A Copastur, umas das principais agências de viagens corporativas do Brasil, é alvo de uma investigação pela Polícia Civil de São Paulo por suposto estelionato. A denúncia foi feita pela BRF diante de suspeitas de um golpe praticado por meio do uso indevido dos códigos de desconto da companhia nas compras de passagens aéreas — esse preço mais competitivo é dado pelas aéreas às grandes corporações diante de um grande volume de compras. A Copastur nega qualquer tipo de irregularidade nas suas práticas comerciais.
O tema ganhou os corredores do setor de turismo nos últimos dias após um suposto ex-funcionário da Copastur ter criado um blog com uma denúncia. A página não estava mais no ar nesta sexta-feira (17). O tema veio a público agora, mas, à polícia, a BRF informou que investiga o caso desde 5 de outubro de 2023, quando o grupo recebeu a primeira denúncia.
Segundo inquérito policial, a suposta fraude acontecia de duas formas. A primeira seria por meio da venda por parte da Copastur de uma passagem ao cliente corporativo pelo preço cheio, sem a aplicação do desconto, que entraria apenas depois como uma forma de ampliar o retorno da empresa pela negociação. A segunda seria por meio de um uso indevido do código das empresas — que por um grande volume conseguiriam descontos até de 25% — para a compra de terceiros.
A BRF começou a suspeitar diante de compras indevidas no cartão de crédito corporativo. Normalmente, as agências de viagens usam o cartão corporativo das empresas diretamente com o fornecedor do serviço (no caso, as aéreas). Mas nas compras no cartão da empresa constam lançamentos como “Latam Airlines”, o que não seria uma transação feita diretamente à companhia aérea.
Na denúncia, a BRF apresentou diversas faturas de cartão de crédito, que rondam a casa de R$ 1 milhão cada. O tema foi alvo de três notificações extrajudiciais encaminhados pela BRF à Copastur. As respostas, entretanto, foram consideradas evasivas, o que culminou na rescisão do contrato firmado entre as duas partes.
Na denúncia, o suposto ex-funcionário defende que essa prática foi feita diversas vezes em contas de muitas companhias. Segundo fontes, uma das clientes, a TIM, suspendeu o contrato com a Copastur e instaurou uma auditoria interna para avaliar o caso.
As fraudes funcionariam para passagens nacionais e internacionais nas aéreas Latam, Gol e Air France — a Turkish também aparece no documento da polícia civil. As aéreas foram intimadas pela polícia a apresentar os recibos das compras feitas pela Copastur para que sejam cruzados com o histórico de pagamentos da BRF.
Fontes destacaram que o setor de turismo corporativo monitorava o tema de perto. Isso porque a Copastur estaria adotando uma prática agressiva de redução de comissões para atrair clientes.
Na denúncia, a BRF aponta a tabela de preço em que a comissão paga à Copastur para uma emissão de passagem aérea doméstica rondava os R$ 3,41 e R$ 5,40. “Esse preço não deveria custar menos do que R$ 30 de comissão como preço justo. Vimos na denúncia R$ 7,60 para consultoria de emissão de passaporte. Não faz sentido nenhum”, disse um executivo do setor de viagens corporativas ao Valor, sob a condição de anonimato.
Outra fonte no setor explicou que o uso indevido de cupons — chamado de venda vazada — é amplamente conhecido pelas aéreas, que utilizam de tecnologia para monitorar eventuais erros. “É comum até falhas mecânicas mesmo, de um funcionário aplicar um código por equívoco”, disse essa pessoa sob condição de anonimato.
Os casos, entretanto, costumam ser mais pontuais. A própria Latam já teria encontrado falhas e aplicado algumas ADMs (Agency Debit Memos), uma espécie de multa diante de alguma falha encontrada, à Copastur.
Em nota, a Copastur disse ter compromisso com a ética, a transparência e a legalidade em todas as suas operações ao longo dos 51 anos de existência. “A direção da Copastur já está conduzindo uma investigação rigorosa para apurar os fatos e localizar o acusador, que criou um site com informações que tentam prejudicar a reputação da organização. Estamos colaborando ativamente com as autoridades e à disposição para fornecer todas as informações necessárias para acelerar a investigação”, disse.
Gol, Latam, Air France e Turkish Airlines e BRF foram procuradas, mas não se manifestaram sobre o tema.
Em nota, o Ministério Público de São Paulo disse que o tema ainda está em investigação, que não foi concluída. “O MPSP aguarda a finalização desta investigação pela autoridade policial.”
Em nota, a TIM disse que seu modelo de contratação de agências de turismo se resume ao serviço de reservas. “A negociação dos valores e o pagamento dos bilhetes emitidos são feitos diretamente às companhias aéreas.”