Dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta – mais de 90% de fontes renováveis de eletricidade –, o Brasil tem muito ainda para evoluir em direção a um novo modelo de economia verde. O primeiro passo, porém, não será com mais placas solares e turbinas eólicas, mas com a mitigação dos gargalos históricos que o país enfrenta em infraestrutura, avaliam investidores de private equity com grande experiência no setor que participaram do Alternatives Day 2023, encontro realizado em São Paulo pelo UBS¹.
“O Brasil terá muito mais sucesso na descarbonização na matriz de logística e transportes investindo em rodovias, hidrovias e cabotagem, do que em carros movidos a hidrogênio”, provoca o CEO e sócio da YvY Capital, Gustavo Montezano, que presidiu o BNDES de 2019 a ao início deste ano. À frente da recém-lançada YvY, que tem entre os sócios o ex-ministro Paulo Guedes, Montezano explica que a companhia está “100% focada em ativos e projetos visando a transição ambiental e climática”.
O Pátria Investimentos, pioneiro no setor com atuação desde 1988, acredita que o Brasil está em um momento muito positivo para a atração de investimentos em segmentos tradicionais de infraestrutura, que oferecem boa rentabilidade e baixa concorrência. “Entramos no mercado de rodovias em 2016 e já temos concessões de 4 mil km, um mercado estável e de baixa competição. No último leilão do governo federal, no Paraná, havia só dois players concorrendo, é muito pouco”, afirma André Sales, CEO e sócio do Pátria Infrastructure. Em condições semelhantes, ele ressalta, está o setor de transmissão de energia, que tem poucos concorrentes e ainda bom espaço para crescer.
Os dois gestores concordam que uma das estrelas do mercado nos próximos anos deverá ser o setor de saneamento, que têm um déficit de oferta imenso – são 100 milhões de brasileiros sem acesso a esgoto tratado – e pode atrair de R$ 700 a R$ 800 bilhões em investimentos nos próximos anos. “É um mercado estratégico com boa qualidade regulatória e baixa exposição a problemas internos, porque sempre vai haver demanda”, avalia Montezano, lembrando da recente aprovação do novo marco regulatório do saneamento.
O CEO do YvY considera que o mercado de energia renovável já está bem equacionado, mas faz grande aposta no futuro setor de gases – hidrogênio, biometano e carbono – que terão papel importante na transição ecológica e demanda de forte investimento em infraestrutura nos próximos dez anos. Paralelamente, Montezano lembra que o Brasil aproveita muito mal suas imensas reservas de gás natural, uma commodity com alta demanda global, sobretudo na Europa em tempos de Guerra da Ucrânia. “Queremos aproveitar as oportunidades do fóssil primeiro e abrir caminhos para os novos gases”.
Além da boa demanda, a qualidade dos projetos e o amadurecimento do mercado anima os investidores. Sales lembra que, há 20 anos, a única fonte de financiamento era o BNDES, com garantia bancária. Não existia estrutura de project finance e as empresas assumiam alto risco nos leilões sem saber se teriam suas propostas aprovadas pelo banco de fomento. “Agora o mercado se sofisticou e os bancos privados também entraram em grandes projetos de concessão e construção”, destaca o gestor.
Outro fator positivo é o rápido crescimento de opções de investimento em Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e Fundos de Investimento em Participações (FIP), que estão atraindo mais pessoas físicas para projetos de private equity e que ainda estão só começando na área de infraestrutura, que opera menos de R$ 3 bilhões em fundos, dentro de um mercado que já movimenta R$ 100 bilhões em real estate.
“Outra tendência que deve crescer bastante é a presença de pessoas físicas por meio dos fundos de Wealth (grandes fortunas), que primeiro vieram do exterior e que agora também estão atraindo o interesse de famílias brasileiras”, aponta Sales.
Special Sits aproveitam o momento
As boas perspectivas do setor de infraestrutura também impulsionam os fundos especializados em Special Situations e Legal Claims. Uma mudança importante no cenário é a provável autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para o governo pagar R$ 95 bilhões em precatórios represados durante o governo Jair Bolsonaro ainda em 2023.
De acordo com Alexandre Cruz, sócio fundador da Jive Investments, a normalização dos vencimentos dos precatórios federais dará mais previsibilidade jurídica ao mercado, em um cenário que traz também outros atrativos. “Temos os bancos fechados para oferta de capital e muitas empresas com excelentes ativos e garantia precisando de recursos”, destaca. É onde se situam hoje muitas companhias do setor de infraestrutura, que tiveram problemas de caixa durante a pandemia e agora batem à porta dos fundos de Special Sits para não interromper o ciclo de investimentos.
![Alexandre Cruz, sócio fundador da Jive Investments. — Foto: Leo Orestes/Glab](https://s2-valor.glbimg.com/9_wl1z9O8T8dYTSKKegTAAxrq40=/0x0:1000x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/9/A/fxrwoXTyenBIPOl9IXGQ/alexandre-cruz-socio-fundador-da-jive-investments-leoorestes-6-.jpg)
Outra oportunidade importante é a carteira de Provisão de Devedores Duvidosos (PDDs). Em 2016, após dois anos de PIBs negativos, o volume de provisão atingiu o recorde de R$ 115 bilhões. Este ano, esse volume deverá bater outra marca histórica, de R$ 196 bilhões. Boa parte desse resultado se deve à alta inadimplência – com forte impacto no varejo –, mas também no mercado imobiliário, o que traz grandes oportunidades.
“Estamos vendo recorde atrás de recorde de provisionamento dos bancos por conta de PDDs e acreditamos que a partir do ano que vem eles terão que aliviar um pouco esse estoque, o que vai abrir espaço para o mercado de secundários para a compra dessa carteira de dívidas”.
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¹ Credit Suisse, part of UBS Group
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