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Por , Para o Valor — Buenos Aires


Apesar da economia em recessão — o PIB se contraiu 1,6% e 5,1% no quarto e no primeiro trimestre, respectivamente — empresários argentinos mantêm a convicção de que não há alternativas ao caminho traçado pelo presidente de extrema direita Javier Milei.

“Os números são ruins, a recessão é forte, mas Milei está fazendo tudo que o país necessita para equilibrar sua economia e preparar as bases para o crescimento”, disse ao Valor um dos empresários mais influentes e poderoso da Argentina que prefere manter o anonimato. Presidente de companhias imobiliárias, agronegócios, banco, entre outras atividades, ele afirmou que o apoio a Milei “é mais forte do que muitos imaginam”.

Para o empresário, não há outra maneira para estabilizar, sanear e recuperar a economia argentina. “Já tentamos outros caminhos e não funcionou, agora temos que apoiar e esperar com paciência, pois tudo vai se normalizando aos poucos e a aprovação da Lei de Bases e o Rigi [Regime de Incentivos a Grandes Investimentos] vai atrair investimentos”, afirmou, referindo-se as primeiras medidas legislativas propostas pelo governo Milei que passaram pelo Senado e devem ter a aprovação final da Câmara dos Deputados nesta semana.

O setor de obras públicas foi um dos mais atingidos pela política de austeridade de Milei. Em seis meses o setor perdeu cerca de 100 mil empregos diretos com a paralisação de 3.500 obras públicas, com algumas sem receber nenhum recurso desde novembro, segundo Gustavo Weiss, presidente da Câmara Argentina de Construção (Camarco), que ontem realizou seu evento anual em Buenos Aires. A dívida do Estado com o setor, citada por Weiss, equivaleria a cerca de US$ 300 milhões, pela cotação do dólar usada em transações financeiras. Em abril, o setor sofreu um colapso de 37,2% e acumula perda de 32%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec). Em relação a março, houve uma leve melhora de 1,7%.

Mas o secretário de Obras Públicas, Luis Giovine, antecipou no evento que serão retomadas apenas 15% das obras paralisadas. Cerca de 2.000 obras permanecerão paradas, serão suspensas permanentemente ou transferidas para as províncias.

“A crise e a decisão de frear as obras foi um duro golpe e a situação ainda não mudou”, disse Weiss. “A falta de clareza das medidas econômicas e a alta inflação condenou o setor a paralisar as obras, desde o ultimo governo. O golpe mais forte foi a paralisação total das obras inclusive as que contam com investimentos multilaterais”, prosseguiu. “Obra pública não é gasto, mas investimento. É parte da solução”, afirmou.

“Esperamos que abril tenha sido o fundo do poço e comecemos a recuperar. O dado anual sugere que recuperamos um pouco no mês passado. Se no próximo mês seguirmos nos recuperando será um indício positivo”, disse Weiss, na presença do ministro da Economia, Luis Caputo — que faria o discurso de encerramento do evento.

Apesar de considerar que a Argentina está no único caminho possível, o presidente da Camarco fez críticas à falta de medidas que gerem crescimento. “Tudo indica que a aprovação da lei de bases e outras leis são parte da segunda etapa do plano econômico. Até agora aqui há um plano de ajuste”, disse Weiss.

A expectativa é de que a lei de bases seja aprovada nos próximos dias e os investidores se sintam mais encorajados a investir no país. Porém, analistas presentes no evento não se mostraram tão otimistas com os potenciais efeitos das leis propostas pelo governo Milei. O cientista político e pesquisador principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e Andrés Malamud, por exemplo, disse que nenhuma lei mágica fará a transição do ajuste para o crescimento.

“A lei de bases é mais importante pelo que evitou do que pelo que possa impulsar. Evitou a ingovernabilidade, mostrou aos mercados que Milei pode aprovar leis. Agora, o desenvolvimento não depende de uma lei, depende de investimentos”, ponderou.

A esperança de Milei é o Rigi, avalia Malamud, um mecanismo de incentivo para grandes investimentos externos. Mas o objetivo não é só atrair investimentos a setores específicos, mas a estabilização da macroeconomia, explica ele. “Se houver entrada de dólares, haverá recursos para concessão de crédito. Então, o Rigi tem, primeiro, o objetivo de atrair investimentos e, segundo, de promover a estabilização macro.”

A Argentina precisa de uma taxa de investimento de 26% por ano, do qual, um terço seria de investimento estrangeiro direto e o restante com a repatriação de recursos dos argentinos por meio de uma nova lei de incentivo fiscal, nas contas do analista. “Ninguém sabe quanto tempo vai levar esse processo, nem se os argentinos vão acreditar o suficiente no governo para investir em ativos argentinos”, afirmou. Pelo menos, acrescentou, o governo começou a reconhecer que esse processo levará no mínimo um ano e que a recuperação começará ser sentida em 2025.

A convenção também teve a presença de governadores como o de Córdoba, o peronista Miguel Llaryora, que disse ao Valor que as políticas de ajustes de Milei não são sustentáveis. “Estou aqui apoiando o setor da construção”, afirmou. “Sabemos que temos de fazer mudanças e precisamos reativar a produção de um modo urgente, porque um plano fiscal não se mantém sem plano produtivo, não é sustentável”, disse.

O economista Emmanuel Álvarez Agis, ex-vice-ministro de Economia do atual governo, observa que o governo de Milei pede ao setor privado que financia suas próprias obras de infraestrutura necessárias para sua atividade, mas em um contexto de baixo financiamento e de curto prazo. Segundo ele, apesar das leis que se discutem no Congresso e do plano de ajuste que agrada os mercados, falta financiamento devido à falta de confiança na Argentina e as variáveis macroeconômicas negativas, especialmente a inflação. Embora a variação mensal tenha baixado, nos últimos seis meses, ainda se mantém em níveis elevados, de 4,2% no mês em maio. Agis diz que com esse nível de inflação, o sistema bancário não tem como financiar o setor privado.

Tanto Agis quanto Malamud descartam uma recuperação econômica em forma de um “V”, talvez um “U” ou algo parecido com o símbolo da Nike com uma recuperação lenta e gradual. Ambos também consideram um erro quem especula que a falta de crescimento ou os efeitos do forte ajuste possam colocar o mandato de Milei em risco. Eles lembram que a interrupção do mandato tem custos, pode gerar violência e alimenta incertezas. Além disso, não há alternativas. “Não é que se Milei cair vai aparecer um salvador da pátria. Se Milei não conseguir, não é que de repente vai aparecer alguém dizendo, ‘eu tenho a solução’”, disse Malamud.

O ministro Caputo fechou a convenção acenando aos empresários com uma drástica redução de impostos. “Claro que gostaríamos de baixar impostos, mas se fizermos isso teríamos déficit. Por isso pedimos que vocês também apostem no modelo e confiem que estamos dedicados a equilibrar a economia e, quando estivermos crescendo, vamos devolver essa arrecadação com redução de 90% da carga tributária”, anunciou. Para isso, Caputo pediu aos empresários que aproveitem o perdão fiscal para repatriar capitais argentinos que se encontram fora do pais.

Javier Milei, presidente da Argentina — Foto: Hollie Adams/Bloomberg
Javier Milei, presidente da Argentina — Foto: Hollie Adams/Bloomberg
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