisam ser tomadas considerando variáveis internas e externas, torna-se comum ocorrerem erros nos pedidos e na distribuição, podendo assim aumentar os níveis de estoque ou impactar o cliente pela falta de produtos no ponto de venda”, diz.
Com uma estratégia adequada, empresas se posicionam melhor diante de competidores e suas próprias necessidades, e, sobretudo, geram vantagens comerciais e operacionais. “Os dados alavancam o potencial porque melhoram o processo de decisão e qualificam as escolhas em um ambiente de negócio com múltiplas variáveis. O varejo é um setor muito exposto. Como está na ponta da cadeia de abastecimento, absorve impactos que abrangem desde o campo até o consumidor final. Nesse contexto, capacidade de reação é fator de competitividade e sobrevivência. Ter capacidade de reagir é conseguir analisar fenômenos com profundidade que possibilitam a melhor tomada de decisão”, completa Bruno.
Em 2021, o varejo restrito (varejo de bens de consumo, exceto automóveis e materiais de construção) cresceu 13,9%, movimentando R$ 1,99 trilhão do PIB brasileiro. Já o varejo ampliado (considerando automóveis e materiais de construção) movimentou R$ 2,41 trilhões, 27,7% do PIB nacional, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Boa parte do resultado está ligada ao bom desempenho do e-commerce nos anos recentes e na aplicação da inteligência de dados em sua operação.
Black Friday deve somar R$ 6,5 bilhões em vendas online
Uma das maiores alavancas de crescimento do e-commerce nacional é a Black Friday, tradicional evento comercial que este ano acontecerá em 25 de novembro. Em 2021, a data faturou R$ 5,4 bilhões, aumento de 5,8% na comparação com o ano anterior. Para a edição deste ano, a projeção de vendas feita pela ABComm é ainda mais positiva e beira os R$ 6,5 bilhões no e-commerce brasileiro. Já os pedidos online devem chegar a 8,3 milhões, 3,5% a mais quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Aliás, a participação dos canais digitais já havia sido relevante em 2020, correspondendo a 14,4% das vendas realizadas na data, segundo a ABComm. “Durante a pandemia o varejo online apresentou um crescimento inédito causado pelas restrições impostas pelo lockdown. A Black Friday de 2020 foi um marco em termos de desempenho para o comércio online, pois era a única alternativa disponível para algumas categorias, o que acabou levando clientes que nunca haviam experimentado o canal a utilizá-lo”, explica o diretor da Falconi.
Copa reforça necessidade de análise de dados
Este ano, o evento comercial coincidirá com o período de realização da Copa, o que traz um cenário inédito e, provavelmente, único na história. A estreia do Brasil, inclusive, ocorre em 24 de novembro, véspera da Black Friday. Para a ABComm, o setor irá se beneficiar com isso: a expectativa é faturar cerca de R$ 90 bilhões neste semestre.
“Será preciso ter uma capacidade extraordinária de prever demandas. E nesse cenário a utilização de ferramentas tecnológicas de análise de dados ganha relevância. Não é um exercício simples. Vai depender da habilidade de conjugar a previsão de dois eventos grandes que nunca coincidiram. Os dados podem trazer a resposta de eventos pretéritos que não necessariamente vão explicar o que vai acontecer no futuro”, diz Oliveira.
![Bruno Henrique Oliveira, diretor de Varejo e Indústria de Bens de Consumo Não-Duráveis da Falconi — Foto: Claudio Belli/Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/ujOWzYOlvfwBv9jbsQo10pbD324=/0x0:6016x4016/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/V/t/tVyuIMQJOPQgyyR0SUfg/259falconi220622retratos.jpg)
Setores serão favorecidos por conta dos jogos de futebol da Copa. Na pesquisa realizada pela plataforma de mídia Teads, aparelhos de TV aparecem com destaque no ranking de intenções de compra dos brasileiros (48%). “Algumas categorias serão impulsionadas antes da Black Friday em função da Copa, como é o caso das TVs. Outras que geralmente não são fortemente impactadas pela data, como é o caso dos alimentos e bebidas, apresentarão forte desempenho pela convergência do período”, exemplifica Oliveira.
O otimismo também vem de pesquisa divulgada pela Nielsen no evento DigiTalks Expo, em São Paulo: 87% das pessoas que costumam comprar online na Black Friday disseram que gostam de ver a bola rolar. Além disso, metade dos consumidores que participaram dessa pesquisa estavam planejando comprar produtos como preparação para a Copa.
Mas atrair a atenção do público será um desafio. Oliveira lembra que a Black Friday é um evento que desafia varejistas e que a junção excepcional com a Copa traz uma oportunidade instigante. Líder no varejo de eletrodomésticos e eletroeletrônicos no Brasil e presente com as marcas Casas Bahia e Ponto, a Via acredita num trimestre de vendas aceleradas por conta da concentração dessas duas sazonalidades, que ainda se somam a um terceiro evento também bastante importante para o comércio: o Natal.
De acordo com Roberto Fulcherberguer, CEO da Via, a preparação para as datas inclui cuidados com logística, campanhas especiais, garantia de estoque e capacitação para lojistas parceiros do marketplace: “Estamos prontos para este cenário, com estoques garantidos e otimizando a logística com a utilização das lojas e centros de distribuição para partida de entregas. Criamos uma campanha com foco nos jogos da seleção e na Black Friday, que premia consumidores a cada rodada. Também lançamos cursos para o lojista alavancar vendas”, explica Fulcherberguer.