Cúpula da Otan coloca aptidão de Biden sob as lentes de um microscópio

Cúpula da Otan se tornou teste crucial sobre aptidão de Biden para um segundo mandato na Casa Branca

Por Dow Jones — Washington


A Casa Branca esperava que a reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que começa nesta terça-feira (9) fosse uma exibição da liderança exercida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a aliança militar ocidental e das diferenças dele com Donald Trump. Em vez disso, ela se tornou um teste crucial sobre sua aptidão para um segundo mandato.

Um desempenho sólido durante o encontro de três dias dos líderes da Otan poderia ajudar a fortalecer sua candidatura, ao lembrar aos eleitores o fato de que ele apoia a aliança militar de 75 anos, em contraste com seu antecessor, que a critica regularmente. Por sua vez, outro revés como no debate contra Trump em junho apenas intensificaria os clamores para que o presidente, de 81 anos, se retire da disputa presidencial.

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"Ele, absolutamente, não tem margem para nenhum tipo de erro, nenhum tipo de deslize", disse Rachel Rizzo, pesquisadora sênior no centro de estudos Atlantic Council. "O tipo de gafe que se tornou muito comum para Biden é apenas um fator de quem ele é como pessoa e como presidente, agora estará sendo visto pelos líderes europeus como uma questão maior de aptidão."

Biden abrirá a reunião de cúpula com um discurso nesta terça-feira, seguido por um dia de reuniões e um jantar na Casa Branca para os líderes da Otan, na quarta (10), e uma entrevista coletiva para repórteres, na quinta (11). Ele também terá reuniões bilaterais com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o novo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.

A embaixadora dos EUA na Otan, Julianne Smith, que apresentou um relatório ao presidente há três semanas sobre a reunião de cúpula, disse na segunda-feira estar confiante sobre as habilidades do presidente. "Ele acabou me fazendo um monte de perguntas que foram difíceis de responder", disse ela. "Não tenho preocupações."

No entanto, depois das dificuldades que ele teve para dar respostas coerentes durante o debate de 90 minutos, as palavras do presidente serão analisadas de perto em busca de deslizes ou erros, assim como sua vitalidade. Uma entrevista à rede de TV americana "ABC" não ajudou muito a aliviar as ansiedades.

Falando sobre o desempenho de Biden no debate, James Townsend, um conselheiro sênior do Scowcroft Center for Strategy and Security, disse que "haverá alguns elefantes na sala, e esse é um deles".

Questionado na semana passada sobre a aptidão física de Biden para o cargo, um funcionário de alto escalão do governo elogiou o histórico do presidente e suas relações transatlânticas de longa data.

"Líderes estrangeiros têm visto Joe Biden de perto e pessoalmente nos últimos três anos. Eles sabem com quem estão lidando e, você sabe, eles sabem como ele tem sido eficaz", disse o funcionário a repórteres durante uma teleconferência na sexta-feira, destacando que o presidente apoia a Otan e "se levantou contra a agressão sem precedentes do presidente [russo] [Vladimir] Putin contra a Ucrânia".

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, argumentou que não houve necessidade de Biden tranquilizar os aliados após o debate. "Não estamos captando nenhum sinal disso de nossos aliados", disse. "Ao contrário, nas conversas que estamos tendo com eles antecipadamente, eles estão empolgados com esta cúpula. Eles estão empolgados com as possibilidades."

Kirby também disse que haveria anúncios nesta semana sobre capacidades de dissuasão no que se refere à Ucrânia e a toda a aliança. Também disse que haveria anúncios sobre a base industrial de defesa e sobre o caminho da Ucrânia para entrar na Otan no futuro.

Apesar do enorme esforço de controle de danos pela Casa Branca, incluindo uma rara entrevista na TV, Biden tem enfrentado pressões para desistir da candidatura à reeleição. Pelo menos dez democratas da Câmara dos Deputados fizeram pedidos públicos e privados para o presidente se retirar da disputa, somando-se a um coro de doadores e representantes do partido que já expressaram receios. Esses clamores podem ficar mais volumosos nesta semana, quando os parlamentares estarão de volta a Washington pela primeira vez desde o debate.

Até agora, o presidente tem se mostrado desafiador diante das críticas, tendo divulgado uma carta na segunda-feira e ligado para o programa "Morning Joe" da rede de TV "MSNBC", para argumentar que tem o apoio dos eleitores e que está comprometido em continuar na corrida. Uma pesquisa recente do “The Wall Street Journal” mostrou que 80% dos eleitores acreditam que Biden está velho demais para concorrer a um segundo mandato.

Biden citou seu histórico de política externa como uma razão pela qual deveria continuar sendo o candidato de seu partido.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante evento de campanha em Wisconsin — Foto: Mustafa Hussain/Bloomberg

"Eu expandi a Otan. Eu a solidifiquei", disse Biden na "MSNBC". "Eu assegurei que estejamos numa posição na qual temos uma coalizão de pessoas, de nações ao redor do mundo para lidar com a China, com a Rússia. Com tudo o que está acontecendo no mundo. Estamos fazendo um progresso real."

Alguns líderes da Otan não estão convencidos. O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, fez um alerta a Biden na rede social X (Twitter) após o debate:

"Marco Aurélio foi um grande imperador, mas ele errou em sua sucessão ao passar o bastão para seu filho irresponsável Cômodo (sim, o do filme "Gladiador"). Cujo governo desastroso deu início ao declínio de Roma", escreveu Sikorski. "É importante administrar a própria jornada para o pôr do sol."

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, durante entrevista coletiva no dia 5 de julho, foi evasivo diversas vezes diante das perguntas sobre a saúde e capacidade de Biden.

"Eu tive e continuo tendo uma relação de trabalho muito boa com o presidente Biden e saúdo seu forte comprometimento pessoal com a aliança e a liderança da Ucrânia", disse Stoltenberg.

O desempenho de Biden no debate levou os aliados dos EUA a questionarem se agora precisam se preparar para o cenário cada vez mais provável de um segundo mandato de Trump. Há uma crescente tensão entre os europeus quanto ao que o retorno de Trump significaria para a Otan, tendo em vista as frequentes críticas do ex-presidente à aliança transatlântica.

Na reunião de cúpula desta semana, é provável que os líderes da Otan reafirmem o objetivo de longo prazo de levar a Ucrânia para a aliança. Trump, por outro lado, culpa as promessas ocidentais de incluir a Ucrânia na aliança por ter provocado a invasão do país pela Rússia. Durante debate com Biden, Trump disse que, se eleito em novembro, resolveria a guerra antes mesmo de tomar posse no dia 20 de janeiro. Ele não deu mais detalhes sobre o plano.

O contraste entre os pontos de vista de Trump e Biden estará em nítido destaque.

"Tudo o que o presidente faça agora, cada momento é decisivo", disse Heather Conley, presidente do centro de estudos German Marshall Fund. "Pelo país e pela segurança nacional dos EUA, o presidente precisa ter um desempenho forte."

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