A empresa de blockchain C9 Tech desenvolveu um “cartão cripto” para pagamento de benefícios de servidores do município paulista de Santo Antônio da Alegria. A partir de setembro, os 500 funcionários da prefeitura receberão vale-refeição por meio de um cartão que funcionará como uma “wallet” (carteira digital) de criptomoeda e será aceito nos estabelecimentos da cidade. O voucher será abastecido com a criptomoeda social “Alegria”, uma “stablecoin” pareada na relação de 1:1 com o real. A moeda digital rodará na blockchain Polkadot e foi desenvolvida na plataforma de “appchains” da Tanssi, com solução de segurança da Dinamo Networks.
Thiago Chaves Ribeiro, CEO da C9, conta que a empresa conseguiu programar os “smart cards” para funcionarem em blockchain e se conectarem a terminais POS, ou seja, “maquininhas” de cartão. A partir daí, fez uma parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) Inova Brasil para buscar prefeituras que estivessem abertas a pagar benefícios por meio de wallets de criptomoedas. “O primeiro acordo foi com a prefeitura de Santo Antônio da Alegria. Credenciamos todos os estabelecimentos de lá”, relata. A cidade, de acordo com Ribeiro, será um piloto interessante por ser um município de pequeno porte, com 8 mil habitantes.
A ideia de substituir os famosos cartões de vale-alimentação e vale-refeição por um cartão cripto se baseia no ganho de eficiência que a tecnologia blockchain traz ao remover intermediários e baratear a operação. “Hoje, um agente, para ter cartão, precisa de processadora, emissor, bandeira e subadquirente para fazer a transação na prefeitura. Os muitos agentes dificultam a gestão, por mais que sejam players estabelecidos. Fazer direto na blockchain torna tudo mais simples”, afirma. Além disso, a programabilidade dos contratos inteligentes em blockchain traz a garantia de que os valores só sejam utilizados para o fim correto, o que coíbe a prática de fraudes.
De acordo com Ribeiro, no pagamento por voucher, a prefeitura precisa pagar uma taxa de até 8% para o fornecedor, enquanto na nova solução a tarifa cai para 5%, já que bancos e bandeiras como Visa e Mastercard não entram na equação. “A ideia é sermos bem mais competitivos do que o mercado tradicional.”
Todas as transações ocorrem “on-chain” e também podem ser realizadas por meio de um aplicativo de celular com a carteira digital. Thiago Rüdiger, vice-presidente de crescimento da Tanssi, explica que o app é a própria blockchain, como funciona com todas as aplicações construídas dentro da Polkadot, que tem na rede principal apenas suas camadas de segurança e consenso.
A operação se baseou no marco legal das startups e na legislação do chamado Contrato Público para Solução Inovadora (CPSI), que permite a realização de licitações com menos burocracia.
Jean Guillot, diretor de negócios da Dinamo, avalia que a iniciativa pode ser uma forma de antecipar a maneira como o Drex, o real digital, pode funcionar. “Está na essência do Drex, porque envolve política pública”, avalia Guillot, lembrando que a Dinamo está em um dos 16 consórcios que participam dos testes do real digital.