Questões como escassez hídrica, desmatamento e incêndios florestais sem precedentes tornaram as transformações climáticas uma crise imediata em todo o mundo. No setor privado, à medida que surgem novas exigências regulatórias, as empresas se esforçam para estabelecer compromissos sustentáveis, ao mesmo tempo em que buscam conter custos.
Para gerenciar os riscos do impacto climático no cenário atual, as corporações dividem a avaliação entre riscos físicos, associados a perdas decorrentes de intempéries frequentes e severas ou a alterações ambientais de longo prazo; e os de transição, relacionados a perdas ligadas ao processo de transição para uma economia de baixo carbono, como mudanças de legislação, de tecnologia e até de comportamento das pessoas e do mercado.
Contudo, onde há riscos também há oportunidades, segundo comenta Marcelo Sarkis, superintendente da área de risco do banco BV. “Temos que conter o aumento da temperatura em todo o mundo, e as empresas estão cada vez mais cientes de que, para isso, é preciso acompanhar e medir suas emissões de gás. Portanto, esse panorama também abre novas oportunidades de negócio”, diz.
Neste momento, a atenção das organizações está voltada a promover ações para mitigar os efeitos de suas produções no clima, o que ainda é um grande desafio. Por outro lado, o Brasil pode ser o principal país do mundo a fazer a transição para uma economia verde com baixos custos, de acordo com o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani. “Nossa matriz energética é limpa e não dependente de petróleo ou carvão, como é o caso da China e da Europa. Assim, conseguimos ter uma economia verde com custos mais baixos, movimento que já tem sido sinalizado pelo governo, com a criação de instrumentos para incentivar essa transição”, afirma.
Mesmo diante desse grande potencial, o país já vem enfrentando prejuízos. Segundo dados de 2023 do Banco Mundial, o Brasil já tem perdas relacionadas a eventos climáticos físicos que somam R$ 13 bilhões. No entanto, em todo o mundo, também vêm ocorrendo mudanças regulatórias que podem apoiar a contenção desse cenário. Um exemplo é a lei antidesmatamento aprovada pela União Europeia, que entrou em vigor em outubro deste ano, trazendo restrições para a exportação de alguns tipos de produtos, como soja e carne bovina.
“Isso mostra como a política externa tem usado seu mercado consumidor para influenciar a adoção de critérios socioambientais mais rigorosos ao redor do mundo. O impacto na economia pode ser tanto extremamente positivo quanto destrutivo, a depender da rapidez de adequação do mercado”, ressalta Sarkis.
Em 2025, o Brasil sedia a COP30 (cúpula do clima da ONU) e a expectativa é de que esse debate avance ainda mais. “Estamos vendo uma mudança cultural rápida e um avanço político importante; assim os próximos dois anos serão marcados pela oportunidade de realizarmos essa transição no país, que deverá ser um player significativo no mundo”, complementa Sarkis.
O papel das empresas
Com a agenda ESG cada vez mais ganhando força nas organizações, o mercado de carbono é hoje um dos instrumentos que podem contribuir com o controle climático e, ao mesmo tempo, com as oscilações no ambiente corporativo. De um lado, as empresas podem desenvolver projetos próprios de redução ou captura de emissões de carbono e, do outro, podem adquirir os créditos de carbono de organizações que contam com esses projetos.
“O mercado de carbono pode ajudar a coordenar as ações para enfrentar a questão climática e cumprir os compromissos ambientais”, comenta Patrícia Morita, da área de sustentabilidade do banco BV.
No caso do BV, o banco assumiu compromissos voluntários com a sustentabilidade. Entre eles está compensar as emissões dos veículos que financia adquirindo créditos de carbono. O projeto, iniciado em 2021, já compensou as emissões de mais de 1,8 milhão de veículos. Outro compromisso da instituição é financiar e distribuir R$ 80 bilhões para fomentar negócios ESG até 2030.