Municípios do Rio Grande do Sul voltam a contar perdas após nova onda de chuvas no Estado

Em Porto Alegre, prefeitura fecha mais comportas do sistema de proteção contra cheias e afirma que medida é por prevenção

Por , Valor — Porto Alegre


A Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgou um boletim, nesta segunda-feira (24), indicando que já são 82 municípios gaúchos com danos causados pelas chuvas intensas, granizo e vendaval que atingem o Estado desde o dia 14 de junho.

Entre os danos reportados, estão alagamentos, inundações e deslizamentos de terra, atingindo residências em diversos municípios e deixando mais de 4,8 mil pessoas desalojadas e 988 desabrigadas.

Em Montenegro, na região metropolitana de Porto Alegre, o número de desalojados chegou a 1,2 mil. Em Maquiné, no litoral norte, cerca de 2 mil ficaram ilhadas com estradas interrompidas.

Ainda segundo a Defesa Civil, entre o último sábado e esta segunda, 24 municípios reportaram danos, incluindo Eldorado do Sul, que teve quase todo o território inundado nas enchentes que atingiram o Estado em maio, e Muçum, município já atingido em 2023 e no mês passado.

Os dados das novas chuvas são contabilizados separadamente aos da catástrofe que ocorreu entre os últimos dias de abril e no decorrer de maio. O maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul teve pelo menos 178 mortes e ainda registra 388 mil desalojados, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela Defesa Civil.

Em Porto Alegre, o DMAE (Departamento Municipal de Águas e Esgotos), fechou outras três comportas do sistema de proteção contra cheias, nesta segunda. Das 14 comportas, apenas duas seguem abertas.

Segundo o departamento, a medida foi adotada como prevenção, em razão da cheia em afluentes do Guaíba, especialmente no rio Jacuí, e com a ação do vento sul, que pode influenciar em maior represamento das águas, já que a previsão não indica que a cota de inundação, de 3,60 metros, seja ultrapassada.

O IPH (Instituto de Pesquisas Hidrológicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) diz que a tendência é que o nível volte a ficar abaixo da chamada cota de alerta apenas no final da semana, "a depender dos ventos, chuvas previstas e volumes afluentes dos rios".

Após as enchentes de maio, quando o Guaíba chegou à marca de 5,35 metros, alcançando medição histórica e ultrapassando a da enchente de 1941, o DMAE trabalha com o fechamento permanente de oito comportas do sistema de proteção.

‘"O projeto está previsto para ser concluído em 30 dias e após será contratada a execução da obra. Os portões serão substituídos por paredes de concreto, impermeabilizadas, para que não haja necessidade de abertura e fechamento de comportas, otimizando a ação do DMAE nos demais portões’’, afirma o departamento.

Na última quarta-feira (19), com chuvas intensas em poucas horas, pontos da capital voltaram a registrar alagamentos, como na região do chamado Quarto Distrito, antiga parte industrial de Porto Alegre.

Carlos Stacke, 58, que tem uma loja de móveis há 30 anos na divisa entre os bairros São Geraldo e Navegantes, chegou por volta das 4h de quarta ao local, assim que viu vídeos mostrando ruas alagadas. Pela manhã, ele abriu por conta as tampas de bueiros na calçada e começou a limpar sozinho o esgoto na esquina da loja, removendo lama, lodo e lixo.

Em 2 de maio, um dia antes da água começar a subir em Porto Alegre, ele tirou parte dos móveis da loja e levou para o segundo piso de um casarão, do outro lado da rua, cedido por um vizinho. Àquela altura, lembra, todo mundo achou uma precaução exagerada. No fim, com água chegando a 1,7 metro no interior da loja, ele ainda perdeu 45% do estoque, pelos móveis que não conseguiu retirar.

"Temos que fazer por nós mesmos", disse ele à reportagem na última quarta. Depois, segundo Stacke, equipes estiveram no local para limpeza. ‘

"A maioria do pessoal está indo para outros bairros. É ruim para nós, que estamos com o comércio aqui há tanto tempo. Só nessa quadra são cinco comércios fechados já."

Ele e a mulher, Sirlei, estão vivendo em uma casa emprestada em Viamão, na Grande Porto Alegre, enquanto não conseguem voltar para a sua, no bairro Rio Branco, um dos mais atingidos em Canoas, igualmente na região metropolitana da capita gaúcha.

Se a água voltar a subir na loja, eles dizem que também podem repensar a localização.

"Se a gente perde tudo isso, não temos dinheiro em banco, nosso dinheiro está nos móveis", diz Sirlei. "Não somos aposentados, a gente depende da loja", complementa o marido.

Segundo o diretor do DMAE, Maurício Loss, as chuvas da semana passada deixaram a capital com mais de mil quilômetros de vias inundadas.

"Temos muito lixo chegando nas casas de bomba, obstruindo as redes e isso afeta, sim, o escoamento das águas. As casas de bomba não estão funcionando ainda a pleno", declarou ele ao Valor na ocasião. Nesta segunda, das 23 casas de bomba, 22 estavam funcionando com 65% do total da capacidade de bombeamento ativo.

O DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) divulgou que teria equipes em 14 pontos da cidade, nesta segunda, ressaltando que os serviços poderiam ser afetados por questões climática, trânsito ou volumes de resíduos na via. O departamento de limpeza afirma que, entre 6 de maio e domingo (23), foram removidas 79,8 mil toneladas de resíduos pós-enchentes.

A prefeitura criou ainda pontos chamados de bota-espera, locais perto de regiões que foram inundadas, onde são descarregados entulhos para depois serem levados até um aterro no município de Gravataí. Um deles fica na Voluntários da Pátria, via que atravessa bairros do Quarto Distrito e que voltou a ter pontos de alagamento.

"O alagamento voltou no fim de semana e eu fui limpar os esgotos. No domingo, subiu a água aqui", conta Rubeson Nunes Pergher, 67, dono de uma loja de ferragens em frente ao depósito de entulhos. "Do lixo que está aqui, começaram a remoção, mas também está chegando mais."

Ele estima que o prejuízo em sua loja, onde a água chegou a altura de 2,2 metros e ficou por 27 dias, tenha chegado a R$ 2 milhões. Cerca de 80% do estoque foi perdido.

Locais alagados pela enchente no município de Eldorado do Sul (RS) — Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
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